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De coronavírus, morre Aldir Blanc, um dos maiores compositores brasileiros

Artista estava com de 73 anos e escreveu algumas das canções mais famosas da música brasileira, como “O Bêbado e a Equilibrista”, “O Mestre Sala dos Mares” e “Dois pra Lá, Dois pra Cá”

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Vivendo os últimos anos recluso e em casa, Aldir Blanc deixa legado de letras que viraram ícones da cultura musical brasileira

São Paulo – Morreu na madrugada desta segunda-feira (4), no Rio de Janeiro, o cronista e compositor Aldir Blanc. Considerado um dos maiores letristas da história da música brasileira, ele tinha 73 anos e estava internado desde 15 de abril na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário Pedro Ernesto, para tratamento de covid-19. No dia 10, havia dado entrada no Hospital Municipal Miguel Couto com infecção urinária e pneumonia.

Aldir Blanc Mendes nasceu no bairro do Estácio, no Rio, em 2 setembro de 1946. Em 1996, ingressou na Faculdade de Medicina, especializando-se em Psiquiatria. Em 1973, abandonou a carreira médica para se tornar um dos mais importantes letristas da música brasileira. Mas já tinha música de sucesso, caso de Amigo é Pra Essas Coisas (com Sílvio da Silva Júnior), de 1970.

Uma de suas canções mais famosas, O Bêbado e a Equilibrista, feita em parceria com João Bosco, ficou eternizada na voz de Elis Regina e é considerada um ícone da luta pela reabertura política e pelo fim da ditadura civil-militar (1964-1985), um hino da anistia.

Ela, composição em parceria com César Costa Filho, foi gravada por Elis, em 1971. No ano seguinte, a cantora grava Bala com Bala, parceria com João Bosco, e a canção Agnus Sei é lançada no Disco de Bolso, compacto que acompanhava o jornal O Pasquim.

Outra composição marcante interpretada pela cantora é Querelas do Brasil, dele e de Maurício Tapajós. Mas Aldir tem uma série de obras fundamentais, em parceria com João Bosco, principalmente, como O Mestre-Sala dos Mares, Agnus Sei e De Frente pro Crime, O Rancho da Goiabada (com João Bosco). Assina músicas ainda com Moacyr Luz, Carlos Lyra, Sueli Costa e Cristóvã Bastos, entre outros.

Em 2013, o jornalista Luiz Fernando Vianna publicou o livro Aldir Blanc – Resposta ao Tempo (Casa da Palavra), com histórias sobre o compositor e as letras. “Morreu o cara mais parecido comigo que conheci na vida. Desde escrever com a canhota, torcer pelo Vasco e ser canhoto na vida. Vá em Paz, Aldir”, escreveu o violonista Guinga, parceiro em várias composições.

“Aldir foi embora… olha só, poeta… por que a pressa? Você era necessário para “Passar o Brasil a Sujo” (copiei o título de um de seu livros). Seus textos, sem frescuras ou salamaleques, iam fundo na carne dos indignos. Suas letras, principalmente as parcerias com João Bosco, entraram para a história. Ontem ouvimos uma música do Miltinho com versos seus. Chorei por nós que sentiremos a sua falta, poeta”, escreveu Aquiles Reis, um dos integrantes do MPB-4.

Assista a Elis Regina cantando O Bêbado e a Equilibrista:

Em 1973, Elis grava ainda várias outras músicas da dupla Bosco e Blanc, como O Caçador de Esmeralda e Cabaré e Comadre. Um ano depois, em outro LP, ela grava outros sucessos da dupla, como O Mestre-Sala dos Mares, Caça à Raposa e Dois pra Lá, Dois pra Cá. E em 1979, O Bêbado e a Equilibrista, um dos maiores sucessos de sua carreira, com versos sempre lembrados, como os finais: “A esperança equilibrista/ Sabe que o show de todo artista/ Tem que continuar”.

Aldir Blanc e a literatura

Ele foi conhecido também por criar e integrar associações ligadas à defesa dos direitos autorais. É um dos fundadores da Sociedade Musical Brasileira (Sombras) – responsável pela arrecadação de direitos autorais –, da Sociedade de Artistas e Compositores Independentes (Saci) e da Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes (Amar).

Também cronista, reconhecido por criar histórias e personagens que retratavam com humor o cotidiano da zona norte carioca. Morador da Tijuca, Blanc publicou vários livros, entre os quais Rua dos Artistas e Arredores (Codecri, 1978), Porta de Tinturaria (1981), Brasil Passado a Sujo (Geração, 1993), Vila Isabel – Inventário de Infância” (Relume-Dumará, 1996) e Um Cara Bacana na 19ª” (Record, 1996), com crônicas, contos e desenhos.