Resistência secular

“A gente não consegue entender por que tanto ódio contra nós”, diz liderança indígena

Mulheres indígenas promovem marcha em São Paulo para denunciar a situação dos povos originários do Brasil, historicamente difícil mas que, sob o governo de Bolsonaro, piora a cada dia

APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Exemplos de perseverança e luta, mulheres indígenas do Brasil fazem marchar nesta quinta-feira em São Paulo

São Paulo — Mais do que uma palavra, resistir é um comportamento dos povos indígenas do Brasil há 519 anos. Embora o preconceito e a violência não sejam novidades, o atual  momento do país, sob o governo de Jair Bolsonaro (PSL), tem recrudescido o ódio contra os índios, seja com ações práticas, seja em discursos nas redes sociais. Para denunciar a situação dos povos indígenas no Brasil e no estado de São Paulo, ocorre nesta quinta-feira (5) a Marcha das Mulheres Indígenas, na Praça da República, centro da capital paulista, a partir das 17h.

“Nunca fizemos mal a ninguém. Sempre estivemos dentro das nossas áreas vivendo de modo tradicional e mesmo assim somos criticados por todos os lados. Infelizmente, as pessoas ainda nos matam através das palavras. Mas não à toa a gente resiste há 519 anos e não vamos nos abalar com essas pessoas que são a favor do governo e aproveitam a fala do presidente para também nos atacar”, analisa Sonia Ara Mirim, liderança da Aldeia Tekoa Ytu, da terra indígena Jaraguá, em São Paulo. Ela foi entrevistada pelo jornalista Glauco Faria na edição de hoje do Jornal Brasil Atual

Sonia afirma que a situação dos povos indígenas no Brasil nunca foi boa, mas que nos últimos meses houve a intensificação do ódio por parte de fazendeiros, grileiros, moradores do entorno de áreas indígenas e empresários. “A gente não consegue entender qual o motivo de tanto ódio em relação a nós. Hoje está mais fácil para eles, que entendem que essas populações têm que ser exterminadas e sair de suas áreas de uma forma ou de outra, seja a tiro ou expulso. Está muito complicado.”

A líder Tekoa relata, com tristeza, que hoje, devido ao uso do celular, há mais informação sobre ocorrências violentas em aldeias distantes. “Não é fácil ver o seu parente sendo arrastado, crianças mortas, escolas pegando fogo”, lamenta, destacando que as mudanças na legislação sobre posse e porte de armas promovidas por Bolsonaro também facilitam a contratação de pistoleiros por inimigos dos indígenas. “A gente não sabe onde vai terminar isso.”

Sonia Ara Mirim acredita que Marcha das Mulheres Indígenas é importante porque muitas pessoas não sabem que São Paulo ainda tem aldeias dos povos originários, além de a maioria da população desconhecer a realidade dos indígenas brasileiros. “Uma marcha focada em assuntos tristes, fatos que acontecem e que muitas pessoas não sabem. A gente precisa mostrar o que realmente está acontecendo, como assassinatos e queimadas. Questões que vão ser denunciadas para que as pessoas tomem consciência e possam ajudar. Está muito difícil viver dentro das comunidades com tantos problemas e um governo que não está nos apoiando.”

Entre os temas abordados na manifestação, as queimadas e desmatamentos na Amazônia e em outras terras indígenas, a situação das mulheres, direitos dos povos e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 187, que permite atividades agropecuárias, minerais e florestais em terras indígenas e já foi aprovada pela Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. “Eles nunca desistem de nos perseguir”, define Sonia Ara Mirim.

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