Engenheiros da Petrobras: Brasil perde com criação de estatal

Diretor de associação considera que erros na condução dos lucros do pré-sal começaram já no governo Fernando Henrique Cardoso e que Lula perdeu chance de recomprar ações da empresa

A sinalização do governo de que a nova estatal criada para administrar as reservas do pré-sal poderá gerir também outras áreas petrolíferas gera polêmica no setor. Especialistas ouvidos pela reportagem já haviam demonstrado insatisfação com a decisão de criar a empresa, acreditando que o melhor seria utilizar a Petrobras para a exploração das bilionárias (talvez trilionárias) reservas.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, aponta que a Petrobras vai concorrer como as empresas privadas nos editais de exploração pelos blocos do pré-sal. O geólogo João Victor Campos, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), afirma à Rede Brasil Atual que já durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, com a quebra do monopólio estatal, começaram os erros na condução do pré-sal: “a Petrobras viu-se na contingência de ter de passar todo o seu acervo técnico para a Agência Nacional do Petróleo (ANP), e caiu na armadilha, entregou o ‘filé mignon’ de graça para a ANP leiloar. Num dos blocos requeridos na Bacia de Santos já se encontrava definido um prospecto (locação) visando o pré-sal como nova fronteira”.

O ministro Edison Lobão sinalizou esta semana que o projeto a ser apresentado ao presidente Lula em até 15 dias vai prever o sistema de partilha, em que a empresa vencedora da concorrência tem direito a uma parcela dos lucros da exploração ou do próprio óleo.

João Victor Campos discorda do modelo. “Temos o pessoal técnico qualificado, não precisamos de parceiros, então por que dividir quando podemos usufruir de 100% para o benefício do povo brasileiro? E nesta partilha, com que porcentagem ficaremos?”

Para ele, com a nova estatal e a qualidade dos políticos posta à prova diariamente, “está aberta a porteira para os desmandos, os desvios de dinheiro e o empreguismo partidário”.

Segundo o governo, parte dos lucros gerados pelo pré-sal serão enviados para um fundo de desenvolvimento social que incluirá, entre outras coisas, infraestrutura, educação e saúde.  

Monopólio

A retomada do monopólio estatal da Petrobras é algo que divide o setor. Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), trata-se de um passo fundamental.

Paulo Metri, conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros, considera que a proposta é viável, desde que válida apenas para novas concessões: “não quero propor rasgar contrato porque traz problema externo”.

Para João Victor campos, o governo perdeu uma excelente oportunidade de recomprar ações durante a crise internacional, em que os preços estavam baixos.

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