Por seus interesses

Fenaj: veículos da mídia tradicional fecham os olhos para ameaças de Bolsonaro aos seus jornalistas

Para a presidenta da entidade, Maria José Braga, desde seu primeiro ano de mandato, presidente vem "institucionalizando ataques à liberdade de imprensa no Brasil"

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
"Os veículos de comunicação comerciais do Brasil nem fazem a defesa do seu profissional e da sua atividade, que é de produção de informação jornalística", explica Maria José Braga

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro fechou o seu primeiro ano de mandato acumulando um total de 116 ataques à imprensa, de acordo com levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). São quase dez agressões verbais por mês, uma a cada três dias. E no primeiro dia útil de 2020, Bolsonaro abriu seu segundo ano de mandato desferindo novas ofensas.

Nesta segunda-feira (6), em conversa com apoiadores e jornalistas na portaria do Palácio da Alvorada, o presidente, ao ser questionado sobre seu diálogo com os chefes do Legislativo e a agenda de reformas de seu governo, respondeu declarando que “quem não lê jornal não está desinformado, e quem lê está desinformado”. “Tem que mudar isso. Vocês (jornalistas) são uma espécie em extinção. Acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados do Ibama. Vocês são uma raça em extinção”, disse Bolsonaro.

Para a presidenta da Fenaj, Maria José Braga, o novo ataque só confirma que, desde seu primeiro ano de mandato, Bolsonaro vem “institucionalizando por meio da presidência da República ataques à liberdade de imprensa no Brasil”, como avalia em entrevista ao jornalista Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

“Não é uma coisa espontânea, não é uma coisa impensada, o presidente tem feito sistemáticos ataques no sentido de descredibilizar a imprensa para que as notícias que começam a circular sobre suas ações de governo, sobre tantas medidas que o governo tem tomado e que contrariam os interesses da população brasileira, não sejam lidas e interpretadas pela população como deve ser, para que ela saiba de fato julgar como está o governo. Então é uma ação sistemática e por isso é muito perigosa”, adverte a presidenta da Fenaj.

O levantamento da Federação mostra ainda que o número de agressões a jornalistas cresceu 36,36% em 2018, ano da campanha eleitoral, na comparação com 2017. Ao todo, foram registradas 135 ocorrências de violência, entre elas um assassinato, e 227 profissionais vitimados. Ainda de acordo com a Fenaj, em 30 desses casos foram apoiadores/manifestantes os autores das agressões, 23 deles partidários de Bolsonaro e sete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Maria José alerta que o comportamento do presidente legitima a violência contra jornalistas, ressaltando ainda que ele conta com uma “tropa” virtual de seguidores para desferir ofensas e agressões a estes profissionais, tratados como “inimigos” pelo mandatário.

Para evitar responder aos jornalistas sobre as contradições de seu governo, ou mesmo das denúncias que cercam seus familiares, Bolsonaro não se limita a questões técnicas, procurando atacar inclusive de forma pessoal, como ocorreu recentemente quando deu uma resposta homofóbica a um jornalista e outros 10 ataques nos quais ofendeu diretamente um profissional ao longo do último ano. “Infelizmente nós estamos vivendo uma situação em que o presidente da República se tornou o principal agressor da categoria dos jornalistas”, lamenta a presidente da Fenaj.

Por seus interesses, mídia comercial ignora as agressões

Apesar dos constantes ataques aos profissionais da imprensa, ainda assim, os veículos da chamada mídia hegemônica não têm repercutido, ou mesmo apontado, as denúncias apresentadas pela Federação Nacional dos Jornalistas em relação ao presidente da República, de acordo com Maria José. Segundo ela, os profissionais agredidos não têm recebido a devida proteção de suas empresas para a defesa de sua atividade.

Segundo a presidenta da Fenaj, a mídia comercial tem “fechado os olhos para as arbitrariedades desse governo e as ameaças feitas aos seus próprios profissionais”, tudo isso em nome de seus interesses econômicos. “Os veículos hegemônicos de comunicação continuam dando apoio a Bolsonaro porque, apesar de ele atacar inclusive esses veículos, continua implementando a agenda econômica neoliberal que é apoiada pelos grandes veículos de comunicação do Brasil.”

“Então, do ponto de vista da economia, ele (Bolsonaro) está fazendo as lições que foram dadas para fazer, que é tirar direitos do trabalhador, desregulamentar as relações de trabalho, favorecer o capital, as empresas e empregadores, em detrimento dos trabalhadores. Como ele está cumprindo essa agenda econômica, continua tendo o apoio político da maioria dos veículos de comunicação comerciais do Brasil, que não fazem a defesa do seu profissional e da sua atividade, de produção de informação jornalística”, destaca Maria José.

Baseados no Twitter, entrevistas e discursos oficiais, o levantamento da Fenaj adverte que o número de ataques à imprensa por parte de Bolsonaro pode ser ainda maior. “Nós estamos de fato vivendo em meio a um estado de exceção do Brasil”, declara a presidenta.

Confira a entrevista na íntegra


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