Desemprego sobe, mas desaquecimento da economia ainda é dúvida

Segundo técnicos, mercado de trabalho teve comportamento normal para o período

 

São Paulo – A taxa de desemprego calculada em sete regiões pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo, subiu em março para 11,2%. O comportamento é visto pelos técnicos como normal para o período. “É um movimento típico, sazonal”, diz o economista Sérgio Mendonça, do Dieese. Por outro lado, observa, é preciso aguardar mais dois ou três meses para analisar o grau de desaquecimento da economia e até que ponto isso atingirá o mercado de trabalho. Apesar da alta, a taxa é bem menor que a de março do ano passado (13,4%), repetindo resultado dos meses anteriores.

Os 11,2% correspondem a uma estimativa de 2,451 milhões de desempregados, 133 mil a mais do que em fevereiro. Na comparação com março de 2010, são 492 mil desempregados a menos (-16,7%). Ainda na comparação anual, a população economicamente ativa (PEA) ficou praticamente estável (-0,3%, ou 5 mil pessoas a menos), deixando de pressionar o mercado, que criou 486 mil (alta de 2,6%).

Entre os setores pesquisados, todos tiveram queda na ocupação em março, com destaque para o fechamento de 56 mil vagas nos serviços e de 52 mil no comércio. Percentualmente, as maiores quedas (ambas -2,4%) foram da construção civil (-31 mil) e do segmento “outros” (-37 mil), que abrange principalmente o serviço doméstico. Já na comparação com março de 2010, apenas o grupo “outros” caiu (-4%, ou menos 63 mil vagas). O setor de serviços criou 367 mil ocupações, crescimento de 3,6%, e a indústria, 91 mil, alta de 3,1%. O emprego com carteira assinada subiu 5,4% em 12 meses, o equivalente a 485 mil vagas a mais.

Os sinais de menor fôlego estão na ocupação, com três quedas seguidas na comparação mensal. Também perdeu o ritmo na variação anual, com seis desacelerações seguidas. Em março, por exemplo, a ocupação em 12 meses teve alta de 2,6%, mas esse número já foi de 4,7% em setembro. Desde então, só diminuiu. Mas Sérgio Mendonça avalia que ainda é cedo para tirar conclusões sobre o comportamento do mercado em 2011. “A gente ainda não sabe o tamanho do desaquecimento da economia”, observa.

Para ele, uma garantia de que o crescimento vai continuar está justamente no rendimento, que sustentará o consumo. “Será um colchão de sustentação. Esse é o nosso grande trunfo para dizer que a economia continuará crescendo em 2011.”

Na comparação mensal, o rendimento médio dos ocupados (R$ 1.377) recuou 0,8%, enquanto a massa de rendimento recuou 1,6%. Mas em 12 meses a renda sobe 5,1% e a massa, 8,1%.

O coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian, considera absurdo dizer que os salários contribuem, de alguma maneira, para a inflação. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o rendimento de fevereiro é menor que o de igual mês de 2001. “Dizer que os salários estão altíssimos e comprometem o poder de competitividade da indústria brasileira é, no mínimo, mais um mito”, afirma. “Em 2010, o rendimento cresceu pela primeira vez na década.”

Em São Paulo, a taxa subiu para 11,3%, ante 10,6% em fevereiro. Também ficou bem abaixo de igual mês de 2010 (13,1%) e é a menor para março desde 1990 (9,3%).

A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) é realizada mensalmente no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo. Em três, a taxa média de desemprego está abaixo de dois dígitos: Porto Alegre (7,4%), Belo Horizonte (8,5%) e Fortaleza (9,3%). Em Recife, a taxa caiu 28% em 12 meses e chegou a 13,9% no mês passado.