Mistério sobre assassinato

Ministério Público do Rio afirma que porteiro mentiu sobre Bolsonaro

Promotora diz que porteiro do Vivendas da Barra interfonou para a casa 65, não a de Bolsonaro, e que a entrada de Élcio Queiroz foi autorizada por Ronnie Lessa, ambos acusados da morte de Marielle

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Segundo MP, porteiro teria interfonado direto para Lessa e não para Bolsonaro, como aparece nos registros

São Paulo – O Ministério Público do Rio de Janeiro informou há pouco que porteiro que cita Jair Bolsonaro em seu depoimento mentiu. Segundo a promotora Simone Sibilio, a investigação do MP teve acesso à planilha da portaria do condomínio e às gravações do interfone. E o porteiro, de acordo com ela, teria interfonado para a casa 65 –  e não para a casa 58, de Jair Bolsonaro. A entrada do ex-policial militar Élcio Queiroz teria sido autorizada por Ronnie Lessa, sargento aposentado da PM. Ambos são acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco, do Psol, e do motorista Anderson Gomes, naquele mesmo 14 de março de 2018.

Reportagem veiculada pelo Jornal Nacional na noite da terça-feira (29), com base no depoimento desse porteiro do condomínio Vivendas da Barra, apontou o registro de entrada de Élcio Queiroz. Na portaria ele teria dito que iria à casa de Bolsonaro, à época deputado federal.

O porteiro teria interfonado e um homem com a mesma voz do presidente teria atendido e autorizado a entrada. Ainda segundo a reportagem do JN, o acusado teria ido em outra casa dentro do condomínio, a de Ronnie Lessa.

Falso testemunho?

Nas redes sociais, postagens relatam pressão sobre os funcionários do Vivendas da Barra. Para o Ministério Público, o porteiro pode ter anotado que Élcio foi para a casa de Bolsonaro por vários motivos, que serão apurados. “Todas as pessoas que prestam falso testemunho podem ser processadas”, disse Simone Sibilio.

Um pouco antes da entrevista da promotora pública, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou um vídeo em suas redes sociais. Segundo ele, o conteúdo foi gravado na administração do condomínio. As imagens mostram dados conflitantes aos apresentados na reportagem da Globo.

Por volta das 17h de 14 de março de 2018 haveria uma solicitação de entrada por uma pessoa de nome Élcio. O destino, de acordo com o vídeo divulgado por Carlos Bolsonaro, seria a casa de Ronnie Lessa, e não para a de Jair Bolsonaro. A ligação está registrada às 17h13 daquele dia. O porteiro anuncia a chegada do “senhor Élcio” e a voz do outro lado responde: “Tá, pode liberar aí”. No mesmo vídeo, um Uber solicitado por Carlos Bolsonaro chega para buscá-lo às 17h58.

Perguntas sem respostas

Bolsonaro chegou a anunciar em entrevista concedida em Riade, na Arábia Saudita, que vai acionar o ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro para que a Polícia Federal (PF) possa colher um novo depoimento da testemunha. Com isso, o presidente da República estaria incorrendo em crime de responsabilidade, passível de impeachment.

Por que o porteiro mentiria? Por que teria feito anotações erradas no registro do condomínio?

O jornalismo da Rede Globo teria cometido um erro tão primário de divulgar informações sem checar os áudios?

Se era mentira, por que Bolsonaro ficou tão alterado a ponto de, em live na sua página do Facebook, ameaçar a emissora e atacar o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, como responsável por “vazamentos”?

A relação da família Bolsonaro com as milícias acusadas da morte de Marielle e de milhares de outras pessoas no Rio de Janeiro pode estar na base dessas desconfianças?

Respostas nas cenas dos próximos capítulos desse país que segue desgovernado.

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