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Em chat, procuradores da Lava Jato atacavam Raquel Dodge. ‘Dá saudades do Janot’, escreveu Deltan

Integrantes da força-tarefa cogitaram vazar informações à imprensa como forma de pressionar a procuradora-geral da República

Wilson Dias/Agência Brasil
Wilson Dias/Agência Brasil

São Paulo – Reportagem do jornal El País em parceria com o site The Intercept Brasil mostra que os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato criticavam a atuação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e cogitaram pressioná-la por meio de vazamentos de informação na mídia tradicional. Os procuradores viam com desconfiança Dodge desde que se tornou candidata ao posto máximo do Ministério Público brasileiro. Entendiam que ela era aliada do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, desafeto dos integrantes da Lava Jato.

A procuradora-geral é vista como um obstáculo por ser a pessoa responsável pela liberação do orçamento à força-tarefa, tendo como função também enviar ao STF os acordos de delações premiadas que envolvem autoridades com foro privilegiado. Ela ainda vai determinar se a força-tarefa continuará existindo em 2020, uma vez que a atual autorização expira em 9 de setembro. O mandato de Dodge via até 17 de setembro.

Uma das delações não enviadas pela procuradora-geral ao Supremo é a do empreiteiro da OAS Léo Pinheiro, que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em depoimento do caso do tríplex de Guarujá, no litoral paulista. “Russia acabou de perguntar se evoluiu LP”, questionou em 28 de junho de 2018 o procurador Athayde Ribeiro Costa, no chat OAS-Curitiba, referindo-se a um questionamento do então juiz Sergio Moro, apelidado de “Russo” pelos procuradores, sobre a delação de Léo Pinheiro.

A a procuradora Jerusa Viecili responde: “Pessoal, advogados de outros potenciais colaboradores ligando querendo saber da evoluçao das negociaçoes. Brasilia precisa resolver nossas pendencias, senao esse povo todo vai fazer acordo com a PF”. Ela se refere ao fato de que as defesas poderiam buscar a Polícia Federal, em vez do MP, para fechar uma delação premiada.

Os integrantes da Lava Jato reclamam que Dodge sairia de férias entre 3 e 17 de julho, sem resolver “pendências” relacionadas ao acordo. No dia seguinte, o coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol propõe aos demais pressionar Dodge “usando” a mídia “em off”. A estratégia seria passar a informação a jornalistas sem se identificar. “Podemos pressionar de modo mais agressivo pela imprensa”, disse. “A mensagem que a demora passa é que não tá nem aí pra evolução as investigações de corrupção, se queixa. “Da saudades do Janot”, encerra.

À reportagem do El País, a assessoria de imprensa da PGR disse que “não se manifesta acerca de material de origem ilícita” ou a respeito de acordos de delação “que possuem caráter sigiloso”. Já a força-tarefa da Lava Jato afirmou ao veículo que não faria comentários.

Confira a íntegra da reportagem.