Aniversário

John Lennon faria 80 anos em 9 de outubro, mas só chegou aos 40

O assassinato do mais carismático membro dos Beatles, em dezembro de 1980, é até hoje cercado de especulações e teorias da conspiração

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"Tudo o que estamos dizendo é dê uma chance à paz", cantou o beatle na música "Give Peace a Chance"

São Paulo – John Winston Lennon, nascido em Liverpool em 9 de outubro de 1940, tinha 40 anos quando foi assassinado com quatro tiros, por um suposto louco chamado Mark Chapman, na frente do edifício Dakota, em Nova York, onde morava com a companheira, a artista plástica e performer Yoko Ono. Nesta sexta-feira (9), John Lennon faria 80 anos. Sinistra coincidência, o prédio onde o músico foi assassinado havia sido locação do filme O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski. Eram cerca de 17 horas do dia 8 de dezembro de 1980 quando Lennon autografou uma cópia do álbum Double Fantasy, seu último trabalho, para o assassino, ao lado de Yoko. Dali, foram ao Record Plant Studios.

Após uma sessão de gravação, o casal voltava ao Dakota quando Chapman usou seu revólver calibre 38 para matar um dos ícones do rock’n’roll, da cultura pacifista dos anos 60 e 70 e, de modo geral, da cultura de todo o século 20. A morte do beatle é cercada de especulações e teorias da conspiração. O assassino, hoje com 74 anos, cumpre pena de prisão perpétua. Em março de 2020, teve seu pedido de liberdade condicional negado pela 11ª vez.

Lennon nunca deixou de ser persona non grata por setores conservadores e aparelhos de Estado, no país em que dois de seus mais célebres presidentes, Abraham Lincoln e John Kennedy, foram mortos a tiros por motivos até hoje obscuros.

“Mais famosos que Jesus”

O ódio a Lennon por setores reacionários dos Estados Unidos começou cedo. Em março de 1966, em uma entrevista ao jornal Evening Standard, da Grã Bretanha, ele provocou escândalo ao comparar os Beatles a Jesus Cristo. Segundo a história, a declaração não provocou grande polêmica no Reino Unido, mas apenas após ser veiculada em uma revista para adolescentes nos Estados Unidos, onde provocou a fúria dos cristãos.

“O cristianismo vai desaparecer e perder a relevância. Isso é indiscutível, o tempo irá provar que estou certo. Nós somos mais populares do que Jesus neste momento. Eu não sei qual será o primeiro a acabar – o rock ‘n’ roll ou o cristianismo. Jesus até que era legal, mas seus seguidores eram burros e vulgares”, disse o beatle na entrevista.

Em meio a canções e manifestos pacifistas em plena Guerra Fria, Lennon travou longa batalha com o governo norte-americano para ficar no país. Os órgãos governamentais tentaram usar, por exemplo, uma condenação do músico por porte de maconha na Inglaterra, como pretexto para obter sua extradição. A briga entre ele e o governo terminou em 1976, com vitória de Lennon na Justiça.

“Dê uma chance à paz”

Em 1969, o músico havia composto “Give Peace a Chance” – unindo psicodelismo e política –, a icônica canção que se transformou, mais tarde, em símbolo das pregações de Lennon e de enorme contingente de norte-americanos contra a guerra do Vietnã, encerrada em 1975 com a maior e mais humilhante derrota militar da história dos Estados Unidos da América.

A letra diz: “Todo mundo está falando sobre/ Revolução, evolução, masturbação, flagelação/ regulamentação, integrações/ Meditações, Nações Unidas, parabéns/ Tudo o que estamos dizendo é dê uma chance à paz/ Tudo o que estamos dizendo é dê uma chance à paz.”

Give Peace a Chance” é muito mais intensa do que a melosa “Imagine“. Trazia influências hinduístas óbvias do guitarrista George Harrison, de quem Lennon se manteve amigo após a separação dos Beatles. Nesse sentido, a canção “Mind Games“, lançada em single em 1973 pela Apple Records, era mais sutil, mas exortava:

We’re playing those mind games together/ Pushing the barriers planting seeds/ Playing the mind guerrilla/ Chanting the mantra peace on earth.” (Estamos jogando esses jogos mentais juntos/ Empurrando as barreiras, plantando sementes/ Brincando de guerrilheiro mental/ Cantando o mantra paz na terra).

Nesta canção, o mais popular, polêmico e inquieto beatle termina com a frase que, entre outras, se tornou emblemática: “I want you to make love not war”, ou, “quero que você faça amor, não a guerra”.

As performances de Lennon e Yoko Ono posando nus na “cama da paz”, hoje, parecem atos adolescentes. Mas o significado e a simbologia dessas manifestações precisam ser enquadradas em uma época: anos 70, tempo de guerra do Vietnã, Richard Nixon comandando o Pentágono, sexo livre, maconha. No Brasil, Garrastazu Médici governava o país. 

“O sonho acabou”

Sabe-se que o mais popular dos Beatles foi espionado pelo FBI. “No início dos anos 70 o FBI estava mais interessado em combater o ‘lennonismo’ do que o leninismo. Durante o período paranoico que desembocou em Watergate, a Casa Branca de Richard Nixon mandou J. Edgar Hoover, o diretor do FBI, descobrir o máximo possível de sujeira relativa ao ex-beatle”, escreveu Patrick Cockburn, em novembro de 1994, no jornal The Independent.

Em 1980, o presidente já não era Nixon, mas o democrata Jimmy Carter. O que não significa muito, porque, nos Estados Unidos, os aparelhos de espionagem e vigilância funcionam à revelia da Casa Branca.

Em 1989, o advogado e jornalista britânico Fenton Bresler lançou o livro Who Killed John Lennon (“Quem matou John Lennon?”), no qual dizia que o artista foi morto por ser considerado muito influente para a juventude pelo FBI e pela CIA .

No dia 9 de dezembro de 1980, o jornal The New York Times noticiava: “John Lennon, um dos quatro Beatles, foi baleado e morto ontem à noite enquanto entrava no prédio de apartamentos onde morava, o Dakota, no Upper West Side de Manhattan. Um suspeito foi preso no local.”

Para milhões de jovens em todo o mundo, acabava de se concretizar em forma de tragédia a frase cantada pelo próprio Lennon na canção “God”: “O sonho acabou”.

Give Peace a Chance (Dê uma chance à paz)


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