A força da grana

Deltan Dallagnol queria lucrar com fama da Lava Jato

Mensagens divulgadas neste domingo (14) mostram que procurador montou um plano de negócios de eventos e palestras para aproveitar sua notoriedade com a operação

Arquivo EBC/Abr
Arquivo EBC/Abr

São Paulo – Mensagens divulgadas neste domingo (14) em reportagem conjunta do jornal Folha de S. Paulo com o site The Intercept Brasil mostram que o procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol montou um plano de negócios que envolvia eventos e palestras para poder lucrar financeiramente com a fama obtida por meio da operação.

De acordo com a reportagem, a ideia de criar uma empresa que pudesse aproveitar a notoriedade obtida com a Lava Jato foi explicitada por Deltan em dezembro de 2018 em diálogo com sua mulher. Ainda no mesmo mês, ele e outro integrante da força-tarefa, o procurador Roberson Pozzobon, criaram um grupo de mensagens destinado a discutir o tema, com a participação de suas esposas.

“Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço”, disse Deltan Dallagnol no grupo. Pozzobon respondeu: “Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente, mais barato ii) Menos gente, mais caro. E um formato não exclui o outro”.

Em um diálogo com sua mulher, Deltan evidenciou seus objetivos. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu. “Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, comentou ainda o procurador.

Em 14 de fevereiro de 2019 Deltan propôs que a empresa fosse aberta em nome de suas mulheres, com a organização dos eventos ficando sob responsabilidade de Fernanda Cunha, dona da firma Star Palestras e Eventos.

A legislação proíbe que procuradores gerenciem empresas, permitindo somente que sejam sócios ou acionistas de companhias. As mensagens indicam também que Deltan utilizou os serviços de duas funcionárias da Procuradoria em Curitiba para organizar atividade pessoal de palestrante no curso da Lava Jato.

A nova reportagem repercutiu nas redes e sites na manhã deste domingo. “Embora uma ‘cambalhota’ flexibilize a proibição de outras atividades a juízes e promotores, admitindo a participação ‘esporádica’ remunerada em palestras, não é disso que se trata. São os planos de montagem de uma estrutura profissional – e semi-clandestina, porque formalmente em nome de suas mulheres – para ganhar uma bolada de dinheiro explorando o prestígio alcançado com a Operação, isto é, com o exercício de suas funções”, aponta Fernando Brito, do site Tijolaço.

“O que Deltan Dallagnol JAMAIS poderia imaginar era que o castelo de areia que eles ergueram (baseados em mitos como o da seriedade, da honestidade e da retidão moral dos procuradores) seria desmanchado tão facilmente pela onda avassaladora da #VazaJato. DD se desmanchou!”, disse em seu perfil no Twitter o deputado federal Paulo Pimenta (PT-SP).

À reportagem, o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, diz que realiza palestras para promover a cidadania e o combate à corrupção. Segundo ele, o trabalho ocorre de maneira compatível com a atuação no Ministério Público Federal. Deltan afirma ainda que não abriu empresa ou instituto de palestras em nome dele e do procurador Roberson Pozzobon ou de suas esposas e que não atua como administrador de empresas.

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