Para ex-assessor do BNDES, crise financeira mostrou papel fundamental do banco

São Paulo – Ex-assessor da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Carlos Prado entende que é natural que o banco concentre seus desembolsos em algumas […]

São Paulo – Ex-assessor da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Carlos Prado entende que é natural que o banco concentre seus desembolsos em algumas das maiores empresas do Brasil, mas discorda que os beneficiados sejam sempre os mesmos.

Ele afirma que a destinação dos recursos depende da demanda de setores que estejam crescendo e que estejam no centro das prioridades do Estado.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista à Rede Brasil Atual.

Quais foram as principais mudanças no desempenho do BNDES ao longo desta década?A transformação principal foi no montante dos recursos ou na destinação deles?

Luiz Carlos Prado – É importante entender o papel que o BNDES teve na história do Brasil desde os anos 1950. O BNDES surgiu porque o Brasil tinha dificuldade de financiar investimento de longo prazo. O setor bancário brasileiro, historicamente, cumpre a função de financiar capital de giro, mas não investimento. Para financiar investimento, até os anos 1950, precisava basicamente de recursos externos.

“Durante a década de 1990, funcionou como banco de privatização, estava muito voltado às tarefas de viabilizar a reforma do Estado. Superada esta fase, com a necessidade de retomar investimentos de longo prazo, o BNDES vai ser fundamental para retomar o crescimento sustentável.” – Luiz Carlos Prado

Então, o BNDES sempre cumpriu papéis vinculados às estratégias de desenvolvimento do país. Surge como banco de infraestrutura. No período de Juscelino Kubitschek (governou de 1956-61) vai ser fundamental para o desenvolvimento da indústria de transportes do Brasil.

Durante o chamado milagre econômico, no governo militar (1964-1985), (o banco) vai ter um papel fundamental para a expansão da indústria de bens de consumo duráveis do país, também em várias áreas de infraestrutura e indústrias de grande porte.

“O BNDES sustentou a oferta de recursos no momento em que outras instituições privadas não tinham condições de fazê-lo. É uma das explicações do porquê a crise no Brasil ter sido suave.” – Luiz Carlos Prado

Durante a década de 1990, funcionou como banco de privatização, estava muito voltado às tarefas de viabilizar a reforma do Estado. Superada esta fase, com a necessidade de retomar investimentos de longo prazo, o BNDES vai ser fundamental para retomar o crescimento sustentável.

Falando mais um pouco sobre a crise de 2008 e 2009, qual o tamanho do papel do BNDES?

Luiz Carlos Prado – O papel do BNDES foi na direção inversa do que iriam outras instituições numa situação como aquela. O que cumpre a um banco de fomento é evitar que haja escassez de fundos, mantendo um certo nível de atividade da economia.

“A discussão sobre o custo gerado para o Tesouro para fazer investimentos no BNDES é um equívoco completo. No momento em que você pega os recursos do Estado e põe para se transformar em capacidade produtiva no futuro, tem de levar em conta não apenas as taxas de juros, mas os tributos que serão pagos pelas novas empresas que surgirem e a distribuição de dividendos que o banco faz para a sociedade brasileira.” – Luiz Carlos Prado

O BNDES sustentou a oferta de recursos no momento em que outras instituições privadas não tinham condições de fazê-lo. É uma das explicações do porquê a crise no Brasil ter sido suave.

Nos Estados Unidos, a disponibilidade de recursos para fazer investimentos ainda está restrita, os grandes bancos não retomaram. Mesmo em um país com a pujança dos Estados Unidos, num momento de incerteza, a instituição financeira tende a ser excessivamente cautelosa. Nesse sentido, o banco público é um instrumento fundamental do Estado para evitar que haja crises do gênero.

O BNDES tem esse papel. A discussão sobre o custo gerado para o Tesouro para fazer investimentos no BNDES é um equívoco completo. No momento em que você pega os recursos do Estado e põe para se transformar em capacidade produtiva no futuro, tem de levar em conta não apenas as taxas de juros, mas os tributos que serão pagos pelas novas empresas que surgirem e a distribuição de dividendos que o banco faz para a sociedade brasileira.

Estamos em meio a uma discussão sobre a concentração do capital do BNDES em algumas empresas. Qual sua visão?

O banco, independente do momento atual, como trabalha para viabilizar investimentos, tende a ter ciclos em que determinados setores têm participação maior nos empréstimos realizados. Quando eu estava no banco, havia demanda dos setores de papel e celulose e de petroquímica.

Toda vez que há um ciclo de investimentos em uma área, nesse momento tende a haver uma concentração de empréstimos, mas se for olhar ao longo de um período maior, isso vai se alternando. Não são os mesmos grupos.

O governo Lula sempre teve preocupação muito grande com a internacionalização das empresas brasileiras. O BNDES teve destaque nesta área?
Existem algumas limitações de natureza institucional para o BNDES fazer isso. Por exemplo, os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) não podem ser usados para esse fim porque é preciso gerar empregos dentro do território brasileiro.

Mas o BNDES tem um papel importante no apoio ao aumento das exportações das empresas brasileiras, ou seja, geração de empregos aqui. E nada impede que outros mecanismos ajudem a viabilizar a atuação dessas empresas fora do Brasil.

O BNDES pode ter um papel nisso dentro de suas linhas tradicionais, mas outros bancos podem fazer isso. Diria que é um papel possível, não fundamental.

Pensando no futuro, qual área deve demandar mais recurso do BNDES?
O grande desafio agora é o investimento em infraestrutura de melhoria de condições para a qualidade de vida da sociedade brasileira. Por exemplo, as obras de metrô nas grandes cidades, a expansão das ferrovias, os portos, as estradas.

Mas o BNDES tem um papel fundamental, que é pouco discutido, na área de viabilizar a política industrial. Para investimento em setores pioneiros, como nanotecnologia e o desenvolvimento de áreas eletroeletrônicas