Em entrevista, Dilma promete não abrir mão do crescimento para combater inflação

A presidente suspeita que parte das críticas a Alexandre Tombini, presidente do BC, tenham relação com o fato de que “não tem gente do mercado na sua diretoria” (Foto: Roberto […]

A presidente suspeita que parte das críticas a Alexandre Tombini, presidente do BC, tenham relação com o fato de que “não tem gente do mercado na sua diretoria” (Foto: Roberto Stuckert Filho/Pr – Arquivo)

São Paulo – O controle da inflação e o compromisso de não esfriar a economia são dois pilares dos quais a presidenta Dilma Rousseff garante não abrir mão durante sua gestão. Em entrevista ao jornal Valor Econômico nesta quinta-feira (17), ela afirmou que não há incompatibilidade entre controle de alta de preços e crescimento e nem deste último com corte de gastos públicos.

“Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil”, vaticinou. Mais adiante, deixou claro: “É compatível segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável para o país. Caso contrário, é aquela velha tese: tem que derrubar a economia brasileira”. A alusão é ao princípio de ajustes fiscais realizados na década de 1990, especialmente os realizados durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Dilma sustenta que não vê pressões inflacionárias de demanda, quer dizer, maior aumento da procura por bens de consumo do que da oferta. “Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu”, pontuou. Ela citou ainda reajustes sazonais, como de material escolar e transportes urbanos.

Ajuste fiscal

“Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano”, apostou. Em 2010, o país viu sua economia avançar 7,5%, mas deve reduzir o ritmo já neste ano, segundo diversos analistas, mesmo os ligados ao mercado financeiro. Para Dilma, o corte no Orçamento Geral da União (OGU), anunciado em fevereiro, de R$ 50 bilhões, não é incompatível nem é anulado por ações voltadas à expansão do nível de investimento, como os R$ 55 bilhões repassados para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para a presidenta, o país vive um momento de “consolidação fiscal”, e o corte é necessário nesse contexto. “É como cortar as unhas”, comparou. “Na verdade, temos que fazer isso (ajuste fiscal) todos os anos, pois se você não olhar alguns gastos, eles explodem. Se libera os gastos de custeio, um dia você acorda e ele está imenso. Então, você tem que cortar as unhas, sempre”, insistiu.

Banco Central

Dilma reafirmou o compromisso em manter a autonomia da autoridade monetária. A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) foi vista por analistas ligados a bancos e alinhados ao mercado como um sinal de interferência do Palácio do Planalto na instituição. O documento defendia que as pressões inflacionárias estavam diminuindo, embora os economistas do mercado discordem.

“O mercado acerta, erra, acerta, erra, acerta”, alfinetou. “Não acho que temos que desconsiderar o mercado, não. A gente tem que sempre estar atento à opinião dele, que integra um dos elementos importantes da realidade. Um dos principais, mas não o único”, sublinhou.

A presidente suspeita que parte das críticas a Alexandre Tombini, presidente do BC, tenham relação com o fato de que “não tem gente do mercado na sua diretoria”. Desde a criação da instituição, em 1964, e principalmente nas últimas duas décadas, parte dos cargos de direção do banco – cujos titulares participam das reuniões do Copom – são originários de bancos.

Apesar de o cenário atualmente ser diferente, Dilma negou que haja impedimentos para que, eventualmente, um economista forjado em estruturas de grandes bancos possam ocupar cargos no BC. “Desde que seja um nome bom, ele pode vir de onde vier”, resumiu. Ela garantiu que nem ela nem o BC nem o Ministério da Fazenda tergiversam com a inflação. “O Banco Central tem autonomia para fazer a política dele e está fazendo”, disse.