Copom mantém taxa básica de juros em 10,75% ao ano

Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) definiu nesta quinta-feira (2) que a taxa básica de juros (Selic) deve permanecer no patamar de 10,75% ao […]

Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) definiu nesta quinta-feira (2) que a taxa básica de juros (Selic) deve permanecer no patamar de 10,75% ao ano, em vigor desde 21 de julho. Com isso, o colegiado finalizou o processo de aperto monetário adotado nas três últimas reuniões, quando elevou a taxa de 8,75% para 9,50%, em abril, depois para 10,25%, em junho, e para 10,75%, em julho.

A decisão do Copom – tomada por unanimidade – veio em sintonia com as expectativas da maioria dos analistas financeiros, que, há duas semanas, alegam haver condições favoráveis no mercado para o BC encerrar o ciclo de ajustes da Selic. O principal motivo apontado pelo mercado é a inflação ter entrado em declínio nos três últimos meses. Além disso, argumentaram os analistas, não existem sinais de pressão de preços no horizonte, a médio prazo. As projeções de inflação para o final do ano têm caído gradativamente e já se aproximam do centro da meta de 4,5%.

Segundo o boletim Focus, divulgado pelo BC na última segunda-feira (30), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de parâmetro para as correções oficiais, deve encerrar 2010 em 5,07%. Apesar de o crescimento interno continuar sólido, com expansão da renda e do crédito, o comportamento mais ameno da inflação contribuiu para o fim do processo de alta da taxa Selic, de acordo com o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.

Há, no entanto, quem acompanhe a cena econômica com alguma desconfiança, como a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli. Embora admita que todas as sinalizações de mercado apontavam para uma tendência de manutenção do nível atual da Selic, antes mesmo da decisão do Copom, Maristella considera que o ritmo de reajustes de preços dos gêneros alimentícios pode voltar a aumentar já neste mês. A economista acredita que haverá pressão inflacionária, por causa dos reajustes salariais programados para os próximos meses.

A medida

Para o chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, Samuel de Abreu Pessoa, “faz todo o sentido” a manutenção da taxa de juros básica Selic em 10,75% ao ano.

Na avaliação do economista da FGV, o cenário estava muito indefinido, o que justificou manter a taxa no atual patamar. Pessoa observou, olhando o período antes da crise, que “é uma taxa ainda baixa para estabilizar a inflação”. De lá para cá, muita coisa mudou, tanto no mundo como no Brasil. “E a impressão que todo mundo tem é que a taxa de juros no Brasil está em processo de queda”.

A taxa de 8,75%, vigente antes do início do processo de elevação dos juros, era baixa demais, afirmou o economista. “Com aquela taxa, a economia ia entrar em um ciclo inflacionário forte”. Disse, entretanto, que a desacelerada da economia registrada no segundo trimestre deste ano, não está associada à elevação dos juros para 10,75% ao ano.

“O que o Copom fez foi sair de um nível muito baixo, subiu e, agora, vai ver como a economia reage, para saber se vai ter que subir mais, ficar parado, ou até descer. Porque ninguém sabe hoje para que nível a nova taxa de juros de equilíbrio da economia brasileira foi”.

Pessoa acredita que o Banco Central vai aguardar o cenário inflacionário nos próximos um a dois meses para ver que passos deverão ser tomados mais adiante.

Excessivo

Já para a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) a política de juros adotada nos últimos meses pelo Comitê de Política Monetária (Copom) foi equivocada. Segundo a entidade, a aceleração da inflação que motivou a elevação dos juros até o patamar atual era um efeito sazonal causado, inclusive, pelas desonerações fiscais concedidas como medidas para combater a crise financeira mundial.

“Tivemos uma desnecessária alta de juros e, agora, essa tendência é suspensa pelo organismo do Banco Central. Restam os ganhadores e os perdedores de sempre. Ganharam os que recebem rendimentos financeiros e perderam os consumidores e empresas que pagam mais pelo crédito utilizado para fazer o país crescer, gerando emprego e renda”, disse por meio de nota o presidente em exercício da Fiesp, Benjamin Steinbruch.