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Procuradores da Lava Jato ironizaram luto de Lula por mortes de Marisa Letícia, Vavá e Artur

Deltan comparou Marisa Letícia a vegetal e procurador falou que sua morte era "eliminação de testemunhas". "O safado só queria passear", disse procurador sobre Lula ir a enterro do irmão

Ricardo Stuckert/IL
Ricardo Stuckert/IL
Lula não pôde comparecer ao enterro de seu irmão Vavá. "Só queria passear", afirmou procurador da Lava Jato

São Paulo – Novas conversas da série Vaza Jato publicadas hoje (27) pelo portal Uol, mostra que procuradores integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba ironizaram a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).  Os diálogos também mostram que procuradores divergiram sobre o pedido de Lula para ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em janeiro passado – quando o ex-presidente já se encontrava preso – e que temiam manifestações populares em favor de Lula. Na ocasião, alguns integrantes da Lava Jato disseram acreditar que a apoiadores de Lula pudessem tentar impedir a volta dele à superintendência da PF (Polícia Federal), em Curitiba. A despedida de Lula do neto Arthur Araújo Lula da Silva, que morreu aos 7 anos, em março passado, também foi assunto entre procuradores da Lava Jato e alvo de crítica em chat composto por integrantes do MPF.

As mensagens, trocadas em chats privados no aplicativo Telegram foram enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil. A reportagem reproduz as mensagens exatamente como constam nos arquivos enviados ao Intercept, o que inclui eventuais erros ortográficos ou de informação. Não há indícios de que as mensagens tenham sido adulteradas.

Em 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC hemorrágico. A morte encefálica da ex-primeira-dama foi confirmada em 3 de fevereiro de 2017. Na véspera, a procuradora da República Laura Tessler, do MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba, sugere que Lula faria uso político da perda da mulher.

Minutos após a confirmação da morte de Marisa Letícia ser noticiada, o tema volta ao chat Filhos do Januário 1.

No dia seguinte (4), após nota da colunista do jornal Folha de S.Paulo Mônica Bergamo afirmar que o agravamento da saúde de Marisa podia ter acontecido após busca e apreensão na casa dela e dos filhos e condução coercitiva de Lula, determinada pelo então juiz Sergio Moro no ano anterior, a procuradora Laura Tessler reage.

“Ridículo… Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula”, afirma Laura.

Em abril passado, em entrevista aos jornais El País e Folha de S.Paulo, Lula disse que “Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos dela. Dona Marisa perdeu motivação de vida, não saía mais de casa, não queria mais conversar nada”. O ex-presidente respondia à pergunta sobre a possibilidade de a saúde da mulher ter sido afetada pelas investigações.

Na mesma conversa, o procurador Januário Paludo, que também integra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, coloca sob suspeita as circunstâncias da morte de Marisa Letícia. “A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência”, diz ele, sem especificar à qual outra morte se referia.

A suspeição em relação às circunstâncias da morte da ex-primeira-dama já havia sido exposta por Paludo em 24 de janeiro, quando Marisa Letícia fora internada. Na ocasião, o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirma que Marisa havia chegado debilitada ao hospital. “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”, afirma Deltan. Paludo reage à frase dizendo: “Estão eliminando as testemunhas”.

A maneira com que Lula externou a perda de parentes e eventuais manifestações públicas de apoio ao ex-presidente nos momentos da morte de seus entes, foram debatidas por procuradores em ao menos dois episódios em 2019: em 29 de janeiro, ocasião em que o irmão de Lula, Vavá, morreu em decorrência de um câncer e, a partir de 1º março, quando foi confirmada a morte do neto Arthur.

Em 29 de janeiro, o procurador Athayde Ribeiro Costa compartilha no grupo Filhos do Januário 3 a notícia de que Vavá havia morrido. A resposta de Deltan à informação já indicava o debate que se iniciaria no chat. “Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso”, diz.

As consequências de uma eventual saída de Lula da superintendência da PF em Curitiba e a legalidade da liberação provisória dividem opiniões no chat. Athayde Ribeiro Costa faz uma ressalva em relação à possível repercussão internacional negativa que a proibição traria. “Mas se nao for, vai ser uma gritaria. e um prato cheio para o caso da ONU [Organização das Nações Unidas]”, diz em referência à manifestação que a defesa de Lula apresentaria dias depois ao Comitê de Direitos Humanos do órgão.

O procurador Diogo Castor pondera que “todos presos em regime fechado tem este direito”, e Orlando Martello retoma o argumento do risco à segurança: “3, 4, 10 agentes não o trarão de volta. Aí q mora o perigo caso insistam em fazer cumprir a lei”.

Artur

Em 1º de março, o grupo Filhos de Januário 4 foi surpreendido com o compartilhamento de notícia sobre a morte de Arthur. Dias depois, o laudo da necropsia confirmaria a morte do neto de Lula por infecção generalizada provocada por uma bactéria. A procuradora Jerusa Viecili diz: “Preparem para nova novela ida ao velório”.

Após autorização judicial, Lula foi ao enterro do neto em uma aeronave cedida pelo governo do Paraná. Deltan encaminha aos colegas notícia sobre um contato telefônico feito entre Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se emocionado. O procurador Roberson Pozzobon comenta: “Estratégia para se ‘humanizar’, como se isso fosse possível no caso dele rsrs”.

Leia a reportagem completa no Uol