Congresso Nacional

CPMI das Fake News e CPI da Lava Jato podem desestabilizar o governo, diz analista

“Hoje o governo está muito instável porque parte dos setores que o apoiam estão muito insatisfeitos", avalia cientista política da Ufscar

Luis Macedo/Agência Câmara
Luis Macedo/Agência Câmara
Deputados Jandira Feghali e Paulo Pimenta articulam a instalação da CPI da Lava Jato

São Paulo – A instalação da CPMI das Fake News e a provável instalação da CPI da Lava Jato têm potencial para desestabilizar o governo e enfraquecer ainda mais a já debilitada base de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional. Os conflitos envolvendo o PSL, o partido do presidente da República, insatisfação entre militares e setores da área econômica, incluindo o ministro Paulo Guedes, são fatores a se levar em conta.

“Esses rachas todos de certa forma explicam por que essas CPIs ficaram de pé. É preciso observar qual vai ser o número de parlamentares a favor do governo que vão tentar segurar os resultados dessas comissões, avalia a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

“Hoje o governo está muito instável porque parte dos setores que o apoiam estão muito insatisfeitos. Internamente ele passa por problemas graves. O núcleo duro é a família. No Legislativo a base já é fraca. Se os parlamentares quiserem, com essas duas CPIs eles podem  trazer à tona fatos podem complicar a governabilidade”, diz.

A senadora Selma Arruda (PSL-MT), juíza aposentada, sofreu grande pressão por conta do seu apoio à CPI da Lava Toga, que pode ser instalada no Senado, e anunciou que vai deixar a legenda. Segundo a parlamentar afirmou à Folha de S. Paulo, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – contrário à CPI que investigaria integrantes do Supremo Tribunal Federal – teria gritado com a parlamentar pelo fato de ela ter assinado o requerimento da CPI.

“Eu achava que essas CPIs nem ficariam de pé. Para mim já são resultado desse racha interno dos próprios grupos que apoiavam ou apoiam o governo e de parte do legislativo que já não concorda com o governo há algum tempo”, diz Maria do Socorro.

A CPMI das Fake News foi instalada no Congresso no dia 4 de setembro. É composta por  15 senadores e 15 deputados e terá 180 dias para investigar a atuação de perfis falsos no processo eleitoral de 2018, e também cyberbullying e o aliciamento de crianças para crimes de ódio e suicídio.

“Precisamos aguardar como vão atuar os parlamentares nas comissões para que venha à tona o que estiver oculto, seja da campanha eleitoral, seja depois do uso das redes sociais. É mais um fator que pode desestabilizar o governo”, acredita a cientista política.

Os deputados federais Carlos Zarattini (PT-SP), líder da minoria no Congresso, e Lídice da Mata (PSB-BA), relatora da CPMI, acreditam que a oposição depende da atuação do Centrão para que a CPMI das Fake News tenha resultados importantes. “O Centrão tem sido fiel da balança no Congresso. Imagino que possa continuar sendo”, avalia Lídice. Confira a composição da CPI aqui.

No caso da CPI da Lava Jato, o requerimento precisa ser lido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o colegiado ser instalado. Em postagem no Twitter, a deputada Jandira Feghali disse nesta segunda-feira que, como regimentalmente não há como voltar atrás na tentativa de instalar a “CPI da Lava Jato, a população espera respostas depois de tudo que foi noticiado pelo Intercept”.

Notícia crime no STF

A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) apresentou nesta segunda-feira (16) notícia crime no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar as ilegalidades praticadas por membros da Lava Jato e pelo ex-juiz Sergio Moro.

O principal foco da ação são informações de matéria da Folha de São Paulo em parceria com o The Intercept Brasil, de 8 de setembro, que revelou registros inéditos sobre a divulgação dos áudios de conversas entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Segundo a ABJD, há indícios dos crimes de prevaricação, abuso de autoridade por ato praticado com abuso de poder e denunciação caluniosa.

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