história ameaçada

Cinemateca se mobiliza contra tentativa de Bolsonaro de levar acervo para Brasília

Gestão Bolsonaro tenta tirar independência da Cinemateca ao transferi-lá. Antes disso, tática foi de destruição. Instituição está sem verbas desde o fim do ano passado

reprodução/cinemateca
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"Queremos a permanência da Cinemateca em São Paulo, permanência do quadro técnico especializado. O acervo corre risco, a instituição e os trabalhadores", afiram os trabalhadores

São Paulo – O governo Bolsonaro mantém indefinido o imbróglio em relação ao futuro da Cinemateca Brasileira. Abandonada desde o fim do ano passado, a instituição virou um campo de batalha ideológica pelos bolsonaristas. A mais nova investida anunciada pelo governo é a transferência do acervo, o maior do tipo na América Latina de São Paulo para Brasília, de acordo com reportagem da revista Veja. Os trabalhadores e a comunidade denunciam o risco de aparelhamento da instituição.

Os ataques contra a Cinemateca começaram no fim do ano passado, quando o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, suspendeu o repasse de verbas, após promover ataques ideológicos, chamando o local de “marxista”, entre outros chavões dos radicais de extrema direita. Na realidade, a Cinemateca abriga 120 anos de história audiovisual brasileira. Estão ali registros cinematográficos de diferentes períodos do país, retratos da memória e da construção da identidade nacional.

O abandono promovido por Bolsonaro ameaça a instituição de colapso. Trabalhadores estão sem salários há mais de três meses. Faltam recursos para manter os equipamentos de prevenção a incêndios e segurança. Nem mesmo a conta de eletricidade está sendo paga em dia. Muito do material ali armazenado, especialmente rolos de filmes, são compostas por substâncias que, sem climatização correta, podem queimar.

A prefeitura e a Câmara de São Paulo intervieram e verbas emergenciais foram repassadas, como doação, para a Cinemateca pagar despesas básicas. A ação desagradou o governo federal, que agora anuncia a transferência do acervo. Entretanto, o contrato que rege a ligação entre a Cinemateca e a União sequer permite a mudança.

O contrato, de 1984, também prevê autonomia financeira, administrativa e técnica, o que vai de encontro com a intenção de transformar a instituição em um “bunker” olavista, seguindo a ideologia extremista do “guru” da família Bolsonaro, o auto-declarado filósofo Olavo de Carvalho.

Mobilizações

Questões contratuais sobre a função e a independência da Cinemateca já foram alvos de ação do Ministério Público Federal contra a União. No instrumento, o órgão exige cuidados emergenciais com o acervo e as instalações. Também determina o retorno dos repasses financeiros para a fundação mantenedora (Roquette Pinto), por um ano, para restabelecimento das atividades.

O movimento em defesa da Cinemateca veio após intensa agenda de mobilização dos trabalhadores e da população. Após dias de greve e de atos para sensibilizar a sociedade sobre o cenário delicado, hoje (21) mais uma manifestação foi realizada, agora em frente à sede da prefeitura, na região central da capital paulista.

“Trabalhadores da Cinemateca reivindicam salários, uma definição, a inclusão dos trabalhadores, do corpo técnico. Queremos continuar trabalhando na Cinemateca. Vamos para quatro meses sem salário. Queremos a permanência da Cinemateca em São Paulo, permanência do quadro técnico especializado. O acervo corre risco, toda a instituição e os trabalhadores correm risco”, afirmaram durante o ato.


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