Intolerância

Rede Nossa São Paulo identifica omissão da prefeitura no combate à LGBTfobia

Pesquisa constata percepção negativa de paulistanos em relação às políticas públicas voltadas à comunidade LGBTQI+ na cidade de São Paulo

Tânia Rêgo/Arquivo Agência Brasil
Tânia Rêgo/Arquivo Agência Brasil
"A população LGBTQIA+. É parte fundamental do Brasil."

São Paulo – A percepção de paulistanos em relação às políticas públicas voltadas à comunidade LGBTQI+, na cidade de São Paulo é negativa. De acordo com a pesquisa Viver em São Paulo: Direitos LGBTQI+, da Rede Nossa São Paulo, 25% da população acredita que a administração municipal não faz “nada” no combate à LGBTfobia e 43% consideram que “faz pouco”. O levantamento mostra ainda que os paulistanos enxergam a cidade como mais intolerante.  Em 2018, o índice de pessoas que classificava a cidade como tolerante era de 50%, enquanto neste ano esse número baixou para 40%. Para Vítor DiCastro, ator e integrante da página Quebrando o Tabu, as pessoas tomaram um pouco mais de consciência após o resultados das últimas eleições.

“Diversos políticos conservadores e violentos, como Jair Bolsonaro, ganharam espaço e as pessoas que não sofriam essa intolerância acordam. Não foi a cidade que ficou mais intolerante, mas as pessoas que acordaram”, afirmou, durante a apresentação da pesquisa. Ele ainda conta que foi na capital paulista que foi vítima de homofobia pela primeira vez, após sair de Caçapava, sua cidade natal, no interior paulista. “No interior a visão das pessoas é muito limitada. Eu vim para São Paulo acreditando que era a Nova York brasileira, sendo tolerante e diversa. Assim que eu mudei para cá sofri o primeiro ataque homofóbico físico e direto.”

Políticas públicas

Os dados da Rede Nossa São Paulo revelam que três em cada cinco paulistanos consideram importante a elaboração e implementação de políticas públicas municipais que promovam a igualdade de direitos para a comunidade LGBTQI+. Para 29% é “muito importante” e para 31%, “importante”. Apenas 11% consideram “nada importante”.

Na avaliação do coordenador geral da entidade, Jorge Abrahão, apesar do contexto nacional pouco favorável, com o governo Bolsonaro, as gestões municipais não podem se omitir. “O governo federal tem agido com retrocesso. Então, as cidades precisam ter um protagonismo. Não é porque a esfera federal trabalha de forma retrógrada que as cidades não podem criar políticas públicas”, afirmou Abrahão.

Mais da metade da população paulistana também apoia a criação de uma lei que criminalize a LGBTfobia: 55% das pessoas. No último dia 14, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou crime a prática de homofobia. Entre as pessoas favoráveis, a maioria é de mulheres e jovens. Já o maior público contrário à criminalização está entre os homens e pessoas com idade entre 35 e 44 anos.

Apesar de a população manifestar apoio ao combate da LGBTfobia, Vitor lembra que ainda há muita resistência para que outras medidas sejam reconhecidas pela sociedade. “A gente precisa buscar políticas públicas para que as pessoas entendam o que é empatia e solidariedade. A sociedade é preconceituosa, onde muitos são a favor da criminalização da homofobia, mas ao mesmo tempo é contra casais gays adotarem crianças. É um limite que eles colocam e falam: vocês podem chegar até aqui, mas só”, critica.

Preconceito

A pesquisa também mostra que 40% dos entrevistados sofreram ou presenciaram alguma situação de preconceito por causa da orientação sexual ou identidade de gênero. Segundo os dados, espaços públicos e transporte público são os mais citados (37%), seguidos de instituições de ensino (32%) e bares ou restaurantes (31%).

A assistente social Fernanda Gomes de Almeida, integrante da Coletiva Luana Barbosa, diz que sente esse preconceito no bairro em que reside, onde não consegue andar de mão dada com a companheira, muito menos se sentir segura. E lamenta que o preconceito não afeta apenas o casal. “Eu tenho um filho de 9 anos. Recentemente, levei ele a uma festa junina e não consegui ficar perto da minha esposa, porque tinha medo do que poderia acontecer com ele. Meu filho é uma vítima indireta da lesbofobia. Por isso, mesmo com a decisão do STF, não acho que ficarei mais segura andando na rua com minha esposa”, disse.

Entre as pessoas que sofreram ou presenciaram situações de preconceito por conta de orientação sexual ou identidade de gênero destacam-se mulheres pretas ou pardas, que têm entre 16 e 24 anos, com escolaridade média e renda familiar mensal de até dois salários mínimos.

A pesquisa revela que 26% da população paulistana não se informa sobre os direitos LGBTQI+. Para VitorDiCastro, do Quebrando o Tabu, as pessoas ainda ignoram a importância de políticas para a comunidade. “Elas não buscam informação, mesmo ela sendo entregue e mastigada. Isso é falta de empatia, e medo de perder privilégios. Quando vejo essa quantidade de pessoas, é difícil saber como sensibilizá-las”, lamentou.