Adeus 2019

Lamento ou exercício de fé: Como terminar um ano difícil como este?

Para teólogos, a hora não é de desânimo, mas de esperança e luta. "Mais do que leis e direitos, o espírito da humanidade está sendo atacado"

Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
Segundo teólogos, a defesa da democracia, dos direitos e do povo é exortação bíblica, ao contrário de alianças por privilégios e benesses

São Paulo – Mesmo que em 2019 o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tenha trabalhado  pela degradação ambiental, que a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, tenha conduzido a liberação recorde de agrotóxicos, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, seja o homem da especulação financeira e que Sergio Moro atue mais pela punição coletiva, principalmente de pobres, pretos e periféricos do que pela Justiça que dá nome à sua pasta – sem contar a “idiotização tecnóide” do ministro da Educação Abraham Weintraub e as contradições de outros integrantes do governo de Jair Bolsonaro – a hora não é de desânimo. O fim de um ano tão difícil, marcado por retrocessos em todas as áreas, não deve ser de lamento. Mas de esperança e de luta pela justiça.

É o que pedem Ariovaldo Ramos, David Alencar e Uilian Corcino, militantes da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Na edição desta segunda-feira (30) do programa Daqui pra Frente, transmitido pela TVT, os teólogos defendem a chamada “fé ativa”, que transcende a militância política e a religião, como instrumento – e alimento – para a luta contra os efeitos do golpe de 2016 cristalizados neste primeiro ano de governo de extrema-direita, que afeta sobretudo os mais pobres, e pelo restabelecimento da democracia.

“Apesar de tudo o que estamos enfrentando, é a fé ativa que nos faz insistir em continuar fazendo o que Deus quer que continue sendo feito independente do desvio geral, dos que, contaminados pelo egoísmo, querem benesses. Os que continuam vivendo pela fé continuam dizendo não a tudo isso que não é o chamamento de Deus. Em nome da redenção, temos de continuar a lutar pela justiça e em defesa do povo”, disse Ariovaldo Ramos.

Os teólogos advertiram sobre a malignidade das alianças entre setores religiosos e o poder, que por meio de “promessas vazias” e “curas mentirosas” manipulam fieis a apoiarem governos que atacam direitos.  E destacaram que qualquer política ou movimento que leve vantagem na retirada direitos dos trabalhadores, da dignidade humana e “na enfermidade de uma nação que perde acesso à saúde, ao trabalho, à decência e que põe em risco a vida do planeta não vem de Deus, mas do diabo”.

Ainda segundo eles, está nas escrituras o alimento para a esperança e a luta contra medidas como as do governo Bolsonaro, de outras lideranças mundiais e de gestores estaduais e municipais alinhados. “Vocês precisam parar de julgar como julgam os os injustos, de estar ao lado dos maus. O que é preciso fazer? Defender os direitos dos pobres, socorrer os humildes. O que vai trazer a esperança pra gente é lutar pela verdade e a Justiça”, disse Uilian Corcino, citando trecho do capítulo 82 do livro de Salmos.

O último programa Daqui pra Frente de 2019 foi marcado também por um paralelo entre um lamento do profeta Habacuque, narrado em um dos livros do Antigo Testamento, e os retrocessos no primeiro ano do governo Bolsonaro.

Confira:

“Ainda que o serviço do Meio Ambiente tenha sido feito serviço de degradação ambiental, ainda que o serviço de agricultura – o Ministério – agora seja serviço de agrotóxico, ainda que o serviço de economia agora seja serviço da especulação, ainda que o serviço da Justiça seja agora serviço de punição coletiva, ainda que o serviço de educação e cultura tenha sido feito serviço de ´idiotização tecnóide´, ainda que o serviço de direitos humanos agora seja serviço de catequização moral totalmente imoral, ainda que o serviço de minas e energia seja agora de ´terror friday´, de entregação da soberania nacional, ainda que o serviço de indústria e comércio tenha sido feito serviço de ´estrangeirização´, ainda que o serviço do Trabalho e da Previdência Social seja – ok, não existe mais serviço do Trabalho, do trabalhador e a Previdência involuirá para a indigência. Mas ainda que o serviço da Saúde seja cada vez mais serviço da doença lucrativa, ainda que o Banco Central se torne livremente escravo da agiotagem oficial, ainda que o serviço Judiciário tenha se mostrado tão eficaz quanto marinheiros em território sem mar ou rio navegável, ainda que o serviço de Segurança Pública tenha se comportado mais como serviço de genocídio dos povos originários, quilombolas, negros e negras, com ênfase nos jovens e nos pobres, ainda que os militares tenham passado a fazer política enquanto os políticos passaram a prestar continência, ainda que a Carta Magna tenha sido extraviada, todavia, o Senhor nos faz confiar na Sua vitória. E nos emula a lutar pela Justiça”.

Leia também

Últimas notícias