Brasil precisa incluir questões sociais na hora de pensar economia, diz Pochmann

Presidente do Ipea critica cobertura da mídia que se preocupa apenas com urgências, como se país tivesse economia de pronto-socorro

Pochmann: “É inaceitável que estejamos pensando em ser a quinta (maior) economia mundial com problemas sociais do século passado (Foto: Ricardo Mansho/Divulgação)

São Paulo – O Brasil tem a possibilidade de se tornar uma liderança mundial diante das transformações por que passa a economia internacional, segundo Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Durante seminário realizado na capital paulista nesta sexta-feira (8), ele criticou a cobertura da mídia, que trata o cenário econômico nacional como se fosse um “pronto-socorro”.

Ele abriu o seminário “Rumos da Economia no Brasil”, organizado pela revista Brasileiros, como parte de uma série de eventos temáticos semelhantes. Pochmann defendeu a discussão e a adoção de um modelo de desenvolvimento que garanta a superação de problemas sociais que ainda persistem. “É inaceitável que estejamos pensando em ser a quinta (maior) economia mundial com problemas sociais do século XIX”, criticou.

Ao mesmo tempo, lembra o economista, o desenvolvimento representa uma transformação estrutural, com possibilidades de o país se tornar uma liderança internacional. Isso ocorre especialmente porque se projeta uma perspectiva de um mundo multipolar, com vários países puxando o crescimento econômico. “Não está definido como vai ser, mas é certeza de que os Estados Unidos não vão puxar crescimento. A China vai atender por parte disso, mas há espaço para o Brasil responder por outra parcela, como liderança sul-americana”, opinou.

Bom sinal

“Debater quais são os caminhos do desenvolvimento é um bom sinal, porque em décadas passadas havia só uma via, que era a do Consenso de Washington”, elogiou. O economista lembrou que a agenda neoliberal começou a ser aplicada na década de 1970 e expandiu-se até tornar-se praticamente única no mundo.

A doutrina atribuía exclusivamente a agentes de mercado a busca do desenvolvimento, sem qualquer papel para o Estado. Na terça-feira (5), o diretor geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss, um dos órgãos que difundiram políticas alinhadas a esses princípios, admitiu que o Consenso de Washington é passado.

O presidente do Ipea distribuiu elogios ainda às medidas adotadas pelo governo federal em 2008 e 2009 para conter o impacto da crise financeira internacional. Nesse contexto, disparou críticas à cobertura da mídia. “A imprensa discute só as emergências da economia, como se fosse um país de pronto-socorro”, alfinetou.

Ele referiu-se a gargalos e problemas pontuais que prejudicam o crescimento de determinados setores. “É evidente que é relevante a discussão sobre esses pontos, porque envolvem decisões do dia a dia, mas são ierrelevantes neste momento em que miramos soluções de médio e longo prazos”, avaliou.

Educação para o futuro

Os investimentos em educação e formação foram também temas tratados por Pochmann no evento. “O conhecimento passou a ter um caráter estratégico, e não só crianças e jovens estudam. O Brasil precisa pensar que adultos precisam estudar a vida toda”, opinou. Ele acredita que é necessário investir para melhorar o sistema universitário e diminuir evasão.

“O país precisa reprogramar políticas públicas para o cenário demográfico que se coloca em 2030”, apontou. Para aquela década, espera-se um envelhecimento da população, com natalidade menor e uma estrutura de pirâmide etária semelhante à encontrada atualmente em países europeus. “Uma população mais velha e menos alunos nas escolas será uma situação inédita, e é preciso pensar como lidar com isso”, sustentou.