Arte sem fronteira

O cinema do mundo inteiro se encontra com a Amazônia e sua cultura

Evento que será realizado em Alter do Chão (PA) já tem mais de 1.100 filmes inscritos, de mais de 90 países. E terá homenagem a Aldir Blanc

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Sessão do Fest Alter em 2019. Foram 30 mil pessoas em uma semana

São Paulo – Alter do Chão, uma vila do município de Santarém, cidade paraense onde os rios Amazonas e Tapajós se encontram, será novamente uma espécie de capital mundial do cinema. A uma semana do encerramento das inscrições, o Festival de Cinema de Alter do Chão já recebeu mais de mil inscrições, de mais de 90 países, de todos os continentes.

Será a segunda edição do evento. No ano passado, durante uma semana, 30 mil pessoas estiveram no local, agitando o pequeno distrito, com seus 5 mil habitantes. A organização recebeu 1.979 filmes, de 98 países. Desse total, 441 foram produções brasileiras. Dez jurados escolheram 220 trabalhos que competiram. As categorias premiadas foram as de longa, média e curta-metragem, além de produção por smartphone.

Um encontro das águas da cultura e da diversidade. Escolas levavam as crianças. Muita gente grande assistiu um filme pela primeira vez. “Tinha gente olhando e chorando”, conta o cineasta e diretor de fotografia Locca Faria, responsável pelo Fest Alter, que desta vez será realizado on-line, de 9 a 13 de dezembro. Mas a estrutura de atividades é a mesma: debates, palestras, shows, rodada de negócios, oficinas.

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E filmes, muito filmes, entre longas, curtas, animações. De todos os lugares, inclusive os inimagináveis, como Azerbaijão e Afeganistão, entre quase uma centena de países que já enviaram suas produções. “Criamos uma categoria de filmes feitos com celular para a gente estimular a produção de conteúdo da região”, diz Locca, um carioca que em sua atividade profissional navega pela ponte Rio-Amazônia.

Em uma dessas viagens, ele estava produzindo um filme sobre a preservação da região, com estudiosos, cientistas, artistas, quando alguém jogou a ideia no ar. Locca passou dois anos organizando o festival. Os nomes do distrito e do município são homenagens a localidades portuguesas. Santarém fica a 1.200 quilômetros, de estrada, de Belém.

A expectativa é que as inscrições, que vão até o próximo domingo (23), cheguem a pelo menos 1.500. Até as 20h30 da última sexta-feira (14), já eram 1.102, quase 200 do Brasil. Em seguida, aparecem produções da Índia e do Irã.

Locca: festival exalta a capacidade criativa dos povos

Defesa da preservação

O diretor do Fest Alter lembra que o evento não se limita ao cinema. É um espaço para as manifestações artísticas locais, a riqueza das lendas amazônicas, a defesa da preservação ambiental. Ele cita, entre tantas, a “festa profano-religiosa” do Sairé (ou Çairé) criada há séculos pelos índios, envolvendo os botos Tucuxi e Cor de Rosa.

O festival reservará também uma homenagem ao compositor, poeta e escritor Aldir Blanc, que morreu em maio, vítima da covid-19. Aldir dá nome à Lei 14.017, de auxílio emergencial à cultura durante o período de pandemia, aprovada no Congresso após ampla mobilização.

Além de Mari Sá Freire, companheira de Aldir, e de suas filhas, algumas dezenas de artistas vão participar, cantando ou recitando. Entres eles, João Bosco, Guinga, Moacyr Luz, Zé Renato, Ana de Hollanda, Claudio Nucci, Sebastião Tapajós, Paulo César Pinheiro, Dori Caymmi, Leila Pinheiro, Roberto Menescal, Joãozinho Gomes e Wagner Tiso. A página oficial do evento na internet (https://festivaldealterdochao.com.br/) tem um tópico dedicado a essa homenagem.

A arte existe

O Fest Alter se mantém em um momento difícil. “Estão destruindo a cultura, o acervo do país”, diz Locca, lembrando do que acontece, por exemplo, com a Cinemateca Brasileira. Mas ele prefere não chamar o festival como sendo de “resistência”.

“Na verdade, se faz a existência do povo brasileiro”, afirma. “A capacidade criativa do povo da Amazônia, do povo brasileiro. Ele explana a existência e a importância da cultura dos povos.” Se a situação melhorar, o diretor tem esperança de montar um telão em dezembro, tanto em Alter do Chão como em Santarém.