Direitos já

Crise aproxima forças políticas em busca de uma agenda comum pela democracia

Representantes de vários partidos políticos, incluindo os adversários PT e PSDB, conversam reservadamente enquanto tentam encontrar alternativas

Divulgação/divulgação/ricardo stuckert
Divulgação/divulgação/ricardo stuckert
Gregori, Boulos e Haddad: mistura lembra a mobilização das Diretas Já

São Paulo – Forças políticas que se distanciaram nos últimos anos começaram a “quebrar o gelo” na semana que passou, com uma reunião em São Paulo que pretende unir esforços na defesa da democracia e de uma agenda social (circulou o bordão “direitos já”) e econômica mínima. O desafio, no futuro próximo, é juntar mais segmentos e obter coesão para tentar consolidar a ideia de uma “frente democrática”.

O encontro ocorreu no apartamento do jurista Pedro Serrano, na capital paulista. Juntou integrantes de vários partidos e movimentos, sem caráter oficial. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-ministro José Gregori (governo FHC) chegou a comentar: “Uma mistura dessas só vi nas Diretas Já”. Era uma referência a movimento suprapartidário em 1984, penúltimo ano da ditadura, quando as ruas foram tomadas por multidões pedindo o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República. A emenda não foi aprovada por apenas 22 votos, e o Brasil só voltaria a escolher seu presidente em 1989.

Um dos organizadores da conversa, o advogado Marco Aurélio Carvalho fala na busca de um “pacto pela manutenção da democracia e do Estado de direito”, em um momento delicado do país. Segundo ele, o esforço é no sentido de “buscar uma agenda comum e deixar de lado diferenças programáticas e ideológicas”.

Além de Serrano, Carvalho e Gregori, estiveram lá dois ex-candidatos à Presidência da República, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o líder sem-teto Guilherme Boulos (Psol), os ex-ministros Aloizio Mercadante (PT), o ex-senador José Aníbal e o vereador paulistano Daniel Annenberg (PSDB), o presidente do PV, José Penna, nomes do PDT, Psb, Cidadania, PCdoB, como o deputado Orlando Silva, e da Rede, além de integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Orlando Silva, por exemplo, chamou o encontro de “degelo”. Ele disse esperar que a iniciativa ajude a combater o sectarismo, “que tem sido uma marca da conjuntura política”.

De acordo com Marco Aurélio Carvalho, um dos próximos passos será procurar governadores, basicamente da região Nordeste, ou mais alinhados com posições de centro-esquerda. As conversas preliminares consideram vários cenários, inclusive a hipótese de chegada ao poder de Hamilton Mourão, mas é uma saída que não agrada a ninguém, de acordo com o advogado. “Não vou defender o que eles defenderam no caso da Dilma. Para ela, não estavam presentes as condições para o impeachment”, assinala.

Nesta sexta-feira (24), integrantes do grupo iriam procurar o ex-governador e atual senador José Serra (PSDB). Durante a semana que passou, o ex-governador e ex-candidato tucano Geraldo Alckmin teria sinalizado desinteresse de participar das conversas. Para o advogado, um dos desafios é buscar aproximação com “lideranças históricas do PSDB que dialogam com a social-democracia”.

Nesse sentido, a presença do governador paulista, João Doria, é considerada um empecilho. Um dos integrantes da reunião conta que o tucano chegou a defender a expulsão do vereador presente ao encontro. Doria é visto como representante de uma “direita atrasada”, que tenta organizar o partido como o antigo DEM, no sentido do PFL, seu antecessor, um partido que se origina da sustentação à ditadura.

Apesar do desgaste intenso, o grupo sabe que Jair Bolsonaro ainda tem algum apoio popular. Por isso, considera importante envolver a sociedade no debate e ampliar as forças identificadas com a democracia. “A conjuntura nos obriga a reafirmar nossas convicções e deixar de lado nossas divergências”, afirma o advogado.

 

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