Sojicultores de MT apostam em redução de uso de transgênicos

Sementes convencionais, que corriam o risco de desaparecer do estado, são retomadas por renderem preços melhores no mercado europeu

Mudança no mercado oferece oportunidade para produtores brasileiros se dedicarem a variedadades não modificadas geneticamente (Foto: Embrapa/Divulgação)

São Paulo – Produtores de soja de Mato Grosso decidiram reduzir a dependência em relação às sementes geneticamente modificadas. Foi lançado nesta semana, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), um programa de distribuição de sementes convencionais, para garantir as possibilidades de exploração de segmentos do mercado internacional abertos exclusivamente para variedades não transgênicas.

O Soja Livre começa com a implantação de unidades de demonstração de 18 variedades convencionais em todo o estado, um dos principais celeiros de soja do país. Como as sementes geneticamente modificadas vinham tendo ampla utilização entre os produtores, as variedades convencionais corriam o risco de desaparecer, seja pela contaminação de lavouras, seja pela falta de fornecedores. As grandes empresas nacionais do segmento quebraram ou foram absorvidas por grupos estrangeiros.

A medida parte de uma oportunidade financeiramente interessante para produtores. Há nichos de mercado – cada vez maiores, segundo técnicos da Embrapa – que exigem comprar a soja que não tenha alteração genética, em especial na Europa. “Todo mundo começou a focar no transgênico porque não tinha um mercado que valorizasse o convencional”, relembra Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). “Agora, com esse mercado valorizado, começa a ser vantajoso voltar a produzir (a variedade sem modificação genética”, avalia.

Em média, a saca de 60 quilos de soja convencional US$ 2 a mais do que a transgênica – a avaliação da saca varia bastante, entre R$ 35 e R$ 60. Além disso, entidades como a Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange), apoiadora do Soja Livre, premiam os produtores que optam pelo cultivo tradicional. No Paraná, foi esta a maneira encontrada para proteger os produtores convencionais, que recebem R$ 1 a mais por saca. “Existe uma demanda dos próprios agricultores por mais opções de variedades convencionais. Com isso, a Embrapa volta ao mercado de Mato Grosso, do qual ficamos fora durante muito tempo”, afirma Lineu Domitti, chefe de comunicação e negócios da Embrapa matogrossense.

A médio prazo, a estatal espera que os próprios agricultores voltem a ter seus bancos de sementes, revertendo a atual escassez do estado. Os produtores terão, neste ano, acesso aos diversos tipos de cultivares para que decidam qual caminho pretendem seguir. Assim, olhando o desempenho das áreas de demonstração criadas no campo, cada um pode avaliar fatores que influenciam a produção, como adaptação ao clima, ocorrência de doenças e ciclo de cultivo.

A Aprosoja estima que, embora os transgênicos tenham avançado rapidamente ao longo da década,  35% da soja produzida no país ainda é convencional, um cenário que pode ser único no mundo atualmente. Países como a Argentina e os Estados Unidos praticamente só cultivam transgênicos. “A tendência no mercado, antes, seria extinguir as convencionais. Agora, não, isso é valorizado. Mas queremos deixar claro que quem incentiva a mudança é o mercado e que os produtores devem ter direito à opção”, ressalva o presidente da associação.

Na outra mão, a avaliação é de que a transição da produção de geneticamente modificada para regular não é muito complexa no caso da soja. Em outros cultivos, em especial o milho, o normal seria que o produtor cumprisse uma espécie de quarentena, deixando de produzir por algum tempo para que suas terras deixassem de ter plantas transgênicas. No caso da soja, como não há fecundação cruzada (entre as plantas), a tarefa é mais fácil, não havendo necessidade de tal período de descontaminação.

Leia também

Últimas notícias