Acusações infundadas

O que há em comum entre o juiz Sergio Moro e o famoso caso Dreyfus?

Para Jessé de Souza, é o apoio popular à injustiça e ao racismo. No caso francês, Dreyfus foi inocentado e reintegrado ao exército

WikiMedia Commons
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Julgamento do militar Alfred Dreyfus: acusado e condenado sem provas, mas com apoio popular de nacionalistas e xenófobos franceses – ele era judeu

São Paulo – Sem provas, o capitão Alfred Dreyfus foi condenado por traição ao exército francês em 1894. Quando o processo fraudulento chegou ao conhecimento geral e da alta patente, houve uma tentativa de ocultar toda a farsa acobertada por manifestações nacionalistas e xenófobas – o militar era judeu.

O apoio recebido por personalidades estrangeiras e pressões externas levaram à anulação do julgamento em 1899, e à reabertura do processo, que condenou o militar a dez anos. No entanto, houve anistia um ano depois. Mesmo livre, continuava sendo considerado traidor. Só em 1906 seria inocentado e reintegrado. Seu principal acusador, o tenente-coronel Max von Schwarzkoppen, confessou no leito de morte a inocência do capitão.

Em vídeo divulgado ontem (13) em seu canal, o sociólogo Jessé Souza traça um paralelo entre o famoso Caso Dreyfus e a trajetória do ex-juiz federal e atual ministro da Justiça Sergio Moro.

“Com a conivência da opinião pública é praticado um crime que se sabe que foi injusto, que foi perseguido injustamente e ainda assim uma parte considerável da opinião pública apoia. Obviamente a população compartilha dos mesmos sentimentos antissemitas do estado maior francês da época”, diz Jessé sobre o caso francês.

Para ele, é exatamente o caso do Sergio Moro. “Tem a popularidade de um juiz, um anti-juiz, que está disposto a qualquer coisa para perseguir inimigos políticos, principalmente inimigos que sejam de partidos populares. O que faz essas pessoas apoiarem Moro apesar de saber que ele é injusto, apesar de saber que ele é mentiroso, vigarista?  As pessoas sabem que ele é assim e mesmo assim concordam com o que ele fez”.

Na avaliação do sociólogo, é principalmente o racismo que leva uma população a “apoiar um juiz perseguidor”. Estamos em uma sociedade racista que não se vê, não se critica como tal. Esse é o principal desafio da sociedade brasileira hoje e para o seu futuro: criticar o seu racismo. Pessoas que estão a favor da injustiça, do ódio, da perseguição, a favor da própria destruição do patrimônio nacional que vai fazê-las perder oportunidades, a apoiar um governo que não investe em ciência. É esse racismo, essa necessidade de se sentir superior a alguém”.

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