Genocídio indígena

Ministros do Supremo, assistam ao documentário yanomami ‘A Última Floresta’

Com roteiro de Davi Kopenawa, filme de Luiz Bolognesi retrata o cotidiano de um grupo Yanomami isolado, ameaçado pelo garimpo que Bolsonaro quer legalizar

Divulgação
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O povo yanomami vive há mais de mil anos na floresta, entre o norte do Brasil e o sul da Venezuela

São Paulo – Entre as tantas desgraças produzidas pelo governo de Jair Bolsonaro, talvez a maior delas seja o genocídio dos povos indígenas. E é disso que trata o filme A Última Floresta. E que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) precisam assistir antes de decidir se autorizam o marco temporal, que pode legalizar a invasão de terras indígenas e acabar de vez com os povos originários do Brasil. O diretor Luiz Bolognesi divide com o xamã e líder político yanomami Davi Kopenawa o roteiro da obra, que já conquistou prêmios em festivais internacionais de cinema.

Com estreia prevista para 9 de setembro, no Brasil, A Última Floresta foi escolhido como Melhor Documentário no Festival Zeichen der Natcht, em Berlim, e recebeu o Prêmio Artístico de Melhor Obra no Festival dos Povos Originários, de Montreal. Em junho, o documentário – que retrata o cotidiano de um grupo Yanomami isolado, ameaçado pelo garimpo que Bolsonaro quer legalizar –, venceu também o prêmio do público na Mostra Panorama no 71º Festival de Berlim e o de Melhor Filme no 18º Seoul Eco Film Festival, na Coreia do Sul.

Exibido em todo o mundo, o documentário é um grito de alerta de um povo ameaçado de extinção. Os Yanomamis habitam a Floresta Amazônica, entre o Brasil e a Venezuela, há mais de mil anos. Ou seja, muito antes de esses países existirem. A Última Floresta conta a história desses povos originários. Retrata o dia a dia de um grupo isolado, suas crenças e a luta dos xamãs para proteger as tradições da comunidade diante do encantamento dos mais jovens com os bens materiais trazidos pelos brancos. “Se derem presentes, não aceitem. Não aceitem as espingardas. Espingarda não alimenta”, ensina Kopenawa.

Ameaça ao grande lar

Com fotografia, trilha e som impecáveis, a primeira imagem do filme nos transporta para o gigantismo e a exuberância da Floresta Amazônica. Um contraste entre a pequena tribo e as terras que luta para defender. Em meio a tanto silêncio, o barulho de um motor faz lembrar a ameaça branca, que vem pelo ar. São os helicópteros que despejam garimpeiros em busca de minérios, destruindo rios, contaminando florestas, adoecendo os indígenas.

Tribo yanomami
Cena inicial do filme: a pequena tribo indígena que protege a floresta

Em 1986, a corrida pelo ouro levou ao coração da Amazônia 45 mil homens brancos. A contaminação dos rios pelo mercúrio utilizado pelos “comedores de terra”, como os define Davi Kopenawa, resultou em mais de 1,5 mil indígenas mortos. O minério, lembra o líder Yanomami, causou enorme destruição e enriqueceu poucos. “Os que trabalham continuam sendo pobres”, ensina o xamã.

Satélites comprovam: terras indígenas são as áreas mais preservadas nos últimos 35 anos

Desde que Bolsonaro foi alçado ao poder, mais de 20 mil garimpeiros ilegais voltaram a invadir a região. Davi Kopenawa vive sob ameaça de morte, mas não se cala. Percorre o mundo para dizer aos homens brancos a verdade sobre a destruição da floresta e o extermínio de seu povo.

“Quando os brancos são poucos, eles fogem. Se a gente não se proteger, quando encontrarem ouro, serão milhares. Onde eles trabalharam, o rio secou, virou barro”, relata o xamã.

O importante

O líder yanomami diz que as autoridades não indígenas usam muito a palavra “importante”. “Para vocês que vivem na cidade, importante é a mercadoria. Apesar de ter muitas mercadorias, o branco não divide. Fazer muita mercadoria faz mal para a floresta. Para nós, o importante são os animas da floresta, a fertilidade. Importante é dividir o alimento entre nosso povo, nossa sobrevivência, nossa forma de viver, nossa existência como povo”, ensinou Davi Kopenawa, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Davi Kopenawa, líder yanomami
“Os brancos não nos conhecem. Seus olhos nunca nos viram. Seus ouvidos não entendem nossas falas. Por isso preciso ir lá. Não devemos ter medo. Somos os últimos filhos da floresta. Precisamos lutar para nossas crianças crescerem saudáveis. Preciso ensinar nossos pensamentos a eles”, acredita Davi Kopenawa (Foto: Divulgação).

A cena final, contrasta com a beleza e a grandeza da floresta mostrada na abertura do filme. De um insípido quarto de hotel, o líder yanomami olha em desalento pela janela. E em apenas uma cena fica tão claro como é pequeno o mundo do homem branco.


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