dias de luta e de glória

Filme cearense leva prêmio da mostra paralela ‘Um Certo Olhar’, em Cannes

Longa do diretor Karim Aïnouz levou um dos prêmios mais importantes do maior festival do mundo por "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão". Em discurso, destacou "ameaças (no Brasil) contra a educação, a criatividade, a cultura e a diversidade"

São Paulo – O longa-metragem A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, do diretor cearense Karim Aïnouz, levou hoje (24) o prêmio Un Certain Regard (Um Certo Olhar), em Cannes. A honraria da mostra paralela integra a seleção oficial do principal festival de cinema do mundo, sediado na França, e é uma das maiores conquistas do cinema nacional.

Em seu discurso vitorioso, Aïnouz destacou a difícil conjuntura social no Brasil, onde a Cultura e a Educação, especialmente, sofrem constantes ataques. “Estamos passando por um momento no Brasil aonde a intolerância é algo muito forte. As ameaças contra a educação e contra a criatividade, a cultura e a diversidade são gigantescas”, disse em português.

“Queria dedicar esse prêmio à vivacidade do cinema brasileiro”, completou, antes de homenagear a equipe do filme e a atriz Fernanda Montenegro. O diretor ainda reverenciou outros filmes brasileiros que integram o festival deste ano. Amanhã, acontece a maior premiação do festival, que também conta com um concorrente brasileiro, o filme Bacurau, do diretor Kleber Mendonça Filho.

Após a premiação, o diretor disse à Folha de S.Paulo, que a vitória “é a prova de que as políticas culturais que vêm sendo desenvolvidas no país rendem frutos enormes”.

As políticas públicas no setor do cinema vêm sofrendo ameaças constantes e vive um momento de paralisia com o governo do presidente, Jair Bolsonaro (PSL). A Ancine vive um impasse junto ao Tribunal de Contas da União, editais estão parados, a Petrobras, sob Bolsonaro, cortou todos os investimentos no setor cultural, entre outros ataques. Sobre isso, o diretor disse que “há uma vitalidade que não pode ser ceifada”.

Em matéria da RBA publicada em abril, a ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural no Ministério da Cultura (extinto por Bolsonaro), Ivana Bentes disse algo semelhante. “O campo cultural é resiliente. Talvez o ataque acelere a emergência de novos modelos produtivos. Há crises que podem acelerar sistemas novos. A cultura não vai morrer com ataques, ataques burros, mas sobreviverá.”