Bancos x nações

Costa-Gavras, em novo filme, revela bastidores da crise na Grécia

Com “Jogo do Poder”, diretor põe em pauta a saga do partido de esquerda Syriza diante de imposições do mercado e da Troika

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'O que o filme é uma espécie de tragicomédia que os gregos viveram e ainda vivem por 10 anos e na qual a Europa parece não estar muito interessada', afirma o cineasta

São Paulo – Com extensa obra política, o cineasta Costa-Gavras se volta para seu país no longa-metragem Jogo do Poder (Adults in the Room). Ele agora expõe sua visão sobre a crise da dívida grega, em 2015. É a primeira vez que Costa-Gavras fala sobre seu país desde o clássico Z, de 1969. A estreia nos cinemas brasileiros está marcada para 12 de agosto.

Costa-Gavras traz como protagonista o personagem de Yanis Varoufakis, economista socialista nomeado como ministro das Finanças do ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras. Em 2015, o partido de esquerda Syriza assume o poder e encontra um cenário de grande endividamento, com o país refém do setor financeiro europeu. “A intensão era salvar os bancos, e a Grécia acabou endividada. A dívida é maior hoje do que 10 anos atrás. Salvaram os bancos, e destruíram o país”, disse o diretor.

O próprio Varoufakis participou da elaboração do roteiro, prestando assistência ao cineasta. O filme aborda o momento delicado em que a esquerda se viu diante da possibilidade de embargos e uma crise econômica intensa. Para lidar com a dívida, a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) impôs ao governo uma severa política de austeridade.

Escolhas impossíveis

Varoufakis passa, então, a propor uma reestruturação, com revisão da dívida, para manter condições de governabilidade e de dignidade para seu povo. Entretanto, a pressão dos agentes econômicos levaram Tsipras a renunciar em meio a agitações populares. O presidente retorna pouco tempo depois após um referendo, e políticas de austeridade são aplicadas ao país. Até hoje a Grécia vive um cenário delicado de endividamento.

“Um filme sobre nós, europeus, mas também sobre a Europa e a crise grega. Mostra como a Europa não se comportou de maneira consistente e solidária em relação à crise grega, pedindo aos gregos que fizessem coisas impossíveis. Isso é essencialmente o que o filme é uma espécie de tragicomédia que os gregos viveram e ainda vivem por 10 anos e na qual a Europa parece não estar muito interessada”, disse Costa-Gavras ao periódico francês L’Artvues.