Busca por ‘hackers’ encobre falta de explicações das ‘instituições’ para estragos da Vaza Jato
Ação da PF – que não encontra Queiroz – para descobrir supostos "hackers" busca narrativa paralela contra evidências de que a Lava Jato cometeu ilegalidades
Publicado 24/07/2019 - 18h17
São Paulo – “Poxa, prenderam os hackers que vazaram as mensagens que não são verdadeiras, mas que se fossem verdadeiras, não tem nada demais”, alfinetou um usuário do Twitter. Na manhã desta quarta-feira (24), a #HackerDeTaubate chegou aos trending toppics da rede social. Em pauta, fatos estranhos que rondam a história de que a Polícia Federal teria prendido “hackers” relacionados ao escândalo da Vaza Jato.
O editor-executivo do The Intercept Brasil, Leandro Demori, respondeu a provocação do ministro da Justiça, Sergio Moro que, via redes sociais, ligou a prisão de hackers à série de matérias do site. “Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você”, disse.
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Eles seriam os responsáveis por quebrar o sistema de segurança do Telegram e invadir o celular de ministros e procuradores da República.
Profecia
Uma semana antes da prisão dos “hackers”, o Intercept já havia adiantado: “Diversas fontes disseram ao Intercept ao longo dos últimos dias que a Polícia Federal, durante o afastamento do ministro Sergio Moro, está considerando realizar essa semana uma operação que teria como alvo um suposto ‘hacker’ que hipoteticamente seria a fonte do arquivo. Esse suposto hacker seria estimulado a ‘confessar’ ter enviado o material ao Intercept e o adulterado”, disse o veículo, sete dias antes de a profecia se realizar.
Leandro Demori também lembrou disso hoje (24): “Muita gente está de olho nessa profecia auto-realizável que começou com notas falsas plantadas na parte podre da imprensa e pretende terminar numa grande farsa pra enganar a opinião pública. Nós temos os fatos; o que vocês têm eu não sei, mas desconfio”.
Imprensa escudo
Parte da imprensa que atua como porta-voz de Moro, como o site O Antagonista, apresenta (sempre em “primeira mão”) as novidades do ponto de vista dos envolvidos no esquema de Moro na Operação Lava Jato. Hoje, veio com a “bomba” de que hackers teriam confessado que cometeram crimes. Jornais da Rede Globo também dão amplo destaque para a suposta ligação entre criminosos e o trabalho de jornalistas.
O alvo deste sistema de criminalização do jornalismo é o premiado Glenn Greenwald, editor-chefe do Intercept, que lidera a série de reportagens da Vaza Jato. Ele acusa Moro de perseguição. O ministro já teria, inclusive, movimentado estrutura de governo para investigar o jornalista no exercício de seu trabalho, algo que a Constituição Federal proíbe.
“Sergio Moro – sendo Sergio Moro – está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico. Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa”, disse.
“Nada mudou, e nada nunca vai mudar, a montanha da evidência mostrando que a) inúmeros jornais, revistas e outras pessoas públicas verificaram a autenticidade da material publicada por nós, Folha, Veja e tantas outras e b) Moro, Deltan e LJ cometerem impropriedades graves”, completou Glenn.
O jornal O Estado de S. Paulo, habitual depositário de vazamentos seletivos da Lava Jato, também tem sua técnica jornalística ironizada por Leandro Demori: “Para o Estadão, os diálogos são ‘supostos’, mas os hackers não”, observa.
Aparências x evidências
Glenn Greenwald, ontem no Twitter, fez a pergunta que não queria calar, sobre a eficiência seletiva da estrutura policial subordinada a Sergio Moro: “Não é interessante que a PF tenha supostamente encontrado um grupo do que Moro alegou serem hackers altamente sofisticados tão rapidamente, mas ninguém consegue encontrar Queiroz?”.
