retórica

Com linguagem de 5ª série, Bolsonaro demonstra insegurança com o cargo, diz psicanalista

Para Christian Dunker, piadas de mau gosto e discurso escatológico do presidente, fortalecem regressão cognitiva de sua base eleitoral

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Para psicanalista, Bolsonaro quer criar mais unidade na sua base eleitoral, por isso inflama discursos sobre “cocô” e linguagens de baixaria

São Paulo – As piadas de mau gosto e discursos constrangedores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) são sinais de insegurança do presidente sobre o cargo que ocupa. A afirmação é do psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o presidente se comporta como um aluno da 5ª série com objetivo de  cristalizar sua base de seguidores por meio de uma suposta “autenticidade”.

“Essa transposição da figura pública para a privada tem uma eficácia política, mas sugere temas ligados à moralidade. Ele mostra que tem o poder para dizer coisas impróprias, como uma criança”, explica o psicanalista, ao analisar os discursos escatológicos de Bolsonaro em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

Dunker ainda menciona que a retórica de Bolsonaro comparando seus adversários políticos com fezes vem de um antigo preconceito da sociedade. “Antigamente, criou-se a ideia de que as pessoas que estão abaixo na hierarquia social são mais sujas e os mais acima, são limpos. Isso cria preconceitos. Ele coloca os adversários políticos com problemas de caráter, como pessoas ruins, e o sinal moral mais simples é dizer que cheiram mal, sem higiene”, disse.

As piadas, como a do “troca-troca”, feita com seus ministros Sergio Moro e Ricardo Salles, também dizem sobre o presidente, explica o professor. “A gente vê essas brincadeiras na 5ª série, quando os meninos são inseguros sobre sua sexualidade”, aponta Christian.

Líder de torcida

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à TVE Bahia, disse que Bolsonaro atua como um chefe de torcida, pois a “a quantidade de besteira” que o presidente fala é para agradar a sua torcida composta por “fanáticos”. Dunker classifica esse como “estado de massa”.

“O momento político se entranhou na vida das pessoas. Algumas estão em estado de massa, pois falam com o uniforme de torcida, sem escutar seus argumentos, é uma regressão cognitiva, onde só se reproduzem pensamentos do outro”, afirmou ele, que cita como exemplo a invenção de inimigos. “Isso começou numa briga contra a corrupção, depois contra o PT, depois contra quem quer o mal do governo. E novos inimigos são compostos e produzidos a cada vez, como Paulo Freire e professores. A só aumenta e torna evidente pararam de pensar. Agora, só se categoriza e generaliza o outro.”

Dunker diz que essa retórica ataca também as instâncias de mediação. “As pessoas não enxergam a adversidade como outro ponto de vista, mas o contraponto vira um inimigo. Hoje, 7% dos brasileiros acreditam que a Terra é plena e isso serve para criar unidade entre essas pessoas, por isso apoiam quem fala sobre cocô e a língua da baixaria”, finalizou.

Confira a entrevista completa

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