Arte engajada

MPB4 homenageia saúde e ciência. Zeca Baleiro arrecada fundos para compra de EPIs

Grupo vocal citou médicos, enfermeiros, coveiros e cientistas, além de criticar governo “insano”. Zeca falou de ambiente político “desolador” e pediu esperança

São Paulo – Duas lives realizadas na noite de sexta-feira (8) apresentaram artistas de diferentes gerações envolvidos no esforço do combate ao coronavírus. Começou com o MPB4, que exibiu show recente, com músicas atingidas pela censura, e prosseguiu com Zeca Baleiro, que ao vivo reuniu convidados com o objetivo de arrecadar fundos para compra de equipamentos de proteção individual (EPIs) para a rede pública de saúde do Maranhão, seu estado de origem.

Segundo Zeca, que começou sua apresentação pontualmente, às 20h, a live surgiu a partir de uma conversa durante a qual ficou sabendo da dificuldade de se conseguir material para os hospitais. “Por mais que os governos estejam fazendo, tem hora que a sociedade civil precisa arregaçar as mangas e entrar em campo também”, afirmou.

Com até 40 mil pessoas assistindo simultaneamente no YouTube, o show durou pouco mais de duas horas e teve vários convidados especiais, como o cearense Fagner, o paraibano Chico César – que vestindo uma camisa da Jamaica cantou Pedrada (“Cães danados do fascismo/ Babam e arreganham os dentes/ Sai do ovo a serpente/ Fruto podre do cinismo”) e a portuguesa Susana Tavares, que sem acompanhamento interpretou O Bêbado e a Equilibrista, lembrando de Aldir Blanc, que morreu nesta semana, autor da letra, com música de João Bosco.

Contra a censura

O secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, também apareceu para agradecer pela colaboração e pedir a quem assistisse para permanecer em casa. Zeca cantou inclusive músicas de outros autores, como Disritmia, de Martinho da Vila.

Já a performance do MPB4 teve tom mais politizado, a começar do título do show, Você corta um verso, eu escrevo outro, que vem da música Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, composta nos anos 1970. A arrecadação seria dividida entre o chamado Coletivo MPB14, que reúne 14 profissionais, que inclui os quatro vocalistas, duas cantoras, técnicos de som e luz, além de músicos, entre outros, e o Retiro dos Artistas.

Eram mil pessoas assistindo a partir das 19h, mas o número cresceu rapidamente e chegou a 5 mil. Começou com os quatro ao vivo fazendo uma saudação, tendo ao fundo a interpretação de Apesar de Você, de Chico Buarque.

Foi uma sucessão de composição parcial ou totalmente proibidas pela censura, durante a ditadura. Das clássicas Pra não Dizer que não Falei de Flores (Caminhando, de Geraldo Vandré) e Cálice (Gilberto Gil e Chico Buarque), até pérolas de Adoniran Barbosa (Tiro ao Álvaro) e de Odair José (Pare de Tomar a Pílula). As cenas dos shows foram gravadas no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, e no Teatro Municipal de Niterói, no Rio de Janeiro.

Solidariedade e esperança

Ao final, os quatro voltaram ao vivo, para as homenagens e críticas ao governo. “É pela certeza de sermos governados por um grupo de insanos que estamos aqui hoje”, começou Paulinho Pauleira. “É pelos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e a todos os que dão o sangue para salvar os pacientes, muitas vezes perdendo a própria vida, que estivemos aqui hoje”, continuou Dalmo Medeiros.

Por fim, os dois remanescentes da formação original. “É para aqueles que conseguiram sarar da covid-19 que cantamos com um sorriso de alívio e de felicidade”, disse Miltinho. “É pelos coveiros expostos ao triste trabalho de fazer desaparecer os corpos, tão invisíveis como o vírus, que agradecemos e por quem torcemos muito”, completou Aquiles. Eles pediram ainda um “caloroso aplauso” aos cientistas, que buscam uma cura.

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Zeca contou que, nesse período de pandemia, perdeu “três pessoas conhecidas próximas”. Citou ainda perdas recentes, não necessariamente relacionadas ao coronavírus, como Aldir Blanc, o ator Flávio Migliaccio, Moraes Moreira, o escritor Rubem Fonseca e Ciro Pessoa, um dos fundadores do grupo Titãs.

Não bastasse toda “pressão e apreensão”, Zeca disse que o ambiente político é “desolador” no Brasil. “Isso vai deixando a gente um pouco desolado, mas a gente tem que lutar com música, com arte, tentando criar um ambiente de alegria, de esperança e também de amor”, afirmou, fechando a noite com Telegrama.