#HackerDeTaubaté

Busca por ‘hackers’ encobre falta de explicações das ‘instituições’ para estragos da Vaza Jato

Ação da PF – que não encontra Queiroz – para descobrir supostos "hackers" busca narrativa paralela contra evidências de que a Lava Jato cometeu ilegalidades

reprodução/twitter
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"Hackers russos" que teriam invadido o celular de Moro foram encontrados em... Araraquara; na casa da avó

São Paulo – “Poxa, prenderam os hackers que vazaram as mensagens que não são verdadeiras, mas que se fossem verdadeiras, não tem nada demais”, alfinetou um usuário do Twitter. Na manhã desta quarta-feira (24), a #HackerDeTaubate chegou aos trending toppics da rede social. Em pauta, fatos estranhos que rondam a história de que a Polícia Federal teria prendido “hackers” relacionados ao escândalo da Vaza Jato.

O editor-executivo do The Intercept Brasil, Leandro Demori, respondeu a provocação do ministro da Justiça, Sergio Moro que, via redes sociais, ligou a prisão de hackers à série de matérias do site. “Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você”, disse.

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Dez pontos para entender a gravidade da relação entre Moro e Dallagnol Anteriormente, a rede bolsonarista –  que defende a todo custo as ações ilegais do ministro Moro quando era juiz federal responsável pela Lava Jato – afirmava que as conversas obtidas pelo The Intercept Brasil eram fruto de um trabalho apurado, coisa de especialista. Chegaram a cogitar envolvimento de espiões russos. Pois bem, agora prenderam “hackers” na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Um deles DJ, outro morando com a avó.

Eles seriam os responsáveis por quebrar o sistema de segurança do Telegram e invadir o celular de ministros e procuradores da República.

Profecia

Uma semana antes da prisão dos “hackers”, o Intercept já havia adiantado: “Diversas fontes disseram ao Intercept ao longo dos últimos dias que a Polícia Federal, durante o afastamento do ministro Sergio Moro, está considerando realizar essa semana uma operação que teria como alvo um suposto ‘hacker’ que hipoteticamente seria a fonte do arquivo. Esse suposto hacker seria estimulado a ‘confessar’ ter enviado o material ao Intercept e o adulterado”, disse o veículo, sete dias antes de a profecia se realizar.

Leandro Demori também lembrou disso hoje (24): “Muita gente está de olho nessa profecia auto-realizável que começou com notas falsas plantadas na parte podre da imprensa e pretende terminar numa grande farsa pra enganar a opinião pública. Nós temos os fatos; o que vocês têm eu não sei, mas desconfio”.

Imprensa escudo

Parte da imprensa que atua como porta-voz de Moro, como o site O Antagonista, apresenta (sempre em “primeira mão”) as novidades do ponto de vista dos envolvidos no esquema de Moro na Operação Lava Jato. Hoje, veio com a “bomba” de que hackers teriam confessado que cometeram crimes. Jornais da Rede Globo também dão amplo destaque para a suposta ligação entre criminosos e o trabalho de jornalistas.

O alvo deste sistema de criminalização do jornalismo é o premiado Glenn Greenwald, editor-chefe do Intercept, que lidera a série de reportagens da Vaza Jato. Ele acusa Moro de perseguição. O ministro já teria, inclusive, movimentado estrutura de governo para investigar o jornalista no exercício de seu trabalho, algo que a Constituição Federal proíbe.

“Sergio Moro – sendo Sergio Moro – está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico. Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa”, disse.

“Nada mudou, e nada nunca vai mudar, a montanha da evidência mostrando que a) inúmeros jornais, revistas e outras pessoas públicas verificaram a autenticidade da material publicada por nós, Folha, Veja e tantas outras e b) Moro, Deltan e LJ cometerem impropriedades graves”, completou Glenn.

O jornal O Estado de S. Paulo, habitual depositário de vazamentos seletivos da Lava Jato, também tem sua técnica jornalística ironizada por Leandro Demori: “Para o Estadão, os diálogos são ‘supostos’, mas os hackers não”, observa.

Aparências x evidências

Glenn Greenwald, ontem no Twitter, fez a pergunta que não queria calar, sobre a eficiência seletiva da estrutura policial subordinada a Sergio Moro: “Não é interessante que a PF tenha supostamente encontrado um grupo do que Moro alegou serem hackers altamente sofisticados tão rapidamente, mas ninguém consegue encontrar Queiroz?”.

Hoje, em meio às aparências de que o o estafe de Moro estaria em operação com objetivo de produzir uma contra-narrativa, a ação de “hackers” versus a conduta ilegal dos operadores da Lava Jato, Gleen listou um conjunto de evidências – manifestadas por diferentes veículos, por integrantes do MPF e até pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF Luís Roberto Barroso – da veracidade dos conteúdos revelados pela Vaza Jato. No Twitter, é tamanha a invasão de usuários entre uma evidência e outra, alguns humanos outros nem tanto, que a RBA separou a sequência. Confira:

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