Mudanças na caderneta de poupança devem gerar redução de juros, afirma Dieese

Presidente Lula defende que alterações farão deslocamento de recursos da especulação para os setores produtivos

O governo acertou ao taxar os que têm aplicações acima de R$ 50 mil na poupança por atingir um grupo muito pequeno e evitar que haja especulação de grandes aplicadores com esse tipo de rendimento, avalia o supervisor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Sérgio Mendonça. Em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta segunda-feira (18), ele afirmou que o processo deve ser conduzido com calma e transparência e que não há motivos para pânico entre as classes baixa e média, que não serão afetadas pela medida. 

“Se a gente caminhar para uma taxa próxima de oito por cento, já terá sido a mais baixa desde a criação do Plano Real”

Mendonça considera que aqueles que têm mais que R$ 50 mil geralmente procuram investimentos mais ousados e que, em todo o mundo, a caderneta de poupança remunera menos porque é mais segura e tem mais liquidez. 

O presidente Lula defendeu no programa semanal “Café com o presidente” que as mudanças de regras vão ajudar a taxa de juros a cair. Com isso, o dinheiro que hoje está na especulação vai para a produção. Lula apontou que a redução da Selic pelo Banco Central é possível pela baixa inflação, a crise econômica e a estabilidade financeira do Brasil. 

Sérgio Mendonça concorda que será removido um obstáculo para a queda da taxa básica, o que deve ter outra consequência positiva: com a Selic muito alta, o país atrai muito capital especulativo, que é aquele que vem para ganhos a curto prazo, não representa nenhum investimento na economia e migra para outros mercados ao menor sinal de dificuldade. Com a saída de especuladores devido às mudanças no rendimento da poupança, há ainda mais espaço para que o Banco Central promova novas reduções. 

Mas o supervisor técnico do Dieese não é tão otimista quanto alguns analistas, que agora apostam que a taxa chegará brevemente a 7% ao ano: “a Selic deve ficar em torno de 9% nas próximas reuniões e, se você descontar a inflação, que deve ficar em 4% nos próximos meses, você está falando de uma taxa básica real em torno de 5%. Ainda é muito alto. Os Estados Unidos estão com zero, a Inglaterra com um [por cento]. Se a gente caminhar para uma taxa próxima de oito, já terá sido a mais baixa desde a criação do Plano Real”.

Sérgio Mendonça lembra que, como a Selic é um indexador da dívida pública, o governo gasta menos com isso, liberando mais verbas do orçamento para ações sociais e em infra-estrutura. Além disso, fica mais fácil obter crédito a juros baixos, estimulando o consumo.