Em alerta

Teresa Cristina, a arte para enfrentar a vida. Ainda mais hoje em dia

Cantora acredita que música e poesia ajudam a preservar a saúde mental, lamenta o “insano” presidente e espera que a humanidade aprenda a lição

Reprodução Facebook
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A arte existe porque a vida não basta, lembra a cantora

São Paulo – Na noite de sexta-feira (27), Teresa Cristina e Mônica Salmaso se encontraram musicalmente em rede social, cantando Candeeiro, do repertório do grupo Semente.

Candeeiro
A estrada já vai escurecendo
Minha gente se olha e não tá vendo
Querosene acabou, vou lhe chamar, candeeiro
Querosene acabou, vou lhe chamar

Foi um encontro alegre, entre duas amigas – e piscianas, como lembrou Teresa, que é de 28 de fevereiro, enquanto Mônica é de 27. “Encontramos alento em nosso próprio canto”, escreveu a cantora carioca, em gesto de carinho para a colega paulista.

O alento vem do momento difícil que o país e o mundo atravessam – e o canto é fundamental. Teresa lembra de frase atribuída ao pensador alemão Friedrich Nietzsche, sobre a arte e a vida. “A arte sempre existiu porque a vida real não bastava, para que tivesse um sentido diferente”, diz a cantora, que participou na semana que passou do festival Fico em Casa, em que dezenas de artistas se apresentaram ao vivo. Eventualmente, ela também posta lives.

“Acho que levar arte até as pessoas, um pouco de distração, de abstração, é super importante para o nosso estado mental”, comenta Teresa, criticando o atual governo. “A gente está vivendo não só em quarentena, mas em alerta, porque nosso país está dominado por um louco, um insano. Então, além da preocupação com a saúde, a gente tem que se preocupar com o que o presidente pode fazer com a população menos assistida.”

Saúde mental

A cantora brincou com uma dessas transmissões recentes, em que o som ambiente aparece. “Engraçado, né? O que acontece com esses vídeos que a gente tem feito, cada um mostra sua realidade, sua verdade. A minha é essa, eu moro no subúrbio, no mesmo terreno nós temos três casas, e eu não posso anular a existência de ninguém. A minha live tem barulho de cachorro, tem pedreiro batendo, uma pessoa falando do lado… Eu não tenho aquele silêncio, aquela situação completamente favorável para gravar. Essa necessidade de levar um pouco de música e poesia sempre existiu em mim, por isso eu canto”, diz a cantora, criada na Penha, zona norte carioca.

Nos dias de hoje, conta Teresa, o primeiro cuidado é com a saúde mental. “Minha, da minha mãe, da minha filha. Não estou conseguindo lidar bem com os horários. Espero que eu consiga me adaptar a isso. Tenho dormido tarde, minha filha está dormido tarde, minha mãe também está com o sono completamente fragmentado, acorda de madrugada… Acho que isso tem a ver um pouco com nosso subconsciente. A gente não está completamente relaxado, mesmo estando em casa.”

Para espairecer, ela tenta ouvir muita música. “A leitura ainda não está conseguindo me pegar como eu gostaria, porque volta e meia eu tenho que ver alguma mensagem que chegou, tenho que fazer alguma coisa… Mas tenho procurado coisas que me dão prazer, a princípio, para manter alguma paz de espírito, para levar isso sem me deprimir”, conta.

Viver sem água não é de hoje

Ela acredita que a situação de pandemia vai evidenciar a condição de vida das pessoas. Como nas comunidades do Rio de Janeiro, com carências que não se devem à crise atual, mas parecem se perpetuar.

“Assim como eu vivo num terreno com três casas, e tenho esse monte de gente à minha volta, graças a Deus, essas pessoas que estão reclamando hoje que estão sem água no meio de uma pandemia, elas não estão sem água só hoje. Elas vivem assim”, lembra Teresa. “E isso não é notícia, porque não interessa a ninguém falar, que lá no Complexo do Alemão tá sem água. Pra que que as pessoas vão falar isso? Não interessa a ninguém, só interessa a quem mora lá. E eu acho que se prevenir de uma situação assim onde a higiene é necessária, onde você tem de lavar a mão a todo momento, sem água… Não consigo enxergar… Como se previne?”, questiona.

Aprendizado?

Ela espera que as pessoas se conscientizem com o passar do tempo, mas volta a manifestar reprovação veemente ao atual governante. “A gente tem um lunático, um genocida, não sei nem que adjetivo eu uso para essa pessoa. É um monstro. A impressão que me dá é que ele quer que todo mundo morra, só ele fique vivo, ou a família dele, não sei o que passa pela cabeça dele. É uma pessoa muito inconsequente e que não tem o mínimo de cuidado, de preocupação com as pessoas que o elegeram”, lamenta a cantora, citando ainda o recente pronunciamento presidencial em cadeia nacional. “A gente vai se informando, se informa pela televisão, aí vem um discurso desse idiota e desinforma todo mundo numa rapidez absurda”, critica.

Ela vê com ceticismo as ações do poder público. “As autoridades batem cabeça, né? O ministro da Saúde fala uma coisa, o presidente fala outra, os ricos pressionam… Não sei, hoje eu acordei bem pessimista. Acho que a gente está vivendo um momento de cada um por si, sabe?”, diz Teresa.

E a humanidade, sairá melhor dessa crise? “Só se ela aprender a lição”, afirma, ainda com algum ceticismo. “E a gente continua vendo pessoas ricas desdizendo, calculando quantas pessoas devem morrer para que ele continue tendo lucro, a gente continua vendo pastores, religiosos, gananciosos, preocupados com o bolso, com o dízimo, enchendo a igreja de gente, sem se preocupar se aquelas pessoas vão se contaminar…”

Na Itália, o governo aparentemente aprendeu a lição, mas talvez tardiamente, depois de um rápido crescimento de vítimas – até esta sexta, 9.134 pessoas haviam morrido. “Pena que tenha aprendido em cima de vários corpos, né? Eu não sei se uma cabeça como a do Bolsonaro, toda a corja que ronda ele, não sei se essas pessoas vão aprender quando os corpos começarem a aparecer, sabe? Eu espero que aprendam.”