Luto

Morre em São Paulo a escritora Lygia Fagundes Telles, aos 98 anos

Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), escritora vencedora dos prêmios Camões e Jabuti também combateu a censura imposta pela ditadura

Arquivo/Assembleia Legislativa SP
Arquivo/Assembleia Legislativa SP
Lygia Fagundes Telles em palestra sobre literatura na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 2006

São Paulo – A escritora Lygia Fagundes Telles, 98 anos, morreu neste domingo (3) em São Paulo. Segundo o Estadão, sua neta, Lúcia, informou que a escritora não tratava nenhuma doença e por isso ainda não se sabe a causa da morte. “Ela estava velhinha, não sofreu nada”, disse ao veículo. “Dama da literatura brasileira”, Lygia Fagundes da Silva Telles era integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde a década de 1980, onde ocupava a cadeira de número 16.

Lygia, que completaria 99 anos no próximo dia 19, publicou seu primeiro conto, Vidoca, em 1938, aos 15 anos. Mas o romance Ciranda de Pedra, publicado em 1954, que inspirou novela 30 anos mais tarde, é considerado o marco de suas obras completas.

A carreira na literatura, composta por 18 livros de contos e quatro romances, foi incentivada por grandes amigos que fez, os escritores Carlos Drummond de Andrade e Erico Verissimo.

A autora, que estudou Direito e Educação Física antes de se dedicar exclusivamente à literatura, é reconhecida e premiada internacionalmente. Entre os prêmios de sua carreira estão Camões (2005), e o Jabuti (1966, 1974, 1996 e 2001). Ao todo vendeu mais de três milhões de exemplares.

Lygia lutou contra a censura

Lygia também se destacou na luta contra a censura imposta pelo regime militar. Em 1977, assinou com outras personalidades o “Manifesto dos Intelectuais”.

Na juventude, conviveu com intelectuais modernistas que circulavam no Largo de São Francisco, no centro de São Paulo, entre eles Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Paulo Emilio Salles Gomes, que veio a ser seu segundo marido.

O primeiro foi o jurista Goffredo da Silva Telles Jr., um dos fundadores do PT, pai de seu filho Goffredo da Silva Telles Neto, que viria a ser cineasta.

Em publicação recente nas redes sociais, Lucia Riff, agente da escritora, lamentou: “Conheci a Lygia em 1984, na Editora Nova Fronteira, no início da minha carreira, e logo nos tornamos próximas. Quando a agência foi criada, em 1991, Lygia foi uma das primeiras autoras que passamos a representar. Em 2005, vivemos um momento lindo, quando estivemos em Portugal para a cerimônia de entrega do Camões. Toda vez que ia a São Paulo, nos encontrávamos e era sempre uma inspiração para mim que tive o privilégio de conviver com ela. Lygia foi uma mulher de vanguarda, uma feminista, forte e corajosa e deixou uma obra extraordinária.”

“O Brasil perde Lygia Fagundes Telles. Além de uma das maiores e melhores referências da nossa literatura, uma mulher corajosa que enfrentou a Ditadura civil-militar. Meu afeto e solidariedade aos familiares e amigos. Lygia Presente!’, escreveu em seu Twitter a deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP)