Caymmi hoje e sempre

Péri apresenta ‘O Bem do Mar’, com canções da fase praieira do mestre Dorival Caymmi

Cantor e compositor baiano reúne em seu último álbum 15 músicas de Caymmi, interpretadas no formato voz e guitarra semi-acústica

João Quesado/Divulgação
João Quesado/Divulgação
Péri diz que Caymmi continua sendo um dos maiores influenciadores de todos compositores, autor de metáforas e construções que continuam atuais. "O que ele fala continua acontecendo, é um grito de alerta para todos"

São Paulo — O programa Hora do Rango desta terça-feira (10) recebe o cantor e compositor Péri, a partir do meio-dia, no estúdio da Rádio Brasil Brasil. O baiano lançou em outubro seu nonoº álbum, O Bem do Mar, com um repertório de 15 músicas da fase praieira da obra de Dorival Caymmi (1914-2008), que foram  gravadas numa versão voz e guitarra semi-acústica.

Apesar de terem nascido com meio século de diferença, Péri diz que desde a infância esteve ligado ao mar, a música e a Bahia, assim como pelo propósito de compartilhar com as pessoas a sua interpretação do mundo, tal qual o mestre da música brasileira homenageado no disco.

“Sempre senti que de alguma forma ele influenciou minha obra, minha atitude, minha visão de mundo como artista. O entendimento dele do mar e das pessoas do mar sempre me encantou e assim eu o mantive perto da minha necessidade de ser artista, de ser compositor e de também expressar meus sentimentos. Tomei Caymmi como uma inspiração, uma régua importante, um companheiro de jornada. Caymmi sabe tudo, é nosso eterno farol”, afirma Péri. 

Ele explica que estava começando a gravar um novo álbum autoral quando, no meio do processo dos arranjos, ficou burilando e tocando algumas canções de Caymmi, músicas da primeira fase dele, as chamadas canções praieiras, que retratam como Caymmi enxergava o mar e as pessoas de Salvador e do Recôncavo Baiano.

“Fui lembrando das canções, depois peguei song books, gravações antigas e aí esse sentimento foi tomando conta de mim e quando me vi estava parando a gravação do meu disco. Peguei a guitarra e comecei a gravar essas canções dele, estava dentro do estúdio. Caymmi se impôs, não me preparei pra isso, mas aconteceu, tomou conta de mim. E como diz outro mestre, Gilberto Gil, quando Buda Nagô toma conta e se impõe, não se vai contra isso. E então eu me deixei levar pela corrente de Caymmi”, explica.

O resultado é um álbum com canções como O Bem do Mar, que também dá o título ao disco, e pérolas como O mar, História de pescador e Milagre. Péri defende ser importante mostrar o quanto a obra de Caymmi é ainda atual. Segundo o cantor e compositor, Caymmi foi e continua sendo um dos maiores influenciadores de todos compositores que vieram depois dele, autor de metáforas e construções que continuam atuais.

“O trabalho, o tempo, as alegrias, desilusões, a relação com a natureza, o desafio da lida, o amor, a saudade, a esperança. Tudo o que Caymmi percebeu do mundo e de sua época se transporta até hoje. Não quis cantar uma simples interpretação lírica sobre o que é o mar, a natureza, um lugar idílico, uma Bahia que se foi com sua doçura, que talvez não exista mais, precisava entender o que ele quis dizer e ao mesmo tempo entender porque eu entendia que aquilo era tão atual e necessário, hoje. O que ele fala continua acontecendo, é um grito de alerta para todos, podemos entender isso e usar Caymmi para compreender o mundo e tentar transformá-lo, melhorá-lo. Essa foi minha epifania”, diz.

No programa, Péri contará ainda os planos a partir do lançamento do álbum, que incluem uma turnê nacional, começando pela Bahia e, depois, um giro internacional, com expectativa de se apresentar inclusive no Japão. “Pretendo interpretar essas canções em um show e talvez apresente também uma ou duas músicas da minha autoria para ilustrar de que forma um compositor pode influenciar outro compositor”, adianta.

O programa

Hora do Rango, apresentado por Colibri Vitta e premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), recebe ao vivo, de segunda a sexta-feira, ao meio-dia, sempre um convidado diferente com algo de novo, inusitado ou histórico para dizer e cantar. Os melhores momentos da semana são compilados e reapresentados aos sábados e domingos, no mesmo horário.