Vanguarda

‘Venha que eu sou da Penha.’ Itamar Assumpção ganha estátua no bairro que adotou em São Paulo

Compositor recebe homenagem com missa, show e cortejo

Secr. Cultura SP
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Vindo do interior paulista, Itamar também morou no Paraná. Primeiro disco é de 1981

São Paulo – Nascido em Tietê (SP), a 140 quilômetros da capital, Itamar Assumpção adotou a Penha, na zona leste, quando se mudou para São Paulo, ainda nos anos 1970. Quase virou jogador de futebol, e disse que seria atacante, mas levou sua ousadia e criatividade para outro campo, o da música. Nesta quarta-feira (15), Itamar foi homenageado com uma estátua em frente ao Centro Cultural Penha, no Largo do Rosário, a dois quilômetros da rua onde morava.

Penha! Noite plena.

Peregrina pena.

Liguei as antenas

nos canais, V.T.s, dilemas…

cenas de cinema,

mil temas.

Que pena!

Pouco poeta

pra tantos poemas.

A programação foi extensa. Começou com missa afro, prosseguiu com cerimônia de inauguração com a presença do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, cantor, compositor e conselheiro do Mu.Ita, o Museu Itamar Assumpção. Também participou a secretária municipal da Cultura, Aline Torres. A pasta pretende inaugurar cinco estátuas de personalidades negras na cidade.

Personalidades negras

A de Itamar, feita pelo escultor Leandro Junior, foi a primeira. Em 2022, devem vir as da escritora Carolina de Jesus (no bairro de Parelheiros), do compositor Geraldo Filme (Barra Funda), do atleta Adhemar Ferreira da Silva (Santana) e da ativista Deolinda Madre (Liberdade).

A senha é

“Venha que eu sou da Penha”

(…)

Quem sabe pode, não se faça de rogado.

Zona leste somos nós e nossos considerados.

Quem sabe sobe conosco neste tablado.

Sangue bom aqui tem vez, sangue ruim só comportado.

Itamar Assumpção foi muitos. Sua obra original é identificada com o movimento conhecido como Vanguarda Paulistana – o primeiro LP, Beleléu, Leléu, Eu, é de 1981, com a banda Isca de Polícia. A turma costumava se apresentar no mítico Lira Paulistana, no bairro de Pinheiros. A discografia inclui álbuns com músicas de Ataulfo Alves, parceria com Naná Vasconcelos (Isso vai dar repercussão) e a sequência Preto Brás.

Novo, ruptura

Mas o artista transitou por vários campos, como o atacante que quase foi, com as pernas criadas pelas andanças na Penha, onde trabalhou como entregador de carnês e morou durante 20 anos, até morrer, em 2003, aos 53 anos. Casado com Zena, teve três filhas: Anelis, Celina e Serena (que morreu em 2016). Tinha compromisso “com o novo, com a ruptura, com a originalidade do pensamento”, escreveu a poeta Alice Ruiz, amiga e parceira.

No final da tarde, Anelis Assumpção faz show com músicas do artista, ao lado do rapper Rincón Sapiência. O dia termina com o cortejo do bloco Ilú Obá de Min. 


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