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Brasil tem filme de temática indígena no Festival de Berlim. Participação neste ano será reduzida

Em 2019 e 2020 Brasil teve mais de dez filmes no festival. Neste ano, serão quatro. Desmonte do setor audiovisual pelo governo Bolsonaro já mostra resultado

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Brasil será representado no Festival de Berlim pelo filme A Última Floresta (2020), de Luiz Bolognesi

São Paulo – O Brasil será representado no Festival de Berlim pelo filme A Última Floresta (2020), de Luiz Bolognesi. O longa foi selecionado para a mostra Panorama deste que é um dos mais importantes eventos do cinema mundial. O filme retrata o cotidiano de um povoado Yanomami que vive isolado na fronteira entre Brasil e Venezuela há mais de mil anos.

Bolognesi assina o roteiro do longa em parceria com Davi Kopenawa, que é um xamã, escritor e líder do povo Yanomami. Ao retratar o dia-a-dia deste povoado, entra em foco a resistência indígena contra o avanço de garimpeiros sobre suas terras. A obra retrata todos os males trazidos pelas invasões, repetindo experiência de Bolognesi com o filme Ex-Pajé (2018), que também recebeu menção honrosa na Berlinale.

O cinema do Brasil será representado por mais três obras no Festival de Berlim. Em comparação com anos anteriores, é uma participação reduzida. Para se ter ideia, em 2019, o país contou com 12 filmes concorrendo em diferentes mostras e em 2020 foram 18; incluindo a disputa pelo prêmio principal, o Urso de Prata. Neste ano, nenhuma produção brasileira concorre ao mais alto pódio.

Desmonte bolsonarista

Entre os culpados pela redução drástica estão a baixa produção em tempos de pandemia e, especialmente, a asfixia que vive o setor do audiovisual. Desde que assumiu o governo, o presidente Jair Bolsonaro deixou clara sua aversão à cultura brasileira. Editais públicos foram interrompidos, bem como programas de incentivo, dificultando o acesso ao Fundo Setorial do Audiovisual e, como consequência, sufocando a indústria.

“O presidente Bolsonaro atingiu seu objetivo, que é matar o cinema nacional, pois está matando. Esse é mais um atestado da decadência política e cultural que atinge todos os setores do país”, resume o jornalista Rui Martins, em artigo no Brasil de Fato.

Entre os ataques também está o aparelhamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine), que na prática virou um órgão fantasma. “Desde sua campanha eleitoral, Bolsonaro ameaçava a Ancine, primeiro prometendo criar filtros ou censura. Logo depois, falava claramente em fechar a agência reguladora do cinema, criada em 2001 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, alguns anos depois de ter sido encerrada a Embrafilme. O objetivo da Ancine era o de fomentar, criar e fiscalizar a indústria cinematográfica, ficando ligada ao Ministério da Cultura”, completa Martins.

O festival

A Berlinale deste ano acontece em formato híbrido, on-line e presencial limitado. O festival contará com exibição das produções da Berlinale Serie entre os dias 1º e 5 de março para profissionais do setor. E um segundo período será destacado em junho para o público geral. Entre os destaques da edição estão 15 filmes feitos durante a pandemia de covid-19, com todos os desafios e reflexos da maior crise sanitária da humanidade em mais de 100 anos.

“Embora apenas alguns mostrem diretamente o novo mundo em que vivemos, todos eles integram os tempos de incerteza que estamos passando”, disse ele em vídeo sobre o programa. “O sentimento de apreensão está em toda parte”, disse o diretor artístico da Berlinale, Carlo Chatrian.


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