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Crise do PSL pode fragilizar governo e provocar cenário ‘inóspito’ para Bolsonaro

Nesta segunda-feira, novos capítulos da briga no partido de Bolsonaro, com seu filho Eduardo, atacado por Joice Hasselmann, assumindo a liderança na Câmara

Leonardo Prado e Pablo Valadares (Câmara dos Deputados) e Agência Senado
Leonardo Prado e Pablo Valadares (Câmara dos Deputados) e Agência Senado
Para Valente, Carvalho e Delgado, de oposição, desfecho da crise do partido do presidente é imprevisível

São Paulo – Com o presidente Jair Bolsonaro em viagem à Ásia e Oriente Médio, a crise do PSL do presidente da República, prosseguiu nesta segunda-feira, embora ele próprio tenha dito que “não há crise nenhuma”. Depois de xingamentos e bate-bocas desde a semana passada, além da chamada “guerra de listas”, o deputado Delegado Waldir (GO) resolveu abdicar da liderança da legenda na Câmara nesta segunda-feira (21). O cargo, pelo menos no momento, fica com o deputado e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (SP).  Sua primeira atitude no posto foi destituir os 12 vice-líderes da legenda. Durante o dia, os deputados da sigla ligados à ala do presidente, deputado Luciano Bivar (PSL-PE), prometeram uma nova lista.

Em entrevista ao programa “Pânico”, da rádio Jovem Pan, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), aliada de Bivar pelo menos no momento, continuou com o tiroteio verbal e disse que a liderança de Eduardo pode durar “até o final da tarde, o final da manhã”. Ela garantiu que continua bolsonarista.

“A minha questão é com os moleques”, continuou, em referência aos filhos de Bolsonaro. “Os moleques é que estão atrapalhando a vida do presidente.” Segundo ela, que na semana passada perdeu a liderança do governo em meio à crise, Eduardo “é quase embaixador, quase líder, quase tudo, e integralmente nada.”

A parlamentar disse que vai acioná-lo na Comissão de Ética da Câmara porque o deputado Eduardo “quebra constantemente com o decoro”. Ela informou também ter conversado com Bolsonaro, o pai, na última madrugada. “Todas as crises do governo foram de alguma forma com a participação de algum dos filhos. Ou é negócio envolvendo sei lá o que das contas do Queiroz, ou um tuíte que o Carlos escreve e depois tem que apagar e joga fogo no Congresso,  ou é o Eduardo dizendo que vai unir o partido,  quando dividiu o maior partido de apoio ao presidente.”

A parlamentar, que se coloca como pretendente à prefeitura de São Paulo no ano que vem, defende que deve haver empenho pelas “pautas que empenhamos  na campanha”. Acrescentou que “combate à corrupção é pra todo mundo”. “Pau que bate em Chico bate em Francisco. Se o (Luciano) Bivar está sendo investigado, o filho dele (de Bolsonaro) também está”, disse, em alusão ao senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

“O ministro que hoje ocupa a pasta do Turismo (Marcelo Álvaro Antônio, do PSL) também está sendo investigado no mesmo processo do Bivar. Ou está todo mundo certo ou todo mundo errado”, pontificou Joice.

Segundo a deputada, o líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), descumpriu acordo em que havia se comprometido a não apresentar novas listas pela liderança na Câmara, mas descumpriu a palavra. “O Vitor Hugo só faz bobagem e fez mais uma”, afirmou. “A gente tentou costurar um armistício, mas com quem não tem palavra não dá pra ter armistício.”

“O final dessa crise é imprevisível”, diz o oposicionista Ivan Valente (Psol-SP). “Mas como Bolsonaro tropeça mas próprias pernas, aumenta a imprevisibilidade. Ele ão consegue nem manter a coesão do partido dele. Mas a crise certamente vai fragilizar o governo.” Para o deputado, o PSL “é um partido sem programa, sem projeto, sem ideologia, que só tem interesses econômicos, eleito com fake news , manipulação de internet, e que tem uma bancada instável dirigida por alguém que foi eleito por fake news (o presidente da República).”

Na opinião de Valente, os interesses que expõem “os intestinos” do PSL se relacionam diretamente com as verbas do fundo partidário e do fundo eleitoral, que, somados, podem chegar a 350 milhões para a legenda em 2020, o que ainda depende da aprovação da lei orçamentária.

Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), a crise é “insolucionável e só tende a piorar”. “Não vejo perspectiva de melhora. Não existe reconciliação. Como a Joice vai voltar atrás depois de tudo o que falou? Como essa turma vai voltar atrás depois  do que falaram?” Para ele, as repercussões nas votações de matérias importantes no Congresso podem ser um cenário “bastante inóspito para o governo e o presidente”.

Seja como for, continua Delgado, a tarefa da oposição parece curiosa. “Não é que facilita ou dificulta para nós. Tudo isso bota a oposição de férias. Não precisa brigar com o governo, eles estão brigando entre eles. Tirando o nosso papel. Entramos de férias antes da hora.”

Para o deputado do PSB, se essas “férias” se dão do embate político, cabe à oposição debater pautas temáticas e específicas, como a relativa ao meio ambiente, a questão econômica, as relações internacionais. “Há o derramamento de óleo no Nordeste e não vemos comprometimento do governo. Estão envolvidos nessa confusão e isso não se soluciona. Na questão do desmatamento e das queimadas, ficam torcendo para chover, porque não tomaram nenhuma medida.”

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) não vê grande repercussões da situação, até porque, segundo ele,  quem manda no país não são os integrante do PSL ou do governo. “Os patrões deles estão lá fora. Não é Bolsonaro, quem manda neles é o mercado. A agenda que o Congresso está tocando é com o Davi (Alcolumbre – DEM/AP) e o Rodrigo Maia (DEM-RJ)”, diz. A crise do PSL pode provocar instabilidade no governo? “Eles já são uma instabilidade permanente”, acrescenta o senador.