Brumadinho

Lula participa de evento de apoio à luta dos atingidos por barragens nesta sexta-feira

Ex-presidente vai encerrar seminário internacional em Betim (MG). Evento integra agenda do MAB, que marca um ano do crime socioambiental da Vale. MST lançará plano de plantio de 100 milhões de árvores

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
No evento do MAB, Lula fará uma breve participação, na qual homenageará as vítimas e reiterará seu apoio à luta dos atingidos por barragens

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará o encerramento do seminário internacional sobre o modelo de mineração adotado no Brasil, na tarde desta sexta-feira (24), na cidade mineira de Betim. O evento integra a programação da Marcha dos Atingidos, organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), para marcar o primeiro ano do crime socioambiental da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, que deixou 272 mortos e 11 pessoas desaparecidas. De acordo com a organização, Lula fará uma breve participação, na qual homenageará as vítimas e reiterará seu apoio à luta dos atingidos por barragens.

Está confirmada também a presença de Leonardo Boff, de representantes de 18 países e de integrantes da Frente Brasil Popular, da Plataforma Operária e Camponesa da Água e da Energia e do Movimiento de Afectados por Represas (MAR), além de familiares das vítimas de Brumadinho e de parlamentares que compuseram as comissões de investigação do crime da Vale na Câmara e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Na programação da manhã será abordada a situação dos atingidos no Brasil e do mundo e definirão linhas de atuação em busca de soluções aos problemas enfrentados pelas populações. E à tarde, as consequências na vida dos atingidos. Entre elas, a contaminação da água do Rio Paraopeba, apontada por um estudo realizado pela organização SOS Mata Atlântica.

Respeito aos mortos

Na manhã de hoje (23), militantes ocuparam a linha férrea operada pela empresa MRS Logística, empresa da Vale usada para o transporte de minério, no município Mário Campos, próximo a Brumadinho.

No ato, eles pediram respeito aos familiares dos mortos pelo crime socioambiental de Brumadinho e encaminharam ofício à mineradora, reivindicando a interrupção das atividades no sábado (25), quando o rompimento da barragem de Córrego do Feijão completa um ano.

Os participantes da Marcha dos Atingidos pediram à MRS interrompa suas atividades no dia 24, em respeito às famílias das vítimas. (Foto: Coletivo de Comunicação do MAB)

“Há o sofrimento dos familiares que perderam seus entes queridos, que todos os dias 25 revivem essa tragédia, que irá completar um ano no próximo sábado. Inomináveis todas as violações de direitos humanos que esse crime ocasionou, o direito a reparação integral é o único direito que resta aos atingidos e familiares das vítimas. Dentre eles, conforme preceitua a doutrina dos Direitos Humanos, em consonância com a jurisprudência internacional da Corte Interamericana de Direitos Humanos e demais Cortes Internacionais de Direitos Humanos, está o direito à memória e o direito à não repetição como formas de remediação e reparação integral”, diz trecho do ofício. A MRS informou que, em respeito, interromperá suas atividades em Brumadinho e região entre as 7 e 19 horas.

Nesta terça-feira (21), o Ministério Público de Minas Gerais denunciou (21) à Justiça, por homicídio duplamente qualificado, o ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, 11 funcionários da mineradora e cinco da empresa de certificação, testes e inspeções Tüv Süd, que atestou a segurança da barragem I da mina do Córrego do Feijão.

Ambas as empresas também foram denunciadas pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, que além de matar 272 pessoas, contaminou o rio Paraopeba, prejudicou pescadores e deixou a população de várias localidades sem seu meio de subsistência. O crime completa um ano no próximo dia 25. A denúncia foi oferecida à 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte.

Juntamente com a ‎BHP Billiton, a Vale é controladora da Samarco, dona da barragem que se rompeu em 5 de novembro de 2015, matando 19 pessoas e contaminando o rio Doce em toda a sua extensão até o litoral do Espírito Santo, onde deságua. É considerado o maior desastre ambiental do planeta.

MST propõe plantio de 100 milhões de mudas de árvores em 10 anos

 

Plano propõe plantar 100 milhões de mudas em 10 anos. (Foto: Dowglas Silva)

No dia 25, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e os movimentos da Frente Brasil Popular farão ato político em homenagem às vítimas do crime socioambiental da Vale. Na ocasião será  lançado um plano que pretende plantar 100 milhões de árvores em 10 anos. Segundo o MST, o plano é a resposta à devastação ambiental promovida pelo governo Bolsonaro.

A marcha do MST em Brumadinho, com início às 13 horas, será seguida do plantio da primeira muda. E às 17 horas, o arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, Dom Walmor, celebrará missa em memória às vítimas da Vale. A programação termina às 19 horas, com ato cultural da Frente Brasil Popular.

O modelo predatório da mineração tem sido denunciado pelo MST desde as lutas das mulheres, em 8 de março, e nas primeiras ocupações das áreas da mineradora MMX, em 2017. Segundo o movimento, a empresa age com a certeza da impunidade, visto que ela calculou o preço de cada uma das 272 vítimas antes do rompimento da barragem em Brumadinho.

“A Vale tem um poderio muito grande nos governos, no Estado e também nos veículos de comunicação. Ela usa de uma estratégia de cooptação de algumas comunidades, mas diante da contradição toda que foram os dois crimes se abre a possibilidade da luta popular se sobrepor a tudo isso. E é na luta popular que vai ser superada essa impunidade”, afirma Silvio Netto, da direção nacional do MST.

O rompimento da barragem de Mariana, em 2015, afetou 23 assentamentos do MST na Bacia do Rio Doce. E a de Brumadinho, prejudicou mais de mil famílias acampadas na beira do rio Paraopeba.

Os projetos que o MST coordena na bacia do rio Doce, com participação da Fundação Renova, visam ao reflorestamento de 5.266 hectares em 10 anos, principalmente em áreas de recargas hídricas e de preservação permanente. A recuperação de metade dessa área será por meio da tecnologia da agrofloresta. O método cubano Camponês a Camponês norteará o ensino de agroecologia para os agricultores.

“Para nós, a maior pena que a Vale pode pagar, porque ela tem que ser condenada a pagar, é ter que fortalecer um modelo antagônico a esse modelo que ela hegemoniza, que é o da mineração e dos crimes. Portanto, nós temos feito as lutas para garantir que essa reparação dos crimes seja feita com agroecologia, com educação do campo, com acesso à água, a alimentos saudáveis. Que a justiça seja feita com a Reforma Agrária Popular”, destaca Silvio Netto.

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