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Babu Santana: ‘Mostrei na TV o prazer de ser preto e da favela’

Ator lamenta ataques à cultura brasileira e o desmonte da Ancine

christoffer pixinine/divulgação
christoffer pixinine/divulgação
Na visão de Babu Santana, é triste ver a sociedade tratar o artista como inimigo e critica o termo do presidente de que 'acabou a mamata'

São Paulo – O ator Babu Santana classifica sua vida como uma “luta para alcançar espaço e representar os seus. Em 20 anos de carreira, ele já protagonizou papéis importantes no cinema, com destaque para a cinebiografia do cantor Tim Maia (2014), que lhe rendeu o prêmio Grande Otelo de melhor ator no ano seguinte – ele já tinha recebido o troféu antes, em 2009, como ator coadjuvante em Estômago. Sua estreia no cinema foi bem antes, em 2002, no aclamado Cidade de Deus.

Entretanto, o artista recebeu muitos holofotes neste ano, ao participar do reality show Big Brother Brasil, na TV Globo. Apesar de não ter sido o vencedor, Babu levantou debates importantes, como a desconstrução da masculinidade tóxica, o racismo estrutural e as dificuldades de um ator nascido na favela para firmar uma carreira.

“Sempre sofri esses achaques da vida, porque sou um homem preto, da favela e ator. Nunca achei que meu perfil se enquadrasse naquele programa, então achei que era uma boa oportunidade de me colocar como referência. Eu pude mostrar, na televisão, o prazer de ser preto e da favela”, revelou. Babu cresceu no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro.

Sobre a desconstrução do machismo, o ator lembra que foi criado numa casa de matriarcas. Desde pequeno, a ajudava a mãe, Maria Rosa, nas tarefas domésticas. A ideia dela, segundo Babu, era evitar que crescesse reproduzindo estereótipos machistas.

“O último debate desse assunto foi sobre ser o provedor da família, porque tinha isso na cabeça e alimentava outras posturas machistas. Depois de ouvir minhas amigas feministas, entendi o quanto a masculinidade tóxica me fazia mal”, explica Babu.

Cultura

Desde a eleição de Jair Bolsonaro, a cultura se tornou alvo de ataques e desmontes por parte do poder público. A Agência Nacional do Cinema (Ancine), por exemplo, perdeu 43% do orçamento, em 2019. O órgão também vetou o apoio a filmes com temáticas LGBTs e pessoas negras. Na visão de Babu Santana, é triste ver o artista e arte tratados como inimigos da sociedade e critica a campanha contra a cultura promovida desde a campanha eleitoral do agora presidente, com o lema “acabou a mamata”.

“Que mamata, gente? Onde essas pessoas tiram que os artistas viviam em mamatas? No BBB, questionaram se minha dificuldade financeira era verdade. Artista não ganha dinheiro como esse povo pensa. Isso é uma terrível ignorância por causa do déficit educacional, que avaliam, sem estudo, a importância da cultura. Por isso não tenho raiva dessas pessoas, só pena mesmo”, lamenta.

Apesar do desmonte, o artista revela felicidade em ver cantores negros ascendendo no cenário músical, e cita os rappers Emicida e Djonga, além da cantora Iza. Para ele, a atual geração de músicos negros tem papel fundamental como referência para crianças pretas e faveladas.

“Eu lembro de um moleque que era meu vizinho e queria ser MC, mas era reprimido em casa. Agora você vê o Emicida e outros exemplos, viraram referência de que o sonho é possível. Não é fácil, principalmente pra gente, que é duas vezes mais difícil. Porém, esses artistas estão abrindo portas para que as pessoas sonhem”, acrescentou.


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