Vaza-Jato

Lava Jato: é o fim. Da picada, pelo menos

The Intercept revelou chats que escancaram colaboração proibida de Sergio Moro com Deltan Dallagnol na Lava Jato

LAERTE
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Exige-se a renúncia do ministro Sérgio Moro. Provavelmente não vai acontecer. Pode ser até que Bolsonaro o condecore com a Ordem de Torquemada

Diante do descalabro jurídico em que o Brasil se transformou graças às arbitrariedades cometidas dentro e a partir do seu Poder Judiciário e aparatos policiais, é impossível prever o que pode acontecer depois das revelações trazidas pelo site The Intercept sobre as conspirações e tramoias tramadas e cometidas pelos procuradores de Curitiba, Deltan Dallagnol à frente, e o então juiz Sérgio “Vaza-Jato” Moro.

Mas algumas conclusões se impõem:

Apesar deles estarem tentando minimizar as revelações e seus efeitos, a credibilidade do conjunto, que caía a olhos vistos, foi reduzida a zero. Melhor: abaixo de zero.

Exige-se a renúncia do ministro Sérgio Moro. Provavelmente não vai acontecer. Pode ser até que Bolsonaro o condecore com a Ordem de Torquemada.

Os efeitos devastadores das revelações não se limitam aos procuradores, à Lava-Jato e a Sérgio Moro. Arrastam no mesmo naufrágio toda a mídia tradicional brasileira que fez deste bando seus heróis prediletos, incensando-os durante anos e sem parar como autênticos “salvadores da pátria”. E que impulsionou a injusta condenação de Lula para alija-lo da eleição de 2018 e também para alija-lo da História e varrer dela a herança de seus mandatos no governo, ajudando a eleição do atual fake presidente.

Pede-se a libertação de Lula, a anulação dos processos contra ele e a realização de novas eleições. Está correto, mas dificilmente isto acontecerá, sobretudo a última reivindicação. Ao contrario, esperemos novas manipulações retóricas e jurídicas em sentido contrario. O que não quer dizer que se deva esmorecer e desistir das reivindicações.

Os que continuam pregando a credibilidade da Lava Jato, de Moro e da eleição de Bolsonaro, seja por má fé ou por padecimento da “alucinação negativa” coletiva, continuarão na sua rota destrutiva e auto-destrutiva para os últimos, vítimas de sua cegueira voluntária ou involuntária.

É necessário estender a onda criada na frente internacional, com as seguintes ações:

  • comentar as reportagens que venham a sair sobre o tema, bem como divulga-las amplamente.
  • exigir que a Transparency International, que tem sede em Berlim, cancele o prêmio anual dado à Lava Jato em 2016. Naquele ano conversei informalmente com um dos diretores da Transparency sobre o assunto, e entre o leque de posições que expus, que iam desde a repulsa a ela por ser uma conspiração contra o Brasil e Lula em particular (que era e é minha posição), até o apoio entusiasmado, ele ficou com a de que “bem, ela é cheia de defeitos, mas é o que temos para combater a corrupção”. Está na hora de mostrar que a Lava Jato é, ela mesma, uma corrupção e uma corrosão do Poder Judiciário brasileiro, sobretudo depois do vergonhoso episódio dos bilhões reclamados pelos procuradores a partir da condenação da Petrobras nos Estados Unidos. Pode-se entrar no site da T. I. e procurar a ranhura “Contact Us” ou algo assim.
  • pedir urgência para o pronunciamento do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos sobre o processo contra Lula (mensagens para InfoDesk@ohchr.org, a/c Exma. Alta Comissária Michelle Bachelet ou Honorable High Comissioner M. B.)

Outros corolários que se impõem:

Quem com gravações e hackeamentos fere, com gravações e hackeamentos poderá ser ferido.

Ressalte-se a extrema mediocridade de todos os envolvidos, bem como sua desfaçatez e sensação de impunidade, registrando suas atitudes descabidas como se nunca pudessem ser desnudados em público.

Exacerbando a herança inquisitorial do sistema jurídico brasileiro, em que o juiz de instrução passa a ser também o juiz de julgamento em primeira instância, o então juiz Sergio Moro vestiu a toga de Roland Freisler (o juiz preferencial dos nazistas), Andrey Vyshinsky (o juiz preferencial do estalinismo) e de Joe McCarthy, que antes de tornar-se senador também foi juiz.

Definitivamente Glenn Greenwald tornou-se o “nosso” Julian Assange, o “nosso” Edward Snowden (que ele, aliás, entrevistou). Ele que se cuide, e que Deus, Alá, Buda, Tupã, a Pachamama e todos os Orixás o protejam e ao The Intercept. Penso que é importante manifestar solidariedade a ele e ao site (glenn.greenwald@theintercept.com).

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