Rir pra não chorar

Humorista dá voz e leveza aos atendentes de telemarketing

Edmar Colin canaliza as dificuldades da profissão e transforma em humor

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Edmar Colin bombou nas redes sociais, após realizar uma paródia da música viral Eu nunca, eu já, mas adaptando ao cotidiano dos operadores de telemarketing

São Paulo – A rotina de milhares de trabalhadores de teleatendimento do Brasil é marcada por estresse, baixa remuneração e violência verbal. Apesar disso, o humorista e profissional de call-center Edmar Colin consegue transformar em graça as agruras do telemarketing. Para ele, seu trabalho é uma forma de levar representatividade e leveza para a categoria.

Neste ano, o humorista bombou nas redes sociais, após realizar uma paródia da música viral Eu Nunca, Eu Já, mas adaptando ao cotidiano dos operadores de telemarketing. Só na rede social Tik Tok seu video passou de 100 mil visualizações e mais 1.380 usuários gravaram vídeos com seu áudio na plataforma.

Edmar afirma que, ao abordar a realidade da categoria, foi abraçado de uma forma que jamais imaginou. “Fui muito aceito, porque ninguém fala sobre a realidade deles. Quando são retratados na comédia, sempre é um humor crítico, enquanto falo no papel do operador. Canalizo a minha dor, dentro do trabalho, para melhorar o dia das pessoas. Ninguém dá voz para esses trabalhadores, mas eu faço isso, porque faço parte deles”, disse à RBA.

Depois de esse vídeo viralizar nas redes sociais, o humorista e operador de telemarketing, que antes escrevia piadas sobre os mais diversos assuntos, acredita que encontrou seu caminho. “O meu trabalho se tornou uma possibilidade de levar leveza para o trabalhador de call-center. É uma válvula de escape tanto pra mim, quanto para eles”, acrescentou.

Homofobia levou aos palcos

Edmar nunca se imaginou num emprego em que sua função seja passar o dia todo ao telefone. Formado em design, seu sonho era seguir na profissão, mas nunca conseguiu passar pelos processos seletivos de algumas empresas. Em 2018, viu que a homofobia era um dos entraves para isso.

“Prestei um processo para uma empresa conceituada e a mulher do RH disse, indiretamente, que apesar de ter amado meu currículo, fui barrado por ‘não ter perfil’. Ou seja, por homofobia. Era meu sonho ter passado nessa empresa e isso me abalou muito. Dias depois, vi um anúncio de aulas de teatro, decidi fazer e as coisas foram acontecendo”, relata.

Apesar de abordar o dia a dia do callcenter no humor, Edmar conta que, às vezes, tem medo de sofrer alguma represália, já que expõe a realidade das centrais de atendimento. “Atualmente, tenho uma relação com meus chefes e não tive problemas. Eu faço meu trabalho da melhor maneira possível para não dar margem quando puxarem meu histórico”, explica.

O telemarketing é um dos setores que mais acolhe pessoas LGBTs, acredita o humorista Colin. Entretanto, ele lamenta que, apesar de haver maior diversidade no setor, o gênero é um entrave para a ascensão a cargos de gestão.

“Cansei de fazer entrevistas para outros cargos e vi que existe um preconceito no mundo coorporativo, pois querem um homossexual estereotipado, mais discreto. A diversidade LGBT nas empresas não deve ser só na minha função, mas em outras também. A minha orientação sexual sempre esteve à frente das qualificações profissionais”, critica.

Atendentes de telemarketing

Não foi só através do humor que Edmar criou um bom canal de diálogo com a categoria. Em video publicado no seu Facebook, com 1 milhão de visualizações, ele denuncia as violências verbais sofridas por operadores de telemarketing e questiona a falta de atenção à saúde mental desses trabalhadores.

Apesar de ter uma grande repercussão, Edmar Colin diz que muitas pessoas questionaram sua crítica. “Nós somos negligenciados pela sociedade. Fiz vídeo sobre o quanto custa a nossa saúde, mas pessoas acham que o trabalhador é a empresa. Uma gerente minha já disse que não concorda com minhas críticas, mas ela valoriza a importância do meu trabalho, porque toco em pontos que ninguém quer tratar.”

De acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel), levantados pela BBC Brasil sobre doenças do trabalho, apontam que 36% dos operadores sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30% de transtornos psíquicos e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz.

Segundo o operador, os donos de empresa precisam valorizar mais a profissão e dar melhores condições de trabalho. “Estou numa empresa boa, que é um privilégio, mas estamos falando de milhares de pessoas que ganham um salário mínimo e enfrentam dificuldades enormes. Poder dar voz à essas pessoas é a importância principal do meu trabalho”, finaliza.


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