14 de junho

Greve geral em Brasília tem paralisações e atos em vias estratégicas

Rodoviários decidiram não atender à liminar do TRT após reunião realizada à noite; paralisação no setor de transporte público teve grande adesão

Rodrigo Pilha
Rodrigo Pilha
No centro da cidade, durante a manhã, o ambiente era mais silencioso que nos outros dias, com lojas fechadas e muita gente em casa

Brasília – A greve geral afetou os setores de transportes e educação no Distrito Federal, o que está levando Brasília e as 31 regiões administrativas a terem uma sexta-feira marcada por escolas fechadas e muitos estabelecimentos vazios. A grande surpresa dos organizadores do movimento foi a reação à decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) ontem (13). Os magistrados decidiram considerar ilegal qualquer paralisação das empresas de ônibus e estabeleceram multa por empresa de R$ 100 mil se ficassem paradas. Mesmo assim, a maior parte dos cobradores e motoristas não compareceu ao trabalho, o que manteve os ônibus nas garagens.

Os rodoviários decidiram não atender à liminar do TRT após reunião realizada à noite. Eles resolveram seguir com a greve e os diretores do sindicato se programaram para ir desde a madrugada para as portas das garagens tentar convencer os integrantes da categoria a aderir. A estratégia deu certo.

Também o Metrô do Distrito Federal, que está em greve há 46 dias, acompanha a paralisação e está funcionando apenas com parte do efetivo determinado para operações essenciais.

Com a adesão do setor de transporte, trabalhadores que insistiram em ir para as paradas de ônibus voltaram para casa.  Os que resolveram pegar condução de qualquer jeito tiveram de pagar o dobro do valor da passagem que pagam diariamente no uso de lotações.

Padarias e lanchonetes chegaram a contratar carros de aluguel para conseguir ter alguns trabalhadores e garantir o funcionamento, embora menor, dos seus negócios.

“Paguei a uma van para trazer ao menos seis dos meus empregados que ficaram de vir ao trabalho”, contou o engenheiro Alcir Siqueira, proprietário de uma padaria na Asa Norte, que pediu para o nome do estabelecimento não ser citado. O negócio está funcionando com 20% do seu efetivo e tem recebido bem menos pessoas que em dias normais, conforme contou ele. Alcir disse não ser favorável ao governo nem gostar da proposta de reforma da Previdência. “Na verdade, tentei funcionar com parte dos serviços porque comércio é comércio e já vivemos uma crise, mas reconheço que o movimento tem todos os motivos para acontecer”, afirmou.

Rodoviária vazia

Sem ônibus e com acesso difícil aos trens do metrô, várias pessoas tiveram de se deslocar em seus veículos nesta sexta-feira. A principal imagem observada em frente à Rodoviária do Plano Piloto e nas paradas de ônibus na capital do país esta manhã foram vans se oferecendo para levar passageiros. Mas em muitas paradas, na Asa Norte e Sul, não se viam passageiros.

No centro da cidade, durante a manhã, o ambiente era mais silencioso que nos outros dias, com lojas fechadas e muita gente em casa. Mas em avenidas como a L2 Norte, próxima à Universidade de Brasília (UnB), o destaque foi a manifestação realizada pelos estudantes pedindo mais atenção para a educação pública.

Eles portavam faixas, cartazes e bandeiras e pediam o apoio dos cidadãos “na luta que é de todos nós”, conforme cartaz levantado pela aluna de Letras Eliane Fonseca. “Pedimos a quem não quiser participar de manifestações que fique em casa, não tem problema. O importante é mostrarmos que unidos, temos força para parar o país e dizer aos parlamentares e ao presidente que não queremos nem essa proposta de reforma da Previdência nem uma educação sucateada como o que estamos vendo”, disse ela.

O estudante de Direito Allyson Araújo, integrante da União Nacional dos Estudantes (UNE), pedia mais verbas para a educação e para que a sociedade ficasse atenta ao que chamou de “ataques à educação pública do país”.

Também foram observadas manifestações na BR-70 e no Eixo Monumental, em frente ao Palácio do Buriti. No Eixo Monumental se concentraram professores da rede pública de ensino do Distrito Federal e servidores do governo local. Eles incluíram ao protesto, além de críticas à mudança das regras previdenciárias e pedidos de mais verbas para a educação, solicitações ao governador Ibaneis Rocha (MDB) por reajuste salarial e pelo cumprimento da meta 17 do Plano Distrital de Educação. Receberam, por meio de nota, a informação da Secretaria de Educação de que as aulas não ministradas deverão ser repostas.

Bancários também aderiram à greve geral, com agências fechadas em Brasília e cidades satélites. Já a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condisef) informou que a adesão da categoria à greve foi grande. Os associados da Condisef representam 80% dos 625 mil servidores federais, além de aposentados e pensionistas.

Nos ministérios, muita gente compareceu ao trabalho, mas foram sentidas ausências em locais estratégicos como postos de atendimento do INSS, que ficaram fechados.

“Decidimos aderir após assembleia num movimento legítimo. Vamos lutar pelo fim do desmonte do serviço público, contra a liquidação das empresas públicas e contra essa reforma, que acaba com a nossa aposentadoria”, disse o secretário-geral da Condisef, Sérgio Silva. As categorias do setor de saúde e policiais resolveram não participar da greve.