Salvo pela pandemia

Sem carnaval, Bolsonaro se livra de sátiras e vaias; relembre casos

Os blocos não foram às ruas, as escolas de samba não desfilaram no carnaval de 2021 e quem comemora é Bolsonaro

Twitter/Reprodução
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Acadêmicos do Vigário levou à avenida palhaço gigante vestido de Bolsonaro, com gesto conhecido do presidente

São Paulo – Sem blocos nas ruas e sem escolas na avenida, devido à pandemia, quem comemora o isolamento forçado no carnaval 2021 é Jair Bolsonaro. Desta vez, o presidente escapou de ser o alvo preferido das tradicionais marchinhas, bloquinhos e samba enredos de protesto, como foi nos dois últimos anos. Em 2020, os desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro colocaram na pauta carnavalesca o repúdio ao governo marcado por retrocessos sociais, preconceitos e violência.

A Vigário Geral, no Rio, usou a figura de um palhaço gigante fazendo arma com a mão – gesto que é marca do presidente. Já a São Clemente apostou no humor para criticar as fake news e a corrupção. O humorista Marcelo Adnet desfilou em um dos carros alegóricos imitando o presidente Bolsonaro. Com fantasias de cor laranja, a bateria da São Clemente fez uma referência às candidaturas falsas promovidas pelo PSL, então partido de Bolsonaro.

As críticas ao governo também foram feitas por meio das pautas sociais. A Mangueira já havia sido campeã do carnaval carioca de 2019 com a homenagem a Mariellle Franco. E no ano passado levou à Sapucaí uma versão de Jesus Cristo negro e em corpo de mulher, vítima de agressão policial. A campeã, Viradouro, apresentou como enredo as Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em Salvador em busca da compra de sua alforria.

Blocos contra Bolsonaro

Já em São Paulo, a Tom Maior também prestou homenagem a Marielle, assassinada em 14 de março de 2018. A Águia de Ouro, que se sagrou a grande campeã do carnaval de São Paulo 2020, apresentou o enredo O poder do saber – Se saber é poder….Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Trata da importância da educação e homenageou o educador Paulo Freire – alvo constante de ataques do presidente Jair Bolsonaro, dos seus ministros e apoiadores.

Em fevereiro de 2019, dois meses após assumir a Presidência, Bolsonaro foi alvo de xingamentos, vaias e ataques no carnaval de todo o Brasil. Foliões o “homenagearam” nos blocos de rua, o que deixou o chefe do Executivo sem rumo.

Em Olinda (PE), onde bonecos gigantes são tradição nos desfiles de rua), os dele e da primeira-dama, Michele, foram vaiados e apedrejados por onde passaram. Em outros estados, a população puxou o coro “Ei, Bolsonaro, vai toma no c…”. Irritado, o presidente postou vídeo obsceno de dois homens em um bloco de rua em São Paulo. E dizia que a cena seria comum em “blocos de rua no carnaval brasileiro”.

O bloco Divinas Tetas, de Brasília, surpreendeu até a cobertura da GloboNews com um sonoro “Ei Bolsonaro, vai tomar no c…”, transmitido nacionalmente. Na cidade de São Paulo, fantasias de candidatos-laranja, fake news, WhatsApp, Queiroz (em referência ao ex-assessor de Flávio, ligado a milícias) e caixa 2 foram comuns. O Bloco 77 Originais do Punk fez uma paródia da música Coração Corintiano, de Manoel Ferreira. “Doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano.”

Marchinhas de carnaval

O presidente não foi só desmoralizado nas ruas ou no sambódromo. Em 2019, uma marchinha, de autor não divulgado ironizou o caso do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), envolvido no esquema das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O cheque não caiu na minha conta/ Eu não tinha tempo pra sacar/ Mandei pôr na conta da Michelle/ Pra depois a grana rachar“, diz a marchinha Micheque Bolsonaro. A canção também brinca com os eleitores do presidente Jair Bolsonaro. “Eu era a esperança/ Dessa grande nação/ Enganei meus eleitores e ganhei a eleição.”

Essa não foi a única marchinha sobre o caso. A Marchinha do Laranja, que também não divulgou o autor, traz a dúvida: Cadê o Queiroz?. “Eu também quero ganhar esse cargo raro/ Ser motorista da família Bolsonaro/ Já imaginou se um motorista qualquer/ Deposita uma grana na conta da tua mulher“, diz a música.

Em 2018, Bolsonaro também foi tema no carnaval. Nas ruas de Belo Horizonte, o bloco Orquestra Royal lançou a Bolsomico, que criticava o então pré-candidato: “Tem que ter QI de mico/ Pra ficar lambendo bota de de milico/ Cérebro de periquito/ Pra chamar esse boçal de mito“, diziam alguns versos, acompanhado do refrão: “É melhor Jair, Jair embora, sair correndo para a aula de história“.