Protagonismo feminino

Marcha das Margaridas e das mulheres indígenas caminha para ato no Congresso

Mulheres do campo, da floresta, das águas, indígenas e quilombolas caminham juntas pela Esplanada. Haddad lerá carta de Lula em ato

Cláudia Motta/RBA
Cláudia Motta/RBA

São Paulo – “Olha Brasília, está florida. Estão chegando as decididas”, cantam as vozes de milhares de Margaridas reunidas no início da manhã. A Marcha das Margaridas ocupa as ruas da capital federal desde ontem. E caminhará nesta quarta-feira (14) pelo chamado Eixo Monumental, a pista que vai do Parque da Cidade, passa pela Torre de TV, a Rodoviária, o Museu Nacional, a Catedral.

Durante cerca de 4 quilômetros entre o parque e a Praça dos Três Poderes, as decididas Margaridas emprestam sua graça e sua raça aos cartões postais de Niemeyer. Uma jornada e tanto. O tema deste ano dá a dimensão dos desafios: “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”.

Começou com uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem a essa diversidade de lutadoras do campo, da floresta, das águas, indígenas, quilombolas. Jovens que fazem sua primeira marcha unidas a participantes de todas as edições, desde o ano 2000.

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Encontraram-se com indígenas, com estudantes, educadores e trabalhadores e fizeram de Brasília a capital das manifestações do 13 de agosto, o terceiro tsunami da educação e em defesa dos direitos e aposentadorias. E encerraram a noite desta terça num ato cultural onde foi lançado o Festival da Juventude, que começa a ser preparado para ocorrer em 2020.

As marchas das Margaridas, em sua sexta edição, e das Mulheres Indígenas, em sua primeira, se encontram por volta das 9h e seguem a caminhada para o grande ato final diante do Congresso Nacional, previsto para terminar por volta de 12h30.

O ato terá a presença do ex-candidato petista à presidência da República, Fernando Haddad, que fará a leitura de uma carta do ex-presidente Lula à Marcha das Margaridas – em resposta a uma carta enviada a ele, ontem, pelas mulheres da Marcha.

Força de gerações

Josefa Rita da Silva, a Zefinha, tem 73 anos de idade e participou de todas as seis edições da Marcha das Margaridas. Com a vida dedicada à luta por direitos, já perdeu as contas de quando começou a atuar no movimento sindical.  Hoje agricultora familiar aposentada, diz que a primeira Marcha foi a mais difícil em função da repressão, mas também foi a que teve mais força e empenho das participantes. E deve ser exemplo para o ano de 2019.

“A primeira Marcha é o espelho que precisamos ter nessa. Precisamos chamar o povo para o enfrentamento no Brasil, os nossos direitos estão descendo no esgoto. Estão cortando no mais pobre, que é o trabalhador rural.” Sem rodeios, Zefinha manda um recado às mulheres do país: “Não esmoreça, não desista. Enfrente o desafio com coragem porque nem Cristo morreu de braços cruzados. É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.

Bem mais nova que Zefinha, a secretária de Juventude da Contag, Mônica Bufon Augusto, de 28 anos, destaca a grande presença de mulheres jovens na Marcha, dispostas a permanecer no campo, mas com qualidade de vida. “A juventude tá em massa aqui na Marcha, principalmente nesse momento tão desafiador pelo qual estamos passando, com a grande retirada de direitos da classe trabalhadora, que vem afetando muito a juventude.”

Mônica se mostra preocupada com o futuro dos jovens no campo, se não houver políticas que incentivem a permanência e possibilitem uma vida digna. “Se não conseguirmos política públicas para manter a juventude no campo, com  a perspectiva de que o campo é um lugar de vida, daqui 20 ou 30 anos podemos ter um campo muito esvaziado.”

A luta pela permanência no campo une a jovem Mônica Bufon e Helena Gomes da Silva, de 49 anos, oriunda da cidade de Esperantina, no Piauí. Coordenadora do movimento interestadual das quebradeiras de coco babaçu, ela traz à Marcha a denúncia da destruição do seu território, atingido pela contaminação das nascentes de água, o desmatamento, a destruição causada por plantações de eucalipto e a expulsão de famílias.

“Não podemos deixar nosso território ser destruído. Queremos nosso babaçu livre, não queremos ser presas, queremos a liberdade das mulheres, que são independentes, que vivem pela sobrevivência dos seus filhos e netos. Estamos aqui dizendo, para o Brasil e o mundo, que a gente existe e quer resistir. O movimento das quebradeiras resiste a tudo isso. Enquanto a gente estiver no nosso território, queremos nascer, viver, parir e morrer pelo futuro dos nossos filhos e netos.”


Com reportagem de Cláudia Motta, em Brasília

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