Hoje, em meio às aparências de que o o estafe de Moro estaria em operação com objetivo de produzir uma contra-narrativa, a ação de “hackers” versus a conduta ilegal dos operadores da Lava Jato, Gleen listou um conjunto de evidências – manifestadas por diferentes veículos, por integrantes do MPF e até pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF Luís Roberto Barroso – da veracidade dos conteúdos revelados pela Vaza Jato. No Twitter, é tamanha a invasão de usuários entre uma evidência e outra, alguns humanos outros nem tanto, que a RBA separou a sequência. Confira:
1/ Sergio Moro – sendo Sergio Moro – está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico. Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa. Vamos revisá-la:
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
2/ Primeiro, lembre-se que no dia em que publicamos, nem Moro nem LJ negaram a autenticidade do material. Eles apenas negaram impropriedades. Foi só mais tarde que eles inventaram essa tática, quando perceberam que seus aliados estavam abandonando-os. Como a @Folha reportou: pic.twitter.com/ssFlcRHY40
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
3 / Depois, a Folha trabalhou “lado a lado” com a nossa equipe e verificou a autenticidade do arquivo – inclusive comparando os chats dos seus repórteres com os promotores com o original. Como qualquer hacker poderia forjar isso? Obviamente, isso seria impossível. pic.twitter.com/nURaOOwZL5
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
4/ Depois da investigação da Folha, @Veja fez a mesma coisa, e concluiu a mesma coisa: o material é autentico, e contém coisas que um hacker nunca conseguiria forjar, inclusive conversas com seu próprios repórteres. Autentico “palavra por palavra”: @Veja https://t.co/uUY1YD4XEA pic.twitter.com/lLKG8yZlFu
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
5/ Depois que Veja e Folha provaram de forma independente a autenticidade, um procurador do MPF disse ao @Correio que recuperou as conversas de seu telefone, comparou-as com o que publicamos e descobriu que elas eram completamente verdadeiras. Como um hacker poderia forjar isso? pic.twitter.com/jkTw6R81yq
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
6/ Então temos o @BuzzFeedBrasil. Duas vezes designaram uma equipe de jornalistas investigativos para determinar se o que publicamos correspondia ao que se sabe sobre a LJ. Ambas as vezes concluíram que o material que publicamos estava alinhado com todos os eventos conhecidos. pic.twitter.com/C8Qr2gbKbq
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
7/ Temos então a distinta senadora, @maragabrilli, que confirmou que a mensagem dela que publicamos era, na verdade, totalmente precisa. Como, @SF_Moro , seus hackers poderiam ter forjado algo assim? https://t.co/7SIGXyzE2K
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
8/ Todos nos lembramos do Faustão: ele confirmou sem hesitação a mensagem que enviou a Moro, publicada pela Veja. Obviamente, não havia como um hacker forjar isso. Esta é mais uma prova de que o material é autentico. https://t.co/p2LMVym0vd
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
9/ Ainda nesta semana, mais uma confirmação veio de um ministro do STF: o ministro Barroso confirmou que a reunião privada entre ele, Moro e LJ – publicada a partir do arquivo – aconteceu. Não há como um hacker forjar isso. https://t.co/zGQWDXp5M7
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
10/ Não nos esqueçamos de que o próprio Moro – relutante mas claramente – admitiu várias vezes que as mensagens secretas eram reais. Ele confessou dar sugestões a DD sobre testemunhas e se desculpou com a MBL por chamá-las de “tontos” – coisas que um hacker não poderia saber.
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
11/ Finalmente, temos a mais forte evidência de todas: uma reportagem investigativa completa do @elpais_brasil no qual eles não apenas confirmaram a autenticidade das mensagens, mas também entrevistaram um outro procurador do MPF que confirmou que as mensagens são reais. pic.twitter.com/3eAW2yZSzm
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019
12/ Quão mais conclusivo pode ser? As únicas pessoas que cairão no jogo cínico de Moro são aquelas que querem cair. Qualquer um com a mínima racionalidade revisará essa evidência e verá facilmente que – como todos os jornalistas concluíram – ela é autêntica e bem incriminadora. pic.twitter.com/hTdI3T8DOQ
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) July 24, 2019