Ministro do MEC

Sucesso da esquerda em concursos volta a incomodar ministro Weintraub

Para o chefe do MEC, seria por causa da "doutrinação". Estudos científicos, porém, sugerem que pessoas de esquerda tendem a ser mais inteligentes

Reprodução/Facebook
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Weintraub: 'Concurso que têm praticamente nada de matemática, mas está falando lá de governo estadunidense. Então na seleção você já seleciona pessoas com viés de esquerda´

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro publicou em sua página no Facebook neste domingo (12) um vídeo em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, reclama do sucesso da esquerda nos concursos públicos. Na edição intitulada Ministro do MEC fala sobre doutrinação, Weintraub diz que as provas para seleção de servidores para o serviço público – no caso federal – são mal formuladas do ponto de vista dos conteúdos exigidos dos candidatos. E que são tendenciosas no sentido de favorecer “pessoas de viés de esquerda”.

“Dos 600 mil funcionários do governo federal, 300 mil estão no MEC (Ministério da Educação). Concurso que tem praticamente nada de matemática, mas está falando lá de governo estadunidense. Então, na seleção você já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos”, diz o ministro, que chega a incluir a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no formato que tanto critica.

Weintraub, que tem se tornado célebre pelas manifestações polêmicas e, principalmente, pelos frequentes – e grosseiros – erros de ortografia nas mensagens que escreve em seu Twitter, chega a dizer que as provas a serviço da doutrinação não são invenção do Partido dos Trabalhadores nos anos de governos Lula e Dilma. Mas que foram introduzidas no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC).

“A gente está falando de um quarto de século de continuamente. Uma doutrinação que começa de uma forma suave e gradualmente você vai começando a achar o errado normal. E de repente você tem de dizer que o errado é bonito”.

O ministro já havia defendido o fim dos concursos para contratação de professores e técnicos das universidades federais pelo regime de CLT – sem concurso público e sem estabilidade – em setembro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “As faculdades e universidades que aderirem ao Future-se vão ter de passar a contratar via CLT e não mais via concurso público, um funcionário público com regime jurídico único”, disse na ocasião o ministro, que é professor concursado do campus Osasco da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Anteprojeto de lei do governo que muda o sistema de financiamento das universidades federais, o Future-se foi rechaçado pelo conjunto dos estudantes, professores e reitores. E por isso ainda não foi enviado ao Congresso.

Despeito

A fala do ministro não é só coerente com a guerra declarada ao que os bolsonaristas chamam de doutrinação “de viés ideológico”. Tem a ver principalmente com o compromisso do governo com o fim da estabilidade no serviço público.  E esconde um certo despeito com o fato de que pessoas alinhadas com o pensamento de esquerda sejam mais bem sucedidas nesses processos seletivos tão concorridos.

Tal desempenho talvez seja explicado por pesquisas científicas, como a de Alain Van Hiel, professor do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento Pessoal e Social da Universidade de Ghent, na Bélgica. Publicado em agosto passado na revista especializada alemã Emotion, o estudo encontrou evidências de que pessoas com habilidades cognitivas e emocionais mais baixas estavam mais propensas a concordar com declarações descaradamente preconceituosas, como “a raça branca é superior a todas as outras”.

De acordo com o pesquisador, que se dedica ao estudo da psicologia política e da ideologia política, o autoritarismo de direita é um traço de personalidade que descreve a tendência de se submeter à autoridade política e de ser hostil a outros grupos, enquanto a orientação de domínio social é uma medida da preferência de uma pessoa pela desigualdade entre os grupos sociais.

A desvantagem cognitiva dos “direitistas” em relação aos “esquerdistas” já havia sido constatada em estudo realizado por pesquisadores da Brock University, de Ontário, no Canadá. Publicada pela revista especializada Psychological Science (Ciência Psicológica), de Nova York, em 2012,  a pesquisa aponta que a ideologia de direita e o preconceito são mais prevalentes entre indivíduos de menor capacidade cognitiva.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores chefiados por Gordon Hodson avaliaram dados referentes ao período de 50 anos, que foram cruzados com informações de mais de 15 mil pessoas. Foram comparados o nível de inteligência detectada na infância com seus pensamentos políticos como adultos. A pesquisa chegou a outro dado: que crianças com menor QI tendem a desenvolver pensamentos racistas e homofóbicos na idade adulta.

 

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