Seletividade

Lava Jato jogou ônus da corrupção sobre os trabalhadores de empreiteiras, hoje desempregados

Economista Luiz Gonzaga Belluzzo comenta seletividade na atuação da força-tarefa revelada pela Vaza Jato

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São Paulo – Da metade do século 20 para cá, figuras públicas começaram perder a noção de sua responsabilidade e, mais ainda, das consequências de suas decisões. A prova disso, na análise do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, são as recentes revelações feitas pela Vaza Jato indicando que a força-tarefa da Operação Lava Jato preferiu realizar acordos a aprofundar as investigações sobre os crimes financeiros cometidos por bancos, tudo sob o argumento de evitar “riscos sistêmicos”.

“Usaram dois pesos e duas medidas”, aponta o economista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. “No caso das empreiteiras, o ‘risco sistêmico’ foi para os desempregados, aqueles que perderem emprego, e na queda do investimento em infraestrutura que ocorreu”. De acordo com a reportagem do The Intercept Brasil em parceria com El País, apesar das suspeitas de crimes cometidos pelo setor, a Lava Jato preferiu costurar acordos, ao mesmo tempo em que o coordenador da operação, Deltan Dallagnol, era remunerado em pouco mais de R$ 18 mil pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) por palestra. Prática que, de 2017 para cá, segundo a reportagem divulgada nesta sexta-feira (23), rendeu ao procurador R$ 580 mil.

“As burocracias públicas tinham uma clara noção de sua responsabilidade, dos efeitos de sua decisão, Hoje não, na verdade, eles preferem o protagonismo e o dinheiro do que cumprir as suas funções públicas”, afirma Belluzzo, destacando as consequências da atuação da Lava Jato que fez despencar em 85% as receitas das empreiteiras envolvidas em um momento no qual a economia brasileira começava a patinar, além da interferência direta no número de desempregados, hoje em 12,8 milhões de pessoas. Para o economista, isso deixa claro que os membros da operação carecem de compreensão quanto ao efeito de suas decisões.

“Se nós compararmos com outros países, os Estados Unidos, por exemplo, você jamais poderia fazer uma coisa dessas,  porque eles preservam as empresas e  punem os que cometeram crimes, o que parece óbvio, mas aqui nem tudo que é óbvio é compreendido. Você não pode penalizar as empresas e transformá-las em zumbis, e foi o que eles fizeram, principalmente em um momento em que a economia precisa de instrumentos para sair do buraco”, contesta Belluzzo.

Termômetro da reunião do G7 

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o economista também faz uma análise quanto ao cenário criado a partir da repercussão internacional das queimadas na região da Amazônia. Neste final de semana, os países membros do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França , Itália, Japão e Reino Unido) devem discutir o aumento do número de focos de incêndio em reunião na França.

Especialistas consultados pela RBA correlacionam as queimadas na região à falta de fiscalização e ao crescimento do desmatamento que, de um ano para cá, subiu em até 278%, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ainda assim, o presidente Jair Bolsonaro tem procurado desviar o assunto descredibilizando os institutos de pesquisa brasileiros e acusando ONGs. “Impressionante que ele não tenha ideia do prejuízo que está causando. Precisamos no empenhar para impedir que isso prossiga”, avalia o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

Mesmo o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do país, alertou que a postura do país de descaso frente às queimadas na Amazônia podem impactar no setor do agronegócio, para quem o próprio Bolsonaro e seu governo acenam favoravelmente. “Isso pode causar um dano e um prejuízo econômico e social muito grande no Brasil. Imagina uma rejeição ou interdição dos produtos brasileiros na exportação? Isso pode ocorrer e o governo não trata isso com a prudência, a cautela e a sabedoria necessárias, o presidente transformou isso num bate boca”, descreve Belluzzo.

Confira a íntegra da entrevista