Mais baixos desde 1994, juros ao consumidor chegam a 41,9% ao ano

Segundo o Banco Central, taxas de empréstimos para pessoas físicas caíram 1,1 ponto percentual de janeiro para fevereiro

No cheque especial, segundo o Banco Central, são cobrados 159,5% ao ano (Foto: Zsuzsanna Kilian/Sxc.hu)

São Paulo – As taxas de juros cobradas nos empréstimos para pessoas físicas apresentaram redução de 1,1 ponto percentual na passagem de janeiro para fevereiro e chegaram a 41,9% ao ano. Segundo dados divulgados nesta terça-feira (23) pelo Banco Central, esse é o menor patamar da série histórica iniciada em julho de 1994.

A entidade divulgou ainda que espera que a proporção entre o volume de crédito e o Produto Interno Bruto (PIB), soma de bens e serviços produzidos no país, chegue a 49% no final do ano. Atualmente a relação corresponde a 44,9%.

Em relação aos juros, no caso das empresas, a redução foi de 0,6 ponto percentual, para 25,9% ao ano. A taxa geral anual passou de 35,1%, em janeiro, para 34,3%, no mês passado, o menor nível desde dezembro de 2007.

A taxa de juros cobrada pelo uso do cheque especial também apresentou redução – de 1,6 ponto percentual – para 159,5% ao ano. O crédito pessoal, que inclui operações consignadas em folha de pagamento, teve redução de 1 ponto percentual, para 43,8% ao ano.

No caso dos financiamentos de veículos, a taxa passou de 25,2% ao ano, em janeiro, para 24,1% ao ano, no mês passado.

A redução nas taxas veio acompanhada de queda da inadimplência. A taxa total passou de 5,5%, em janeiro, para 5,3%, em fevereiro deste ano. Para as pessoas físicas, a redução foi de 0,4 ponto percentual e a taxa ficou em 7,2% no mês passado. No caso das empresas, houve ligeira queda, de 0,1 ponto percentual, para 3,7%. Na metodologia do BC, é considerado inadimplência o atraso superior a 90 dias.

O spread geral – diferença entre a taxa de captação e a aplicada na hora de conceder o empréstimo ao tomador final – passou de 25,1 pontos percentuais, em janeiro, para 24,3 pontos percentuais, em fevereiro. Para as pessoas físicas, o recuo foi de 1 ponto percentual, para 30,8 pontos percentuais. No caso das empresas, a redução foi de 0,6 ponto percentual para 16,9 pontos percentuais.

Ao mesmo tempo em que a inadimplência está em queda, o custo de captação de recursos pelos bancos se eleva devido à perspectiva de alta da taxa básica de juros, a Selic. Por isso, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, é preciso esperar para saber o impacto desse cenário nos juros cobrados do consumidor. Atualmente a Selic está em 8,75% ao ano.

Em fevereiro, as taxas cobradas nos empréstimos a empresas e famílias caíram. A queda da inadimplência contribui para a redução dos juros cobrados do consumidor, enquanto o aumento do custo de captação faz com que os bancos cobrem mais caro pelos empréstimos.

“Estamos observando algum movimento de elevação do custo de captação. Um dos aspectos é a expectativa do mercado em relação à taxa de juros básicos. Isso acaba se refletindo no custo de captação dessas instituições financeiras e, sem dúvida, é repassado ao tomador final”, disse Lopes.

Até o dia 10 deste mês, a taxa geral de juros permaneceu em 34,3% ao ano. A taxa para pessoas físicas ficou estável em 41,6% ao ano, contra 41,9% ao ano de fevereiro. Para as empresas, a taxa está em 26,1% ao ano, ante 25,9% ao ano observados no mês passado.

O spread geral, diferença entre a taxa que o banco paga nos investimentos e cobra nos financiamentos, está em 24,1 pontos percentuais, de acordo com os dados preliminares deste mês. Em março, o spread geral ficou em 24,3 pontos percentuais. Para as pessoas físicas, está em 30,4 pontos percentuais, contra 30,8 pontos percentuais registrados em fevereiro. No caso das empresas, o spread foi estável em 16,9 pontos percentuais.

De acordo com Lopes, a inadimplência vem caindo devido às boas perspectivas no mercado de trabalho, com manutenção da renda.

“À medida que as famílias e as empresas têm renda melhorada, com atividade mais elevada, a providência inicial é regularizar a situação e isso possibilita que voltem a captar mais recursos”, afirmou.

Para Lopes, a tendência é de mais redução da inadimplência, principalmente, para as empresas. “A taxa de inadimplência para pessoa jurídica é razoavelmente baixa, mas foi aquela que teve impacto maior durante o período de crise. É exatamente para esse segmento que se espera uma retração ainda maior daqui para frente”, disse.

Volume de crédito

A respeito do montante de empréstimos bancários, O volume total das operações do sistema financeiro ficou em R$ 1,435 trilhão em fevereiro, com expansão de 0,8% na comparação com janeiro. Isso corresponde a 44,9% do PIB, ou seja, praticamente estável comparada a janeiro (45%), entretanto mais alta na comparação com fevereiro de 2009 (40,7%).

A expectativa de crescimento do volume de crédito para o ano é de 20% em relação ao ano passado, a mesma de dezembro. O crescimento projetado para a oferta de crédito tanto de bancos públicos quanto de nacionais privados é de 23%. Na projeção de dezembro, esse crescimento era de 17,1% para os públicos e 20,4% para os privados nacionais. A projeção para os bancos privados estrangeiros é de crescimento de 8%, contra 24,5% previstos anteriormente.

Para Altamir Lopes, a expectativa de crescimento do volume de crédito neste ano não é tão forte a ponto de preocupar, mas também não é fraca, pois deve impulsionar o crescimento econômico. “O crédito vai continuar sustentando a economia a taxas razoáveis que dão uma dinâmica boa para a economia”, afirmou.

Fonte: Agência Brasil