Novos pedágios de SP preocupam cidades e usuários frequentes

Consultor avalia que o maior onerado será quem utiliza rodovias para ir ao trabalho; para ex-secretário, a saída seria uma cobrança diferenciada

A implantação de dez novas praças de pedágio no litoral paulista preocupa prefeituras e comerciantes da região. De acordo com os planos do governador José Serra, serão até seis pontos na Rio-Santos, a maioria entre Bertioga e Ubatuba, mais dois nas proximidades de Mogi das Cruzes, dois na Tamoios, ligação entre o Vale do Paraíba e o litoral norte, e pelo menos mais um na rodovia Oswaldo Cruz, entre Taubaté e Ubatuba.

O consultor em trânsito Sergio Ejzenberg destaca que o maior problema é para quem utiliza alguma dessas rodovias todos os dias para deslocar-se para o trabalho. “Uma alternativa que alguns países oferecem é, quando tem um caminho pedageado, tem outro não-pedageado, algo que não acontece no Brasil. Como resultado, você vê os motoristas de caminhão brigando para fugir dos pedágios, o que acaba infernizando municípios inteiros. Isso acaba promovendo uma distorção no uso rodoviário”, destaca o engenheiro.

Procurado pela Rede Brasil Atual, o prefeito de São Sebastião, Ernane Bilotte Primazzi, manifestou em nota oficial ser contrário à medida levando em conta que “há vários trechos urbanos com um grande fluxo de trabalhadores que se deslocam para a Costa Sul, para o Centro, para a Costa Norte e também para Caraguatatuba”.

O engenheiro Adriano Murgel Branco, ex-secretário de Transportes do Estado de São Paulo, acredita que o problema citado pelo prefeito pode ser resolvido de duas maneiras. A primeira é deslocar o pedágio a um ponto em que não atrapalhe o tráfego urbano. Além disso, há a possibilidade de realizar uma cobrança diferenciada.

“Solução tecnológica para isso já existe. Em vez de ter praças de pedágio, você tem loops (espécies de sensores) magnéticos de quilômetro em quilômetro que fazem a contagem. Quando sair, se o motorista rodou dois quilômetros, terá uma taxa cobrada sobre esse trecho. Se andou 50, será cobrado por 50. Em vez de parar, você vai receber a conta na sua casa”, pondera. Com isso, seria possível evitar as longas filas de pedágio que se formam em feriados ou na alta temporada.

Para o engenheiro, o pedágio é necessário quando há custos de implantação da malha rodoviária, o que não é o caso de São Paulo, ou para realizar uma mudança de fluxo. Ele defende que as tarifas cobradas dos caminhões sejam altas de modo a desestimular o transporte de cargas pela via rodoviária.

Murgel Branco considera que a competição entre caminhão e trem não tem sido equilibrada, “a tal ponto que no estado de São Paulo 93% das cargas estão sendo transportadas por caminhão. Isso é um disparate. Esses caminhões circulam em grande parte por dentro da cidade. A função do pedágio não é mais cobrir custos,  mas estabelecer regulamentos que dificultem o tráfego de caminhões. E aí o pedágio deveria ser mais caro do que é”.

Circulação

O prefeito de São Sebastião, Ernane Primazzi, afirmou que vai pedir uma reunião com os outros prefeitos do litoral norte (Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba) para discutir o tema e cogita, se necessário, pedir a construção de uma alça para a utilização dos moradores dessas cidades para que possam escapar da cobrança.

Lembrando que a Rio-Santos é uma grande “avenida” para os cidadãos, ele alertou que pode haver repercussão negativa para o turismo e deixou claro que é contra a desapropriação de terras para a construção de praças de pedágio. Primazzi apontou que os espaços cogitados são importantes para as comunidades do ponto de vista “social, religioso e esportivo porque envolvem moradores de faixas etárias diversas”.

O impacto sobre o turismo é a preocupação de Felipe de Castro Silveira, proprietário da Pousada Araucária, que fica na cidade de São Luiz do Paraitinga, às margens da rodovia Oswaldo Cruz. Para ele, a medida não é interessante por dois motivos: “Um, claro, é a tarifa. Outra coisa é que a Oswaldo Cruz é uma boa estrada. Acho que privatização é necessária quando a situação da estrada é crítica e precisa de alguma reforma urgente. E esse não é o caso”.

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