PIB do 3º trimestre indica recuperação mais lenta, diz economista

Analistas avaliam que resultado do PIB no terceiro trimestre trata de conter otimismo que poderia gerar excesso de especulações e divergem sobre projeções futuras

Mantega, ministro da Fazenda, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central: PIB cresceu 1,3% diante de 2008 (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

O anúncio do crescimento de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre mostra que a recuperação da economia está ocorrendo, mas será mais lenta que o esperado. O resultado de R$ 797 bilhões ficou abaixo do projetado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que esperava uma expansão de 2% frente ao segundo trimestre.

No ano, o acumulado é uma queda de 1,2% e agora variam as projeções para o fechamento de 2009, de um pequeno recuo até um avanço de 1%. Além disso, são alteradas as previsões para 2010, para quando se arriscava uma elevação de até 6%. Agora, o patamar de 5% torna-se o teto das análises.

Roberto Macedo, ex-secretário de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda, lembra que, no início da crise econômica, estimava-se que ela faria a economia variar em um gráfico em forma de “V”. Isso quer dizer que haveria uma depressão profunda com rápido retorno ao ponto inicial. Ele pensa que ainda se trata de um V, mas a ascenção ao patamar pré-crise deve ocorrer em um período mais do que o da queda.

“O diagnóstico é o mesmo, mas a velocidade de recuperação é diferente”, explicou em entrevista à Rede Brasil Atual.  “Acho que a crise não foi marolinha, foi bem mais forte. Quando alguém sofre um acidente bem forte, a recuperação é mais lenta”, compara Macedo.

Com isso, a expectativa é de que o quarto trimestre, que seria de assegurar o crescimento, demonstre uma continuação da recuperação. Daí por diante, em 2010, a economia brasileira fica pronta para crescer.

Cláudio Considera, ex-secretário do Ministério da Fazenda e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), no entanto, avalia que a retomada será ainda mais lenta. Em entrevista à Rede Brasil Atual, ele defende que os investimentos, mesmo com expansão de 6,5% no terceiro trimestre, ainda estão baixos, o que não assegura a movimentação de certos setores da economia, como a indústria.

O professor aponta que os incentivos feitos pelo governo ao setor produtivo, em especial a redução de impostos, concentraram o consumo no segundo trimestre porque havia data marcada para o fim das vantagens. Com isso, o consumo já teve peso menor no PIB do terceiro trimestre (expansão de 2%) e deve ir ainda pior no fechamento do ano.

Considera avalia que em 2010 a expansão da economia brasileira ficará abaixo de 4%. “O número jogou um balde de água fria no oba-oba que estava se formando, levou para um patamar muito mais realista. Não quer dizer que o Brasil vai ter recessão, mas o crescimento não vai ser nenhum esplendor”, avisa.

Setores

A indústria, que subiu 2,9% no terceiro trimestre frente ao segundo, deve puxar o crescimento do próximo ano, na avaliação dos analistas ouvidos pela reportagem. A expectativa fica por conta da melhoria do cenário internacional, importante por garantir mercado consumidor não apenas ao setor industrial, mas à agricultura brasileira, dois setores fortemente internacionalizados.

Cláudio Considera destaca a dificuldade, em praticamente todas as nações, de manutenção dos níveis da poupança interna. O professor da UFF critica a postura do governo de ter elevado os gastos, em especial os permanentes, como pagamento de servidores, por limitar a arrecadação para a formação de poupança, por sua vez reduzindo a capacidade de investimento.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu nesta quinta-feira as críticas de que o governo está gastando muito. Ao comentar os resultados, ele destacou que o crescimento dos gastos públicos foi de 0,5% frente ao PIB, ou seja, as despesas de custeio dos ministérios estão sendo reduzidas.

Mais que discutir os gastos, Roberto Macedo avalia que os incentivos promovidos pelo governo foram importantes para evitar um resultado pior da indústria este ano e que, agora, é hora de parar. O ex-secretário do Ministério da Fazenda pensa que não se pode cometer excessos na ajuda aos setores produtivos e que é preciso pensar exatamente na formação de reservas para investimentos que serão fundamentais no próximo ano.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), mesmo ponderando o resultado geral abaixo do esperado, fez uma análise positiva do volume de investimentos registrado no terceiro trimestre, demonstrando a retomada do que havia sido engavetado durante a crise.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, em entrevista ao Terra Magazine manifestou a mesma visão. “A recuperação da economia não está se dando pelo insuflamento do Estado, que foi o que menos cresceu. Em segundo lugar, não é pelo consumo das famílias. Na verdade, a recuperação se dá pela forma mais adequada que é o crescimento do investimento”, opinou. 

A mesma posição é defendida por Mantega, que considera importante o peso dos investimentos. “O aumento da formação bruta de capital é muito expressivo e demonstra forte recuperação dos investimentos, o que é muito importante para a qualidade do crescimento. Já a recuperação da indústria é relevante porque o setor é grande gerador de emprego, de valor agregado e tecnologia”, comentou.

Projeção

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) divulgou nesta quinta suas projeções de crescimento para a região em 2010. Na avaliação do organismo das Nações Unidas, o Brasil comandará a expansão, com 5,5%, seguido por Peru e Uruguai, meio ponto abaixo.

A média da região fica em 4,1% no próximo ano. Novamente, a secretária-executiva Alicia Bárcena elogiou medidas adotadas pelos governos sul-americanos, como investimentos estatais, crédito facilitado e aplicação de programas sociais voltados ao consumo dos mais pobres.

No cenário futuro, a comissão ressalta a necessidade de busca de novos mercados, em especial os asiáticos, e alerta que a insegurança do cenário internacional torna as projeções mais vulneráveis a mudanças.

Com informações da Rádio ONU e do Ministério da Fazenda.