Para Copom, cenário internacional torna ‘imprevisível’ a duração das pressões inflacionárias

Aposta que medidas restritivas de crédito ainda podem ter mais efeitos faz analistas começarem a apostar em menores aumentos de juros

(Foto: Divulgação/BC)

Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reconhece que as incertezas do cenário mundial e, em menor escala, também do cenário doméstico, “não permitem identificar com clareza” a durabilidade das pressões inflacionárias recentes. É o que diz a ata da reunião que o Copom realizou na semana passada, quando elevou a taxa básica de juros (Selic) de 11,25% para 11,75% ao ano, divulgada nesta quinta-feira (10).

Em vista disso, o colegiado de diretores do BC avalia que “o cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente”. Porém, a expectativa de que as medidas de restrição ao crédito e o próprio aumento de juros ainda vão surtir mais efeito permite a analistas começar a apostar no fim das elevações da Selic. Nas duas últimas reuniões, ambas sob o governo Dilma Rousseff, o comitê aumentou os juros.

Ainda assim, a ata sinaliza que “prevalece nível de incerteza acima do usual” na economia e identifica “riscos elevados” à concretização de um cenário em que a inflação retorne à trajetória do centro da meta a curto ou médio prazo.

O Copom, no entanto, destacou as “ações macroprudenciais” implantadas, como restrições ao crédito, por exemplo. Essas medidas são apresentadas como instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda. “Ações convencionais de política monetária ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços”, projeta.

 “O BC ainda está apostando alto no efeito das medidas macroprudenciais, afirmando que um efeito maior ainda está por vir, o que tornaria desnecessário um aumento muito maior da Selic”, disse Homero Guizzo, economista da LCA Consultores.

A mediana das projeções de analistas consultados pelo BC para o relatório Focus é de que o juro acabe o ano a 12,50 por cento, implicando uma alta de mais 0,75 ponto na Selic em 2011.

Instabilidade internacional

A ata destaca que desde a reunião do Copom, em janeiro, ocorreram fatores externos (levantes políticos no norte da África e no Oriente Médio) que refletiram nos preços de ativos no mercado interno, o que aponta menor reversão do processo inflacionário. Isso, apesar de a equipe econômica do governo ter adotado medidas para o início de um processo de consolidação fiscal.

O documento lembra que no último trimestre de 2010 a inflação foi influenciada pela dinâmica dos preços de alimentos. A isso se somaram efeitos sazonais característicos da inflação nos primeiros meses do ano, como cobranças de impostos, matrículas e material escolar. O Copom pondera, porém, que esses efeitos tendem a diminuir ao longo do ano, com reflexos menores nos últimos meses de 2011.

Gasolina e gás de cozinha

O Copom manteve a projeção anual de 4% para os reajustes totais dos preços administrados por contrato ou monitorados (combustíveis, energia elétrica, água, telefonia, saneamento, transporte público e outros).

De acordo com a ata da reunião, o comitê estima que não haverá inflação nos preços da gasolina e do gás de cozinha neste ano. Mas, na prática, o consumidor já está pagando mais para encher o tanque do carro, como reflexo do aumento dos preços internacionais do petróleo, decorrente da instabilidade política em países fornecedores do produto, no Norte da África e no Oriente Médio.

O Copom manteve também as projeções de reajustes acumulados de 2,9% para as tarifas de telefonia fixa e de 2,8% para o alinhamento de preços no fornecimento de energia elétrica. O conjunto de preços administrados equivale a 29% em média do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de parâmetro para as correções oficiais. Em janeiro, teve peso de 28,90% no total do IPCA.

O cenário de referência para os preços administrados leva em conta as hipóteses de manutenção da cotação do dólar norte-americano em R$ 1,65 e o superávit primário (economia para pagamento dos juros da dívida) de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezas e serviços produzidos no país. Essas projeções já incorporam os efeitos estimados do aumento do compulsório bancário.

Com informações da Agência Brasil e Reuters