Banco privado se atrasa para festa de volta do crédito

Para especialistas, os números indicam que a estratégia dos bancos estatais foi vencedora. Itau fala em redução de spreads

São Paulo – Bancos públicos e privados vão continuar colhendo, no final de 2009, os frutos de estratégias distintas adotadas por eles durante a crise, com os estatais expandindo a concessão de financiamentos num ritmo pelo menos três vezes superior.

Não bastassem os números mais recentes do Banco Central, as próprias instituições financeiras indicam que a dupla Caixa Econômica Federal-Banco do Brasil seguirá ganhando pontos em relação a competidores como Bradesco e Itaú Unibanco nas operações de crédito.

Faltando três meses para o fim do ano, a carteira de crédito da Caixa cresceu 36% sobre dezembro, já acima da previsão de 30% para todo o ano de 2009. A instituição está prestes a revisar sua projeção anual para cerca de 50 por cento.

“Esse é um número conservador, porque estamos crescendo no mesmo ritmo do primeiro semestre”, disse à Reuters o vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival. No período de 12 meses encerrado em agosto, o avanço do crédito no banco foi de 61%, revelou o executivo.

O BB, cuja carteira de financiamentos evoluiu 32,8% em 12 meses até junho, também não faz questão de modéstia. Embora oficialmente a previsão de crescimento da carteira de crédito para 2009 seja de 13 a 17 por cento, o banco sinaliza que espera mais. Bem mais.

“Estamos discutindo um realinhamento das previsões”, afirmou o vice-presidente de Crédito, Controladoria e Risco do BB, Ricardo José da Costa Flores. “Se crescemos forte quando a economia estava parada, imagine agora que a economia voltou a crescer.”

Esse tom ufanista reflete o avanço estatal no sistema bancário, a reboque da decisão do governo de induzir os bancos públicos a ampliar a oferta de crédito, enquanto os privados faziam justamente o contrário após a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, que secou o crédito no mundo todo.

A ação anticíclica se materializou por meio de sucessivos cortes nas taxas e alongamento dos prazos de financiamentos na Caixa e no BB, além do incremento no crédito disponível. O movimento foi engrossado pela ação forte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Diante disso, a participação dos bancos públicos no sistema financeiro pulou de 34,3% para 40,4% no espaço de 12 meses encerrado em agosto, segundo dados do BC. Isso num período de atividade econômica fraca, em que o estoque de crédito cresceu de cerca de 40 para 45,2 por cento do PIB.

Os bancos privados, embora partilhem com os estatais a visão de que a economia mais aquecida terá indiscutível impacto sobre o crédito, só recentemente tomaram ações mais incisivas.

O Bradesco elevou de R$ 42 bilhões para R$ 50 bilhões o limite de crédito disponível a pessoas físicas e empresas. E o Itaú Unibanco flexibilizou as exigências para concessão de financiamento.

“As pessoas que não estavam sendo atendidas, serão”, comentou o diretor-executivo de Controladoria do Itaú Unibanco, Sílvio de Carvalho. “Deverá haver uma redução dos spreads.”

Mas o Itaú Unibanco mantém a previsão de expansão de 12% a 18% da sua carteira em 2009. Para o ano que vem, antevendo alta de cerca de 5% do PIB brasileiro, a projeção é de avanço de até 25% no crédito.

O Bradesco vai pelo mesmo caminho. Mesmo admitindo surpresa com o aquecimento da demanda por empréstimos de agosto para cá, o banco segue estimando aumento de sua carteira em 10% em 2009. No máximo, limita-se a projetar um avanço de 20% nos próximos 12 meses.

“Estamos num momento formidável da economia”, disse o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, na terça-feira (29). “Mas tivemos um começo de ano fraco”, ressalvou.

Esperar para ver

Para especialistas, os números indicam que a estratégia dos bancos estatais foi vencedora. Pelo menos por enquanto. Segundo eles, a avaliação pode mudar de figura caso as instituições públicas apontem um aumento acentuado dos níveis de inadimplência, o que por enquanto não parece ser a tendência.

Segundo números do BC, divulgados na terça-feira, a inadimplência geral do sistema financeiro se estabilizou em 5,9 por cento em agosto, após ter subido por oito meses seguidos.

“Os bancos estatais vão continuar enfiando o pé no acelerador. Mas só em meados de 2010 vamos saber se eles fizeram a coisa certa”, observa o economista João Augusto Frota Salles, da consultoria Lopes Filho.

Fonte: Reuters