Bancos têm mais ajuda em um ano que países pobres em 50

Para o economista Ladislau Dowbor, globalização exclui de seus benefícios dois terços da população mundial. Cenário é de ameaça ao planeta

A indústria financeira internacional recebeu no último ano, quase dez vezes mais verba pública a título de ajuda do que as nações pobres em 50 anos. A constatação faz parte de um relatório divulgado na quarta-feira (24) pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo a ONU, que promove o cumprimento das metas do Milênio para o combate à pobreza no mundo, os países em desenvolvimento foram auxiliados em meio século com aproximadamente US$ 2 trilhões das nações ricas. Por outro lado, apenas neste último ano, os bancos ameaçados pela crise financeira receberam US$ 18 trilhões como ajuda pública.

Para o professor de economia Ladislau Dowbor, erra-se ao pensar que é alimentando o mercado rico que o mundo sairá da crise. “A produtividade do dinheiro que vai para as mãos mais ricas é extremamente limitada quando não desorganizadora da economia”, avisa. “Quando se faz saneamento básico, um real investido são quatro reais que se deixa de gastar com doenças. Portanto, não é enterrar dinheiro, é liberar recursos para dinamizar a economia”, garante.

Ladislau Doubor cita um documento do Banco Mundial The next 4 billion (Os próximos 4 bilhões, em tradução livre) para destacar ao desarranjo do direcionamento econômico. O texto simplifica o hiato gerado entre países ricos e pobres. O documento aponta que são quatro bilhões de pessoas do planeta fora do que chamam benefícios da globalização.

“Quatro bilhões de pessoas são praticamente dois terços do planeta”, pondera Dowbor. “A ruptura social planetária gerada em uma economia mundialmente desenvolvida para apenas um terço da população mundial se tornou um dos dois problemas centrais que ameaçam o planeta em suas mais variadas dimensões”, sentencia.

O relatório da ONU argumenta que a destinação do dinheiro ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas de vontade política. O texto observa ainda que a crise mundial piorará a situação das nações menos favorecidas.